A gente sabe apreciar um bom project car, afinal carros modificados e preparados são peça fundamental da essência do FlatOut. Mas a gente não está falando apenas daquele carro com visual bacanudo e veneno no motor. Certos projetos têm seu apelo na beleza, na criatividade, ou simplesmente por serem improváveis, mesmo que não sejam práticos ou voltados ao desempenho. Alguns projetos podem até ser considerados arte sobre rodas.
É o caso desta picape Plymouth 1939 que recebeu um motor radial de avião e diversos elementos que remetem ao universo aeronáutico. Ela podia ter recebido um V8 Hemi, por exemplo, mas isto seria comum demais.
Ao menos era isto que achavam Gary Corns e seu filho, Adam. A família é dona de um ferro-velho de 160.000 m² em Eglewood, Colorado, com centenas de veículos e milhares de peças à disposição. O ambiente perfeito para sujar as mãos de graxa, e é exatamente isto que eles fazem.
A picape Plymouth estava parada na garagem dos Corns havia pelo menos 30 anos quando, em 2015, Gary encontrou um hidroplano da década de 1950 em um cemitério de aviões nas redondezas. Naquela época, antes da adoção das turbinas, a indústria aeronáutica ainda utilizava muito os motores radiais.
Com pistões reciprocantes dispostos como raios em uma roda, os motores radiais também são conhecidos como “motor estrela” em algumas línguas (Sternmotor em alemão e moteur en étoile em francês, por exemplo) devido a seu formato. O motor radial encontrado por Gary era um Jacobs de sete cilindros, 12,4 litros e 300 cv, arrefecido a ar. E funcionou na primeira partida. Gary soube imediatamente o que fazer com ele, e comunicou ao filho.
Adam sempre foi fascinado por aviões, então gostou da ideia de colocar o motor radial na picape e fez questão de que ela fosse toda personalizada com temática aeronáutica. A ideia inicial era correr com ela nas planícies de sal de Bonneville, e eles até já a levaram para lá, como mostra este vídeo da picape na garagem de Jay Leno:
A carroceria da picape foi removida e colocada sobre uma estrutura tubular feita sob medida. Isto permitiu que a dianteira fosse estendida em alguns centímetros para acomodar o novo motor e o sistema de transmissão.
Este é uma adaptação interessante: uma correia de Kevlar de 7,5 cm de largura conecta o virabrequim a um diferencial do tipo V-Drive, usado em barcos, que por sua vez é ligado à transmissão (uma Turbo 400 automática de três marchas) por um eixo cardã. De acordo com Adam, a picape roda normalmente, como se tivesse um V8 na dianteira. A esmagadora maioria dos componentes utilizados na adaptação foi encontrada no próprio ferro-velho da família ou construída na oficina por eles mesmos.
O mesmo vale para a carroceria e o interior, que são tão impressionantes quanto a visão dos cilindros brotando da picape. Por dentro e por fora, os painéis metálicos são unidos por rebites à mostra e não há pintura – visual diretamente inspirado pela fuselagem dos aviões da Segunda Guerra, com direito a inscrições à mão na carroceria (como os nomes de Gary e Adam como “piloto” e “co-piloto” e o deslocamento do motor em polegadas cúbicas, 757) e luzes de navegação verde e vermelha – que, aliás, são utilizadas até hoje.
A caçamba, que foi selada, abriga o tanque de combustível, e as rodas são completamente fechadas como nos recordistas de Bonneville na década de 1930.
Por dentro, o nível de detalhes impressiona ainda mais. O interior é completamente customizado, com bancos de metal usados em aviões, dois “volantes” aeronáuticos (referência a um cockpit clássico) e alguns elementos decorativos, como uma hélice sobre os encostos de cabeça e um sistema de comunicação no topo do para-brisa. Até mesmo os revestimentos das portas são de metal, com um emblema “Plymouth Air” gravado em baixo relevo. O painel de instrumentos é feito sob medida, bem como o console central que, como você deve ter deduzido, simula os controles do cockpit de um avião.
A picape ainda não correu em Bonneville pois os dois eventos nos quais foi inscrita este ano acabaram cancelados. Mesmo que ela não fique entre os recordistas, certamente fará bonito sobre o sal do deserto.