Com 3.850 metros e 10 curvas, o Autódromo Internacional Ayrton Senna – para os íntimos, Autódromo de Goiânia –, inaugurado em 28 de julho de 1974, é um dos mais velozes e desafiadores do Brasil. Com uma gigantesca reta de 1.000 metros, freadas fortes e desbalanceadas, longas curvas de alta e com raios variáveis, este é o tipo de pista old school que separa os homens dos meninos.
No dia 20 de junho a Lancer Cup competiu no circuito de Goiânia – a primeira vez fora do Velo Città. Isso significa que, além da corrida, houve o já famoso Evo Day, track day exclusivo para os modelos Lancer Evolution de todas as épocas. Com o Evo X John Easton de 340 cv de um lado, Ingo Hoffmann do outro e uma GoPro na mão, tive um estalo: registrar a pilotagem do alemão no ponto de vista dele, nesta pista fenomenalmente rápida.
O resultado épico vocês conferem aí embaixo: a vista em primeira pessoa do maior campeão da história da Stock Car brasileira. Não percam a última cena do vídeo: o contraste entre a derrapagem de lado e a serenidade ao volante – usando toda a pista – chega a ser desconcertante!
É espantosa a habilidade de Hoffmann de carregar velocidade para dentro das curvas, alongando a frenagem com trail braking em direção aos pontos de tangência e reacelerando com suavidade e decisão, fazendo todas as etapas da curva fluírem como uma só. Sem drama, sem movimentos bruscos, nada senão uma massiva velocidade de entrada, contorno e saída.
A sensibilidade de Ingo para andar no limite pode ser captada na relação entre a suavidade da movimentação das mãos com o intenso e contínuo cantar dos pneus em todo o passo de curva: do começo ao fim das variantes ele usa ao máximo a capacidade de aceleração lateral dos pisantes, sem arrastá-los. Fica pendurado no ponto de pico de aderência do ângulo de deriva dos pneus, tudo enquanto conversa com você no vídeo, como se tudo fosse fácil e simples…
O carro e o piloto
O Lancer Evo X se despede em grande estilo com a série final John Easton, exclusiva no Brasil (leia aqui nossa avaliação). Com remapeamento feito pelo lendário ex-chefe de equipe da Mitsubishi Ralliart (conheça sua história aqui), o motor 4B11 T/C 2.0 turbinado ganhou 50 cv (+17,2%) e 10,7 mkgf de torque (+28,6%), resultando em 340 cv a 6.500 rpm e 48 mkgf a 3.500 rpm.
O mapeamento do câmbio de dupla embreagem e seis marchas DSST também foi redesenhado ao ganho de força – e vale a observação da ótima programação no modo Super Sport: note como Ingo deixa as trocas no automático e o sistema funciona de forma quase telepática, trabalhando com informações colhidas de acelerômetros, sensores nas rodas e sistema de direção para sempre escolher a marcha adequada no circuito e não causar reduções ou avanços inconvenientes.
Uma das assinaturas principais dos Lancer Evo são os seus complexos diferenciais eletroidráulicos ativos, tanto o central (ACD – Active Centre Differential) quanto o de trás, que possui o famoso AYC (Active Yaw Control, ou “controle ativo de guinada”), que vetoriza torque e altera a capacidade de bloqueio do diferencial para alterar a dinâmica do veículo no passo de curva. Você pode conferir os sistemas trabalhando em sua plenitude na última cena do vídeo deste post, quando Ingo Hoffmann bota o Evo X John Easton de lado a mais de 150 km/h!
Complementam o conjunto dinâmico uma série de elementos em alumínio – teto, para-lamas dianteiros, capô, braços de suspensão –, rodas BBS 18 x 8,5″ forjadas calçadas com pneus Dunlop SP Sport 600 245/40 R18, amortecedores Bilstein e molas Eibach e freios Brembo, com discos de 350 mm e pinças de quatro pistões na frente e discos de 330 mm com pinças de dois pistões atrás. No nosso canal Rest in Power você confere toda a história do Lancer Evolution.
O cara atrás do volante dispensa apresentações. Ingo Ott Hoffmann, o maior campeão da história da Stock Car no Brasil: 1980, 1985, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1996, 1997, 1998 e 2002 – entre 1989 e 1994, monopolizou os títulos da categoria. Entre 1979 e 2008, correu na Stock de Opala, de Omega e dos protótipos V8 Vectra, Astra e Lancer, além de ter participado de seis GPs de Fórmula 1 pela equipe Copersucar-Fittipaldi entre 1976 e 1977. Seu currículo acumula participações em diversas outras categorias, como a Super Vê, F2, F3, F5000, as épicas Divisão 1 e Divisão 3, e provas de longa duração, como os 500 km de Interlagos.
Atualmente Ingo é o Coordenador do Mitsubishi Drive Club e participa ativamente como um dos instrutores do curso de pilotagem Premium Racing School, além de ser o responsável pela equalização dos Evo R e RS da Lancer Cup.
Mas o lado mais curioso da história de Ingo no automobilismo – e certamente a que vocês mais irão se identificar – está justamente em seus primeiros anos, até mesmo antes do início da carreira. Quando a grana era pouca, o sonho era distante mas sobravam determinação e histórias insólitas.
Tudo está detalhado de forma rica e saborosa na biografia autorizada “Ingo”, escrito pelo jornalista Thiago Mendonça com base em 25 horas de depoimentos do piloto. Os acampamentos em Interlagos para assistir as Mil Milhas na década de 1960, as primeiras experiências ao volante de um carro (Kombi e Fusca) com direito às clássicas saídas escondidas dos pais, o dia em que apresentou aos seus pais o sonho do automobilismo (na véspera de sua primeira corrida, Festival do Ronco, em abril de 1972, a bordo do Fusca 1500 “22”), o primeiro patrocínio, os desafios, desventuras e sucessos de enfrentar pilotos bem mais experientes e conhecidos quando se aventurou pelas categorias Divisão 1 e 3.
Além, é claro, de todas as nuances dos desdobramentos profissionais da sua carreira, incluindo o seu primeiro contato com o leviatã Nürburgring Nordschleife, com um Ford Escort RS de rua, em 1976 – poucas semanas antes do quase-fatal acidente de Niki Lauda na Fórmula 1. Ele voltaria à pista no ano seguinte, para competir de Fórmula 2 na equipe Project Four, de Ron Dennis – uma das passagens mais divertidas do livro.
A leitura é diversão pura e é uma bela maneira de você compreender toda a água que passou embaixo da ponte até chegarmos ao momento do vídeo deste post. Ele custa cerca de R$ 40 e você pode comprá-lo na , ou na livraria de sua preferência.
Instituto Ingo Hoffmann: ajude esta missão nobre
O câncer infantil é uma das mais enfermidades mais duras físico e emocionalmente. Frequentemente mais agressivo que o câncer adulto, afeta uma em cada 600 crianças de até 15 anos de idade, resultando em uma média de dez mil novos casos por ano – Leucemia é o tipo mais comum, atingindo os pequenos de entre apenas dois e cinco anos de idade.
O tratamento ao câncer infantil evoluiu bastante nos últimos anos, mas além do cuidado médico, a presença e o carinho familiar são absolutamente essenciais para se ampliar a possibilidade de cura. A Casa da Criança e da Família, projeto do Instituto Ingo Hoffmann, localizada em Campinas (SP), oferece exatamente estas duas coisas: formada em 2007 em parceria com o Centro Infantil Boldrini, referência no tratamento do câncer infantil, a Casa oferece todo o suporte para que o tratamento seja feito da forma mais acolhedora possível.
A estrutura possui seis mil m² e capacidade para hospedar até 30 famílias, oferece transporte, acompanhamento escolar, emocional, alimentação balanceada, brinquedoteca, biblioteca e diversas atividades, além de palestras e orientação profissional aos familiares. Até hoje, quase 2.000 pacientes já foram atendidos.
Fica o nosso pedido: assista ao vídeo lá de cima (além de mostrar a estrutura do local, Hoffmann fala um pouco sobre a história e as motivações que o levaram a criar o projeto), para espalhar a causa e, caso seja possível, colabore (links diretos: (depósito no Bradesco ou boleto), ). Para manter a chama da divulgação acesa, nós do FlatOut cedemos um bom espaço de nossas peças publicitárias para o Instituto Ingo Hoffmann – vocês verão estas peças, que estamos criando neste momento, muito em breve em todo o site.