A última Ferrari a sair da fábrica com câmbio manual foi uma California, em 2010. O a caixa manual era opcional – de série a Ferrari California vinha com uma transmissão de dupla embreagem e sete marchas. Apenas três pessoas encomendaram seus exemplares com câmbio manual.
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como , , e muito mais!
Bem antes disto, já na década de 1990, com a F355, a fabricante começou a oferecer o câmbio eletro-hidráulico “F1”, de seis marchas, com a embreagem acionada automaticamente e as trocas realizadas por aletas. Os modelos seguintes, como a 360 Modena e a F430, até que na 458 Italia o câmbio manual foi abolido de vez.
No caso da F430, que foi fabricada entre 2004 e 2009, apenas uma pequena parcela foi equipada com três pedais – e estes carros, atualmente, custam até 30% a mais que suas contrapartes com câmbio F1 no mercado de usados. É por isto que uma companhia chamada European Auto Group – que, apesar do nome, fica no Texas – está ganhando notoriedade por converter exemplares automatizados da F430 para transmissão manual. Sua última criação, porém, é ainda mais interessante: trata-se da única 430 Scuderia com câmbio manual que existe no mundo.
A 430 Scuderia era a versão mais leve e potente da F430, apresentada em 2007. Com menos itens de conforto e acabamento mais simples – trocando, por exemplo, os os revestimentos de couro e Alcantara por fibra de carbono nua – a 430 Scuderia pesava 1.429 kg, contra 1.517 kg da F430 comum. Já o motor V8 de 4,3 litros passava de 490 cv para 510 cv, às mesmas 8.500 rpm. E o câmbio, bem… ao contrário da F430, a Scuderia só veio com câmbio automatizado. Não se sabe quantos exemplares da Scud foram feitos – estimativas variam entre 1.500 e 3.000 entre 2007 e 2009 – mas é certo que nenhum deles tinha três pedais.
E o mesmo vale para o exemplar fabricado em 2008 que foi convertido pela EAG. O carro começou sua vida com a caixa automatizada F1 de seis marchas. Mas agora, nas mãos dos texanos, tornou-se a única 430 Scuderia com câmbio manual que existe no mundo. E isto não deverá mudar tão cedo, se depender deles.
Para realizar suas conversões, a EAG utiliza a maior quantidade possível de componentes originais Ferrari, comprados diretamente com a fabricante – o trambulador, a alavanca de câmbio, a grelha e a caixa de pedais. Entre as poucas partes que tiveram de ser feitas sob medida está a moldura da alavanca, necessária porque o console central da 430 Scuderia é mais baixo. Na F430, por outro lado, é virtualmente impossível distinguir um carro convertido de um carro que veio de fábrica com o câmbio manual – todas as peças usadas são originais Ferrari, e a única maneira de identificar a “farsa” é conferindo o número do chassi.
A parte mais complexa do serviço é reprogramar a ECU do carro. Não é só conectá-la a um computador e digitar códigos (algo que já é complexo por si só): é preciso também trocar alguns pinos de lugar, e qualquer erro milimétrico pode levar à perda daquela placa. E uma peça de reposição não é barata.
No caso da 430 Scuderia, a missão fica ainda mais complicada porque, além do software responsável por gerenciar o câmbio, há também instruções para o sistema de ignição que servem, especificamente, para fazer a conexão entre o motor V8 e a transmissão eletro-hidráulica. De acordo com a EAG, o maior desafio é reprogramar a ECU para “entender” as trocas manuais, permitindo que o carro rode sem qualquer prejuízo ao desempenho – e só eles conseguem realizar esta proeza, por enquanto.
Quem já teve a oportunidade de testar a 430 Scuderia manual, como Matt Farah, do canal The Smoking Tire, diz que o carro simplesmente se transforma. Não em desempenho, mas em envolvimento: o motor naturalmente aspirado parece ter sido feito pra operar com três pedais: a entrega de força é linear até o ponto mais alto da curva de potência, a partir do qual é possível esticar em sexta marcha até as 8.500 rpm, chegando aos 319 km/h.
O tempo de zero a 100 km/h, originalmente de 3,6 segundos, talvez fique um pouco mais alto sem as aletas atrás do volante, mas o que se perde em aceleração, se ganha na experiência como um todo.
A EAG continua oferecendo a conversão para a F430 comum, e garante que o preço é mais atraente do que o valor extra pago por um exemplar manual de fábrica. Isto porque, embora ainda seja complexo, o serviço na F430 não inclui a reprogramação do ponto de ignição. Além disso, eles querem manter a exclusividade do carro por mais algum tempo – o que é perfeitamente compreensível.
Agora, não precisa se desesperar: a única 430 Scuderia manual que existe no mundo está à venda por módicos US$ 289.900 – quase R$ 1,15 milhão em conversão direta. Para se ter ideia, uma 430 Scuderia all-stock geralmente custa menos de US$ 200.000 (R$ 790.000, aproximadamente).