Para muita gente, o Porsche 356 é o elo perdido entre o Fusca e o 911. Considerando o visual e o fato de ter um boxer de quatro cilindros na traseira, até que faz sentido. E o mais legal é que há uma bela cena de customização e preparação para o 356. E algumas criações são verdadeiramente incríveis, com desempenho esportivo como um 911, porém o visual clássico e elegante de um carro feito nos anos 50.
Um dos representantes mais legais desta cena foi criado por uma empresa americana, a Emory. Seu fundador, Gary Emory, começou a modificar o 356 no início da década de 1980 e nunca mais parou. E nem deveria, pois seus carros são um verdadeiro deleite para os olhos e ouvidos de qualquer fã de carros.
Gary é embaixador de um estilo de modificação que é conhecido entre os admiradores do 356 como “Outlaw”. A expressão significa, originalmente “fora-da-lei” em inglês mas, quando usada em referência ao Porsche, descreve um carro que foi modificado para ter melhor desempenho, mais conforto e um comportamento dinâmico ainda mais interessante — além, é claro, de receber um trato no visual. Tudo isso sem preocupação exagerada com originalidade, mas sem descaracterizar o 356 como um esportivo clássico.
Mas por que “Outlaw”? Simples: porque, na época, Gary foi um dos primeiros a modificar o 356 desta forma. O resto da comunidade estava mais para o que alguns chamam de “clube do frisinho”, e eram caras que se esforçavam ao máximo para manter o maior padrão de originalidade possível. Eles não gostavam muito dos carros de Gary, e por isso seus amigos começaram a chamá-lo de “fora-da-lei”. Ele ia contra as regras. Por isso, quando começou a atender clientes que procuravam algo diferente, Gary passou a colocar nos carros um emblema personalizado, que dizia “356 OUTLAW”.
Hoje em dia, seu filho Rod mantém a tradição. E este Porsche 356 1958, batizado como Emory Special, foi encomendado por um cliente em 2007 e é uma de suas criações mais famosas. Com razão.
O visual é o maior cartão de visitas do carro. Rod não limitou-se a remover os pontos de ferrugem e consertar imperfeições na hora de restaurar a carroceria — ele deu seu toque pessoal ao remover as calhas de chuva, construir uma nova coluna “B”, mais larga e inclinada, e instalar painéis removíveis nas laterais para acesso aos radiadores de óleo do motor. Os para-choques são removíveis e, quando está sem eles, o 356 fica parecendo um carro de corrida.
Detalhes: as tampas dos radiadores de óleo, o tanque de combustível na dianteira, a gaiola de proteção parcial, as cintas de couro
A pintura é impecavelmente preta e os emblemas foram reduzidos ao mínimo (escudo no capô e logotipos “PORSCHE” na dianteira e na traseira). Os retrovisores são cobertos, cada um, por uma capa, e ficam quase invisíveis quando se olha o carro rapidamente. As rodas são de alumínio billet, de 16”, calçadas com pneus 195/60, mas parecem rodas de aço — um belo contraste com a pintura reluzente.
O interior é limpo, com porta e bancos concha clássicos forrados com couro verde escuro (mesma cor do carpete). Os cintos são de quatro pontos. Francamente, não há muito mais o que dizer a respeito do visual — esteticamente, é tudo muito limpo e agradável aos olhos. Não mudaríamos nada.
Acontece que, mais do que a beleza, o que conta em um carro como este é a experiência ao volante. Neste quesito, o 356 Outlaw também não decepciona: o motor é um quatro-cilindros especial, feito com a mesma arquitetura do boxer do 911, porém com dois cilindros a menos. Desenvolvido em meados dos anos 80 pelo engenheiro californiano Deal Polopolus e batizado como “Polo 4”, o motor é um dos favoritos dos fãs do 356. O motivo era simples: com 2,5 litros de deslocamento, o flat-4 era quase tão potente quando o flat-6 de 3,3 litros do 911 na época.
No caso do Emory Special, estamos falando de 185 cv em um carro que pesa menos de 890 kg. É claro que ele anda bem — e ainda gosta de girar! Não há informações concretas a respeito do desempenho, mas isso é só um detalhe. O que interessa é a experiência, guiar com uma tocada animada e divertida, e a suspensão do Porsche 911 SC (McPherson na dianteira e braços semi-arrastados na traseira) garante a dinâmica exemplar. Jay Leno que o diga:
Felizmente, os Outlaws criados por Gary Emory e seu filho Rod são mais aceitos pelos fãs hoje em dia. Carros como o Emory Special podem não “preservar a identidade” do clássico 356, que está cada vez mais raro, mas certamente ajudam a manter sua memória viva.