Para comprar uma das edições especiais da Ferrari não basta querer e poder, você precisa convencer os italianos de que você merece ter aquele carro. E como bons italianos, a Ferrari parece bem temperamental em seus critérios de escolha dos compradores destas versões especiais, visto que nem mesmo compradores da F50 e da Enzo tiveram acesso garantido a uma das LaFerrari. Então imagine o tipo de relacionamento que você precisa ter com os caras para poder levar para casa uma mula de testes da LaFerrari.
À primeira vista parece uma 458 com pintura preta e fosca e, bem, ela é mesmo uma 458 preta fosca, mas no lugar do V8 de 4,5 litros, o cofre da macchina tem um V12 aspirado de 6,3 litros, código F140, mais conhecido como “motor V12 da LaFerrari”. E ela agora está no acervo particular de um colecionador da Ferrari, membro do programa Clienti Corse. Ao menos é o que ele diz.
Como quase tudo o que envolve a Ferrari e seus clientes bilionários, há poucas informações a respeito do carro, mas juntando as informações espalhadas por aí conseguimos montar uma história plausível.
Tudo começou em dezembro de 2016, quando o colecionador, conhecido apenas como gregb.23, publicou em seu perfil no Instagram um par de fotos de uma Ferrari misteriosa, coberta por uma capa vermelha em um salão que parecia ser o Ferrari Atelier, onde os clientes que encomendam personalizações recebem seus carros. Nas legendas das fotos, gregb.23 dizia “Feliz Natal. Adivinhe o carro. Dica: não é V8” e “Feliz Natal Parte 2. Adivinhe o carro. Dica: não é V8 nem uma LaFerrari”.
Apesar da insistência do público para que o carro fosse revelado, gregb.23 jamais deu a resposta de sua charada de Natal. Alguns seguidores chegaram a sugerir que aquela seria uma 458 Italia com o motor V12, uma vez que a Ferrari usou mesmo as 458 para desenvolver o powertrain da LaFerrari — da mesma forma que colocou o V12 da Enzo numa 348 esticada.
Mesmo assim, gregb.23 manteve-se em silêncio sobre o misterioso carro coberto, limitando-se a publicar uma foto do motor F140 através da cobertura de vidro do carro algumas semanas mais tarde. Com ela ficou claro que se tratava de uma 458 Challenge equipada com o motor V12 da La Ferrari.
Na semana passada uma discussão sobre o carro voltou a emergir no fórum Ferrari Chat, aparentemente depois tque gregb.23 voltou a mostrar mais do carro em seu perfil no Instagram. Desta vez, foram duas fotos: mais uma da traseira do carro e outra da cabine da 458 em questão. Em ambas ele perguntou “o que acham da 458 V12?”.
Com exceção do motor exibido pela cobertura traseira, há somente duas pistas que indicam que esta não é uma 458 comum: a saída tripla de escape (na Challenge são duas) e os botões circulares no console central, para desativação emergencial dos sistemas de alimentação do carro onde originalmente fica o sistema de supressão de incêndio da Challenge. Além disso, ela usa o painel e o volante da 458 Italia, em uma combinação única como somente os protótipos e mulas de testes têm.
Com poucas informações sobre o carro em si, é evidente que seu desempenho só pode ser estimado por comparação. Então considere os seguintes fatores: o motor V8 F136 da 458 Italia pesa cerca de 210 kg, enquanto o F140 da LaFerrari chega perto dos 280 kg. Por outro lado, o V12 desta 458 Italia não tem o sistema híbrido, que pesa cerca de 145 kg. Assim, este protótipo deve pesar pouco mais que os 1.530 kg de uma 458 Speciale, chegando perto dos 1.585 kg da LaFerrari em ordem de marcha. Com 800 cv produzidos pelo V12, podemos dizer tranquilamente que este protótipo vai de zero a 100 km/h entre 2,5 e 2,9 segundos e chega a uma máxima superior a 340 km/h, com base no desempenho da 458 Speciale, de 605 cv e da própria LaFerrari.
A discrição de gregb.23 sobre o carro não mostrou muito mais que isso, mas o carro tem todas as características do protótipo M5 da LaFerrari, de 2011, que foi exibido no Museo Enzo Ferrari até meados de 2016. Veja só:
O que ainda não se sabe — e talvez nunca saberemos — é se a Ferrari topou fabricar uma 458 V12 para seu cliente especial ou se ele simplesmente convenceu a fabricante a vender a ele um dos protótipos da LaFerrari. Apesar de ter sido exposto no Museo Enzo Ferrari, o protótipo não é algo tão significativo para ser guardado em um acervo permanente — diferentemente dos primeiros conceitos e protótipos do hipercarro, estes sim invendáveis e com uma grande importância histórica.
Tanto é verdade que normalmente a Ferrari desmancha os protótipos depois da etapa de desenvolvimento. Além disso, da mesma forma que a Ferrari não se importou em se desfazer da mula de testes da Enzo, porque ela se importaria em vender uma 458 com um motor V12 da LaFerrari? Especialmente uma que não pode ser usada em vias públicas por não ter um VIN para efeitos de registro e licenciamento.