A versatilidade da primeira plataforma Volkswagen — o chassi do Fusca, com um flat-4 refrigerado a ar na traseira — foi extremamente versátil nas primeiras décadas da fabricante, servindo como base (por vezes, aperfeiçoada) para váarios outros modelos. Um deles foi a Variant, versão perua do VW Type 3 (ou VW 1600), lançada em 1961. Primeira station wagon da marca, a Variant foi tão tradicional que, até hoje, quase todas as peruas da VW recebem o sobrenome Variant.
Talvez você já saiba porque o carro da foto acima é diferente da Variant daquele tiozinho da sua rua, com frente de Brasilia. Trata-se do modelo alemão, conhecido como Squareback (literalmente, “traseira quadrada”). Algumas unidades da Variant e do cupê TL alemães foram importadas para o Brasil no início dos anos 1960, antes que a VW nacional desenvolvesse seus próprios modelos com base neles.
O motor da Variant (e do TL) é o chamado boxer plano: a ventoinha de refrigeração era fixada diretamente ao virabrequim, permitindo que o motor fosse mais baixo do que aquele utilizado no Fusca e, consequentemente, permitindo que a perua tivesse um porta-malas traseiro relativamente grande. Mas isto é só uma curiosidade, porque a Variant desta foto não é uma Variant comum. Se você abrir o compartimento do motor, vai topar com o tanque de combustível. No entanto, se abrir o porta-malas dianteiro…
Sim, isto é um V8 small block Chevrolet de 350 pol³ (5,7 litros), um dos V8 mais comuns de se encontrar nos EUA — é praticamente o VW AP dos americanos: fácil de encontrar, acessível e repleto de componentes de preparação aftermarket disponíveis. Não foi à toa, portanto, que o dono desta Squareback 1964 optou pelo SBC para transformar a perua em um verdadeiro sleeper.
Antes que os puristas comecem a se descabelar, é preciso deixar algo bem claro: o criador desta pequena heresia partiu de um carro que não estava lá muito inteiro — havia pontos de ferrugem espalhados por todo o carro, a pintura estava longe de apresentável e o conjunto mecânico original certamente já havia entregue os pontos. Nada mais justo do que dar ao carro uma nova vida, com um novo motor — bem mais potente que o original, diga-se.
Obviamente, não foi fácil. Para começar, o chassi original foi trocado por outro, feito sob medida, usando tubos de perfil retangular de ferro e um eixo rígido Ford na traseira e suspensão dianteira do tipo McPherson, vinda de um Mustang II. O motor V8 350 foi montado na dianteira, porém o mais recuado possível a fim de não comprometer a distribuição de peso do carro e dar espaço para o radiador. Por isso, a parece corta-fogo precisou ser modificada para acomodar o motor e a transmissão automática de quatro marchas.
Uma das maiores preocupações foi o espaço para as pernas. De fato, o túnel central feito sob medida é bem maior do que o original. A solução encontrada foi aumentar o comprimento da coluna de direção, recuando o volante e os bancos dianteiros. Além disso, os pedais originais, fixados no assoalho, foram trocados por pedais suspensos, o que supostamente melhora o espaço para as pernas (ainda que os pedais do acelerador e do freio sejam estranhamente separados).
Olhando fotos do interior, o carro ainda parece meio apertado, mas o dono garante que o carro é bastante confortável para um Volkswagen refrigerado a ar fabricado há 51 anos. De fato, o interior parece bastante aconchegante e funcional, ainda que não exista mais um banco traseiro. O vídeo abaixo dá uma boa noção do estado geral e do acabamento.
Esteticamente, não fosse pela entrada de ar na dianteira e pelo nada discreto scoop no capô, esta Variant seria um belo sleeper, pois não há mais nada que denuncie sua verdadeira natureza.
Se você gostou da ideia, saiba que o carro . Faltam dois dias para o fim do leilão e, até agora, dezesseis lances foram dados para um total de US$ 8,6 mil, ou cerca de R$ 32,5 mil em conversão direta. O valor de reserva ainda não foi atingido.