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Car Culture

Entenda a evolução e o atual sistema de nomes da Mercedes-Benz (e AMG)

Houve uma época em que os nomes dos carros da Mercedes e BMW explicavam tudo o que você precisava saber sobre eles. BMW 323? Fácil, é um Série 3 com motor 2.3. Mercedes C180? Moleza: um Classe C com motor 1.8. M3? Esportivo da Série 3. C36 AMG? Classe C com motor 3.6 feito pela AMG. Simples, prático e racional, como uma boa criação alemã.

Infelizmente, com a evolução dos motores e a chegada do downsizing a partir do início da década passada, o negócio começou a desandar e tudo começou a ficar um pouco confuso. Para ajudar a organizar as coisas, vamos relembrar a metodologia da nomenclatura das duas marcas que consagraram esse sistema alfanumérico e mostrar como ele evoluiu até chegar onde está — e também explicar como tudo funciona hoje. Preparado para a salada de letras e números? Então vamos para a segunda parte, os nomes da Mercedes-Benz.

 

O início

Como você deve saber, antes de 1926 os Mercedes e os Benz eram carros diferentes, feitos por empresas diferentes e concorriam entre si nas ruas e nas pistas (contamos a história aqui). Na época a Daimler batizava seus carros de acordo com a potência dos motores: o Mercedes 40PS, por exemplo, era um Mercedes de 40 cv — PS é a abreviatura de pferdestärke, que é o jeito alemão de falar cavalo-vapor.

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A 100 quilômetros da Daimler, Karl Benz batizava seus carros com seu sobrenome seguido por uma combinação de três números. O primeiro era a “potência tributária”, calculada pelo governo alemão com base no número e volume dos cilindros dos motores dos carros na época. Os outros dois eram a potência real do motor do carro. Assim, o Benz 27/70PS estava enquadrado na faixa de tributação de 27 cv e seu motor produzia 70 cv. Este sistema também passou a ser utilizado pela Daimler a partir dos anos 1920.

Quando as duas empresas se fundiram em 1926, em vez de adotar um dos dois sistemas de nomenclatura, eles desenvolveram um novo sistema, baseado na cilindrada em vez da potência. A cilindrada seria arredondada e identificada em centilitros — ou o volume em litro multiplicado por 100 para chegar às três casas. Essa foi a base da nomenclatura Mercedes até 1997, com apenas alguns desvios ao longo destas seis décadas.

 

Nome = cilindrada

Os primeiro Mercedes-Benz a usar a nova nomenclatura foram o Typ 400 e o Typ 630, produzidos entre 1924 e 1929. Originalmente feitos pela Daimler, eles vieram ao mundo como Mercedes 15/70/100 e Mercedes 24/100/140. Quando a Daimler juntou-se à Benz, eles foram rebatizados como Typ 400 (abaixo) e Typ 630, em referência aos motores de quatro litros e de 6,3 litros (guarde este número, ok?). Depois, em 1927, vieram os Typ 200 e Typ 300, com motores de dois e três litros, respectivamente.

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Até o final dos anos 1960, as séries não eram diferenciadas especialmente por seu design, mas sim por sua motorização e porte. Não havia um Mercedes compacto com motor seis-cilindros, nem motores de quatro cilindros com a mesma cilindrada de motores de seis cilindros (nem motores de seis cilindros com cilindrada dos motores de oito cilindros).

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Mercedes Ponton: apesar da semelhança, são dois modelos diferentes. O de cima é o W121, modelo 190 (um ancestral da Classe E). O de baixo é o 220S, W180, equivalente ao atual Classe S

A nomenclatura funcionava: quanto menor o número, mais simples o carro, quanto maior, mais luxuoso. O modelo favorito do Führer, por exemplo, era o Mercedes-Benz 770. Já o modelo popular era o 170.

 

Letras em cena

Ainda nos primeiros anos da nova Daimler-Benz, a fabricante passou a adotar letras nos nomes de seus carros, embora de forma um pouco diferente daquela que usaria a partir da década seguinte. Em 1928 foi lançado o Mercedes-Benz SSK, batizado com a sigla de super sport kurz, ou super esportivo curto.

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Mercedes-Benz 710 SSK “Count Trossi”: esportivo curto e com motor 7.1

Outros modelos da mesma época usaram as letras S e K com significados diferentes: o S também passou a designar sonder (“especial”, para modelos de alto luxo), o K também designava os modelos com motor sobrealimentado (kompressor). Outras duas letras foram adicionadas à nomenclatura: a letra D para designar os modelos a diesel; e o L, usado tanto nos os modelos esportivos leves (leicht), quando nos modelos de chassi longo (lange) que não chegavam a ser uma limousine. Aliás, falando nelas, outro nome que também surgiu nesta época foi “Pullman” que designa as limousines da marca.

Com as letras designando as particularidades de cada carro, elas passaram a ser integradas aos nomes como forma de diferenciação. Um Mercedes 300 era um sedã, mas um Mercedes 300SL era um esportivo leve com o motor 3.0. Se fosse o 190SL, era um esportivo leve com motor 1.9. Se o 190 fosse acompanhado por um D, significa que ele usa motor diesel.

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300SL e 190SL: esportivos leves, o primeiro 3.0 e o segundo 1.9

Esse sistema alfanumérico com números seguidos de letras foi o padrão da Mercedes Benz até 1993. Os significados das letras neste período são os seguintes:

S: sport ou sonder. Usado para modelos esportivos ou especiais.
K: kompressor. Eram usados para designar modelos sobrealimentados por compressor. A exceção é o SSK, no qual o K significa kurz, ou “curto” em alemão.
L: leicht ou lange. Usado em esportivos significa leve (leicht), em sedãs designa os carros com chassi longo (lange)
R: rennen. Usado em modelos de corrida. Rennen é a palavra alemã para “corridas”.
D: diesel.
C: coupé.
E:
einspritzung. Usado nos modelos com injeção eletrônica (einspritzung, em alemão).
T: touring. Designa as peruas.
TE: touring einspritzung. Designa as peruas com injeção eletrônica.
SE: sonder einspritzung. Modelo de luxo com injeção eletrônica.
SEL: sonder einspritzung lange. Modelo de luxo, injetado e longo.
SL: sport leicht. Esportivo leve.
SEC: sonder einspritzung coupé. Usado nos cupês injetados de luxo.
SLC: sport leicht coupé. Usado nos cupês dos modelos SL posteriores ao 300SL.
Cabriolet: designa os conversíveis derivados de sedãs.
Pulmann: designa as limousines. O nome vem de uma antiga fabricante de vagões-leito para trens e também de bondes elétricos de rua.

Em quase sessenta anos de estrada estas siglas acabaram fortemente vinculadas aos modelos que as ostentavam e acabaram influenciando o sistema de classes adotado nos anos 1990. Mas antes disso é preciso entender por que o sistema de classes foi adotado. Isso tem a ver com…

 

Os desvios no caminho

O sistema era racional, mas ao longo dos anos houve situações em que a Mercedes achou melhor distorcer seu próprio sistema. Um destes casos foi o 600, seu modelo topo-de-linha entre 1964 e 1981. Apesar do nome, seu motor era um V8 de 6,3 litros. A Mercedes manteve o nome 600 em referência ao seu primeiro sedã de luxo dos anos 1920.

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Quatro anos mais tarde a Mercedes decidiu instalar o motor 6.3 no 300SEL, porém o nome 630SEL faria ele parecer maior e mais luxuoso que o 600 Pullman. Assim, o 300SEL foi batizado 300SEL 6.3. O mesmo aconteceu com o 230 dos anos 1970, que teve uma versão 2.3 de quatro cilindros e outra de seis cilindros. Sem letras no nome, a forma de diferenciá-los foi acrescentando um ponto e um número seis no modelo com mais cilindros, que ficou conhecido brevemente como 230.6. Também nos anos 1970 o 450SEL (sucessor do 300SEL) recebeu o V8 do 600 Pullman, porém com cilindrada ampliada para 6,9 litros. Novamente, para não lançar um modelo inferior com o nome 690SEL, a Mercedes o batizou de 450SEL 6.9.

Para complicar ainda mais, em 1981 a Mercedes lançou um modelo compacto para rivalizar com a Série 3 da BMW. Como os modelos médios 200 e 230 já usavam os menores motores de quatro cilindros da época (2.0 e 2.3) a marca trouxe de volta o nome da série 190 dos anos 1950 e assim nasceu o 190E — que ironicamente nunca usou um motor 1.9. Para diferenciar seus motores o 190E usava sua cilindrada em litros. Assim o 190E com motor de 1,8 litro era o 190E 1.8, o 190E com motor de 2,3 litros era o 190E 2.3 e assim por diante.

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O mesmo aconteceu com o modelo médio da marca lançado em 1984: seu nome seguiu o conceito de séries do irmão menor e trouxe de volta o nome 300 dos anos 1950 e 1960. O esquema de nomenclatura era o mesmo do 190E: o nome da série acompanhado da motorização. Como a série 300E tinha conversíveis, peruas e cupês, estas versões eram identificadas pelas tradicionais letras – 300TE para a perua, 300CE para o cupê e 300E Cabrio para o conversível. Nos modelos V8 os nomes eram 400E e 500E, e eles usavam motores 4.2 e 5.0.

Paralelamente, os modelos topo-de-linha e os esportivos continuavam com a nomenclatura antiga, usando a cilindrada seguida das letras de identificação. Isso continuou assim mesmo após a chegada da nova geração, em 1991, mas durou pouco tempo, pois em 1993 a Mercedes instituiu…

 

Um novo sistema de Classes

Em 1993, quando a Mercedes lançou o sucessor do 190E, a marca instituiu o novo sistema de Classes. O modelo compacto passou a ser a Classe C, o médio virou a Classe E, os antigos sonder se tornaram a Classe S. Os roadsters se tornaram a Classe SL, que perdeu a versão cupê mas ganhou uma versão compacta batizada SLK (agregando o K de kurz). Os modelos cupê ganharam classes próprias, o cupê grande, derivado do Classe S, era o CL e o cupê médio, derivado da Classe C era o CLK (também adotando o K de kurz).

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Diferentemente dos sistemas anteriores, as letras passaram a ser usadas antes do nome, para melhor assimilação da classe do modelo. Os números finalmente voltaram a designar a cilindrada arredondada em centilitros. Assim, o SLK230 é um roadster de 2,3 litros, o C200 se tornou o sedã compacto com motor 2.0. A antiga preparadora AMG foi incorporada e se tornou divisão esportiva, passando a batizar os carros com o mesmo sistema, porém com a cilindrada em decilitros. Nesse período as classes foram as seguintes:

Classe A: hatch compacto de tração dianteira
Classe B: hatch/MPV de tração dianteira
Classe C: sedã médio-compacto
Classe CLC: hatchback/cupê médio compacto
Classe CLS: cupê de quatro portas
Classe E: sedã médio
Classe G: utilitário
Classe ML: SUV
Classe GL: SUV de luxo
Classe GLK: crossover médio
Classe SL: roadster
Classe SLK: roadster compacto
Classe CL: cupê de luxo
Classe CLK: cupê compacto
Classe R: minivan
Classe V: van

Em 1998 a Mercedes lançou uma nova linha de motores modulares e, por algum motivo, desencanou de indicar a cilindrada nos nomes a partir dali. Naquele ano, por exemplo, o C240 e o E240 adotaram um V6 de 2,6 litros. Depois veio os primeiros downsizings: o C180 Kompressor, o C200 Kompressor e o C230 Kompressor passaram a usar o mesmo motor 1.8 com mudanças na taxa de compressão e na pressão de trabalho do compressor para obter potências diferentes. Em 2005 o C230 deixou de ser 1.8 sobrealimentado e se tornou 2.5 V6. Nessa mesma época os modelos C55 e CLK55 AMG usavam um 5.4, e não um 5.5. O S600 veio com um V12 de 5,8 litros nos primeiros anos e depois adotou um V12 5.5 biturbo — que foi usado em uma variação de seis litros no SL65 AMG.

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Licença poética

A maior das distorções desta época foram os modelos 63 AMG: eles eram identificados como 6.3 V8, porém o motor não era realmente um 6.3, e sim um 6.2 (6.208 cm³), mas a Mercedes os batizou como 6.3 em homenagem aos 6.3 do passado (lembra deles?).

Como se a confusão de motores não fosse suficiente, a Mercedes ainda adotou uma série de sobrenomes para identificar algumas particularidades:

4Matic: modelos com tração integral.
BlueTec: modelos diesel com tratamento de emissões.
BlueEfficiency: modelos com recursos de economia de combustível, como injeção direta, sistema start-stop e aprimoramentos aerodinâmicos.
CGI: charged gasoline injection; usado em modelos com injeção direta.
CDI: common-rail direct injection. Indica modelos a diesel com common rail.
Hybrid: indica modelos híbridos.
NGT: indica modelos movidos a gás natural.
Kompressor: indica motores sobrealimentados por compressor de polia.
Turbo: indica motores turbocomprimidos.
AMG Line: indica modelos com tratamento de acabamento e estético da divisão esportiva.

 

Ainda as Classes, mas tudo diferente

Esse sistema foi mantido até 2014, quando a Mercedes começou a replanejar sua linha de modelos para explorar o máximo possível de nichos. Para organizar tudo de forma mais racional e estabelecer uma relação entre os modelos, o sistema de nomenclaturas agora usa quatro classes como raiz do sistema (A, B, C, E e S), designando o porte, e outras três classes para designar modelos derivados com linhas próprias (G, CL e SL). A imagem abaixo é auto-explicativa:

New nomenclature Mercedes-Benz model series

Tendo no Classe G a origem de seus utilitários esportivos, todos eles serão designados pelas letras GL. O utilitário da Classe A é o GLA, da Classe C é o GLC, da Classe E é o GLE e da Classe S é o GLS. Se um dia a Mercedes decidir derivar um crossover da Classe B, ele será o GLB. Da mesma forma o roadster da Classe C (antes chamado de SLK) é o SLC e um eventual roadster da Classe E se tornaria o SLE. Se a Mercedes decidisse explorar todas as possibilidades de nomes, o quadro ficaria assim:

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Os nomes de versões também mudaram: BlueTec, BlueEfficiency, CGI etc foram substituídos por um sistema mais simples e direto como mostra a imagem abaixo:

New nomenclature Mercedes-Benz drive systems

Os números, tal como a BMW, deixaram de indicar a cilindrada, e passaram a identificar faixas de potência, porém sem relação direta entre os números.

 

E a AMG? E a Maybach?

Você notou que não há menção alguma aos modelos AMG nos quadros acima? É porque a divisão esportiva virou submarca, assim como a Maybach. Ambas agora chamam-se Mercedes-AMG e Mercedes-Maybach, o que significa que os esportivos não se chamam mais Mercedes-Benz C63 AMG, e sim Mercedes-AMG C63. Da mesma forma os modelos de luxo não são Mercedes-Benz S500L Maybach, e sim Mercedes-Maybach S500L.

Na AMG houve ainda uma segunda mudança: agora há apenas quatro nomes para os esportivos. Os modelos da Classe A, que usam motores de quatro cilindros, são identificados pelo número 45 — uma homenagem aos 45 anos da AMG na época do lançamento do A45, CLA45 e GLA45. Os modelos V8 usam o número 63: C63, CLS63, SL63, GLE63, S63 etc. Os modelos V12 usam o número 65: S65, G65 e SL65. O quarto nome identifica os modelos V6, anteriormente chamados AMG Line: C43, E43, SLC43, GLE43.

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Os modelos 63, 45 e 65 são 100% fabricados pela AMG e usam transmissão Speedshift, exclusiva da submarca. Os modelos 43 recebem apenas um tratamento estético, acerto dinâmico AMG e transmissão 7 ou 9 G-Tronic compartilhada com os Mercedes comportados. Os modelos AMG 63 ainda são oferecidos em duas versões: uma básica e uma S, com pouco mais de potência e alguns itens extras de série.

O AMG GT é o único modelo que não se aplica a estas regras por ser um modelo independente e próprio da Mercedes-AMG.

 

Espere aí… ainda não acabou!

Você deve ter notado que as gerações dos Mercedes são designadas por códigos como W220, W202, W196, W03 e afins. A letra W é apenas uma terminologia geral. A Mercedes usa um sistema “técnico” de códigos para cada tipo de carroceria. Felizmente este sistema permaneceu inalterado ao longo dos anos e por isso vai ser fácil compreendê-lo e memorizá-lo, se quiser:

W: wagen. Designa os sedãs, hatches e SUVs.
S: stationswagen. Designa as peruas.
C: coupé. Designa os cupês derivados de sedãs, hatches ou SUVs.
R: roadster. Designa os roadsters, mas não os conversíveis de quatro lugares.
A: cabriolet. Designa os conversíveis de quatro lugares derivados de cupês ou sedãs.
X: crossover. Designa classes derivadas de SUVs/sedãs/hatches.
V: verlängerte. Designa os sedãs alongados.
VF: verlängertes fahrgestell. Designa as limousines.
Z: projetos especiais. Usado até hoje somente SLR McLaren Stirling Moss.

Aqui é preciso cuidado para não confundir as iniciais com as classes. Por exemplo: S205 é o código da atual perua da Classe C, e não um Classe S. O V222 não é um Viano, e sim um Classe S atual com chassi alongado. Os códigos numéricos são definidos internamente e seguem critérios não divulgados pela Mercedes.