Na semana passada a Volkswagen apresentou mais uma versão de seu conceito elétrico I.D. Buzz, inspirado na Kombi. O conceito, desta vez, mostra uma possível versão comercial da van que será produzida em série em 2022. Na prática o I.D. Buzz será a sétima geração da Volkswagen Transporter, mais conhecida por aqui como a boa e velha Kombi. Poderíamos dizer, então, que o I.D. Buzz será a primeira Kombi elétrica feita pela Volkswagen… mas aí estaríamos errados. Pois na verdade a primeira Kombi elétrica foi feita quase 50 anos atrás. E ela chegou até mesmo a ser produzida “em série”!
O começo dos anos 70 foi um período conturbado para quem curtia carros e para a indústria automobilística. Foi quando aconteceu a crise do petróleo, fazendo a cotação do “ouro negro” disparar e todo o mundo. Foi quando muscle cars e esportivos em geral começaram a perder potência em favor da economia de combustível, mas outra coisa também aconteceu: as fabricantes de automóveis começaram a procurar alternativas à combustão interna de forma mais séria. E foi exatamente em 1972 que a VW apresentou a primeira Kombi a dispensar o já consagrado motor boxer arrefecido a ar.
Seu nome oficial completo era Volkswagen T2b Type 2150 Elektro-Transporter, mas ela também ficou conhecida como VW Elektro-Bus. Sua concepção era simples: o motor boxer 1600 de quatro-cilindros e 50 cv era substituído por um motor elétrico, posicionado no mesmo lugar e ligado à transmissão, com os componentes eletrônicos no compartimento de carga acima do cofre, e um conjunto de baterias no assoalho – solução usada por boa parte dos carros elétricos hoje em dia.
O motor elétrico era capaz de entregar 16 kW de potência, ou cerca de 22 cv, e era suficiente para levar a Elektro-Bus até os 75 km/h de velocidade máxima, levando 30 segundos para fazê-lo. Fazendo justiça, porém, o desempenho um tanto anêmico – que limitava o uso da Kombi elétrica a percursos curtos, dentro da cidade – não deve ser atribuído apenas ao motor.
As baterias da época, que eram de chumbo, eram pesadas e não tinham muita capacidade. Se uma Kombi normal, com motor a combustão interna, pesava 1.360 kg em ordem de marcha, a versão elétrica chegava a pesar 2.200 kg – não apenas por causa das baterias, mas também graças aos reforços estruturais necessários para acomodá-las. Somando a carga útil de 800 kg mais o peso do veículo, eram três toneladas. Sendo assim, além de ser um veículo lento, a Elektro-Transporter também tinha autonomia reduzida – de 50 a 80 km com uma carga, dependendo das condições de uso.
As limitações não impediram a Volks de realizar a conversão em uma pequena série de veículos entre 1972 e 1979 – cerca de 70 exemplares. Os primeiros foram entregues ao governo da cidade de Stade, para que a Volkswagen pudesse avaliar o desempenho do veículo a longo prazo. Além de instalar estações de carga estrategicamente posicionadas – onde uma Elektro-Bus tinha de ficar parada por horas – a Volkswagen e a prefeitura de Stade fizeram um acordo com a concessionária de energia RWE para instalar postos de troca de baterias, onde as baterias vazias eram substituídas por novas em questão de minutos.
A avaliação da imprensa a respeito da Elektro-Bus não foi exatamente animadora. Além de do baixo desempenho e das recargas demoradas, o alto custo também foi criticado: uma Kombi elétrica custava 60.000 marcos alemães, enquanto um exemplar convencional não passava dos 17.000 marcos alemães. Ainda que já estivessem sendo realizadas pesquisas com baterias de níquel-zinco, mais leves e eficientes (até mesmo a NASA estava envolvida), o programa foi cancelado em 1979, pois na prática os custos e a falta de praticidade anulavam os benefícios.
O anúncio do I.D. Buzz em 2022 porém, mostra que era questão de tempo. E o conceito é promissor: com visual retro-futurista, com certa dose de inspiração na primeira Kombi (a “Corujinha”), o I.D. Buzz usa um motor elétrico em cada eixo para uma potência combinada de 375 cv, movidos por um conjunto de baterias embutido no assoalho. A versão de maior capacidade tem 111 kWh, suficientes para uma autonomia de 482 km. E mais: usando o sistema de recarga rápida da Volks, o I.D. Buzz pode recarregar até 80% de sua capacidade em 30 minutos.
A versão de passageiros, a princípio, terá capacidade para sete pessoas, com assentos que podem ser posicionados em diferentes configurações. No entanto, há alguns dias a Volks apresentou o conceito I.D. Buzz Cargo, que tem chegada prevista para 2021 (um ano antes da versão de passageiros) que, além de levar três pessoas na dianteira, terá painéis fotovoltaicos (que convertem luz solar em energia elétrica) capazes de aumentar a autonomia do veículo em 15 km a cada 24 horas.
O compartimento de carga do conceito traz uma segunda fileira de bancos dobráveis com um laptop integrado. Além disso, a VW deu ao I.D. Buzz Cargo um sistema autônomo nível 4 – ou seja, teoricamente seria possível trabalhar no computador enquanto a Kombi do futuro te leva a seu destino. E a Volks já disse que seus veículos elétricos da linha I.D. serão mais acessíveis do que os modelos elétricos que estão atualmente no mercado.