Se tem uma coisa que irrita profundamente qualquer entusiasta é um risco novo na lataria do seu carro. É claro que só não está sujeito a este tipo de coisa um carro que nunca sai da garagem, mas ver que alguém raspou no seu carro estacionado ou que algum moleque passou uma chave por toda a lateral do seu possante. Às vezes um polimento resolve mas, dependendo da profundidade do risco, só uma repintura pode recuperar a lataria.
É por isto que, em vez de pintar, há quem prefira envelopar um carro – além de modificar a cor da carroceria de uma forma mais prática, rápida e barata, o envelopamento acaba protegendo a pintura contra estes danos mais leves. E você pode até envelopar com filme transparente. Isto costuma ser feito em carros mais caros, pelo menos nos para-choques e para-lamas, para proteger a pintura das peças de pedrinhas e outros detritos que possam ser atirados contra o carro quando o mesmo está em movimento. Quando estiver feio demais, é só retirar a película, limpar e polir a superfície pintada e aplicar uma nova película.
Mas que tal uma película que dispensa trocas, e que se “regenera” sozinha para esconder os riscos? Isto existe, e parece bruxaria.
Os riscos feito no filme aplicado sobre a carroceria com uma escova de aço desaparecem com o calor. Pode ser um secador de cabelo, o calor do sol ou água quente, e o efeito é praticamente instantâneo. É como se a água lavasse os riscos da película. Acontece que a maioria das coisas que parecem bruxaria ou mágica pode ser explicada com ciência. Neste caso, não é diferente.
Jason Fenske, apresentador do excelente canal Engineering Explained, decidiu demonstrar. Para isto, ele aplicou o filme em seus dois carros – um Honda S2000 (um dos esportivos mais incríveis de todos os tempos) e um Subaru Crosstrek (crossover feito com base no Subaru Impreza).
Fenske usa uma escova de metal para fazer um risco na pintura do Subaru (ele não tem coragem de fazer o mesmo no S2000…). É doloroso ver o risco sendo feito, mesmo sabendo que há uma película protetora ali.
Um filme transparente autoadesivo normal seria removido e, com ele, o risco. No entanto, outra película teria de ser aplicada para manter a área protegida. No entanto, ao usar um soprador de ar quente ou mesmo água quente, o risco desaparece e fica impossível saber que a superfície foi riscada.
Primeiro, devemos confessar uma coisa. A película, chamada XPel Ultimate, na verdade não é regenerativa. Na verdade, sua capacidade de esconder riscos vem de duas características: resistência e elasticidade.
A película é composta por três camadas, mais um filme protetor. Este filme protetor é feito de poliéster, tem 0,076 mm de espessura e é removido no momento da aplicação, depois que o carro já foi limpo e seco. A primeira camada é de adesivo plástico, com 0,040 mm de diâmetro, que é muito mais forte na área contato com a película, e permite que a mesma seja removida com facilidade sem deixar vestígios de cola. A segunda camada, de poliuretano, é a responsável pela proteção da carroceria, com 0,152 mm de espessura.
Esta segunda camada é porosa e, por isto, sua eficácia teoricamente tem prazo de validade. Como o poliuretano é poroso, sujeira e impurezas podem se acumular nele e torná-lo amarelado e fazer a película se soltar. Por outro lado, é justamente esta porosidade que ajuda o material a proteger a pintura de riscos: quando algo é pressionado contra a película, a energia deste objeto é dissipada ao longo da camada de poliuretano, o que evita que a pintura do carro seja atingida.
A terceira camada é que torna a proteção permanente. Trata-se de uma camada de verniz transparente de 0,013 mm que impermeabiliza a película e também oferece certo nível de elasticidade. É isto o que possibilita o “desaparecimento” dos riscos.
Ao ver uma escova de aço sendo esfregada contra a película, temos a impressão de que a mesma se rasgou ou se rompeu, danificando-se no lugar da pintura. Na verdade, porém, não é isto o que acontece: não há qualquer dano e, se houvesse, seria permanente.
O que acontece com a película é uma simples deformação. Ela é forte o bastante para não se romper, mesmo que se aplique uma quantidade considerável de pressão com um objeto pontiagudo; e elástica o bastante para retornar à sua forma original quando aquecida.
E não precisa ser necessariamente uma fonte de calor próxima: se você deixar o carro estacionado sob o sol, o calor vai aos poucos fazer com que a película se recupere das pequenas deformações.
Em questão de minutos, no máximo horas, os riscos vão desaparecer. E como, no total, a película tem menos de 0,3 mm de espessura e é 100% transparente, é praticamente impossível saber que um carro foi envelopado até te contarem. E é preciso olhar bem de perto.
É claro que não custa barato. Um pedaço de XPel Ultimate de tamanho suficiente para cobrir o para-choque dianteiro de um esportivo moderno, como uma Ferrari 488 GTB ou um Porsche 911 991, por exemplo, custa o equivalente a R$ 2.000. Se quiser cobrir um carro mais antigo, ou uma área maior, é preciso fazer recortes sob medidas, o que pode elevar o preço do serviço em até dez vezes.