O BMW Série 3 E36 foi um dos primeiros carros importados para o Brasil depois da abertura das importações, no início dos anos 1990. Foi um verdadeiro choque, especialmente porque na época a referência no segmento mais alto do mercado era o Chevroler Opala Diplomata. Claro que o Opalão era bacana com seu seis-em-linha de 4,1 litros envolto por uma bela carroceria mas, convenhamos: lançado em 1968, ele já estava ultrapassado havia um bom tempo.
Quadradão, moderno e elegante, o E36 não demorou para cair no gosto do brasileiro — tanto pela sofisticação presente até nas versões mais básicas, como o 316i e seu quatro-cilindros de 1,6 litro e 101 cv e o 318i, com um 1.8 de 115 cv; até na esportividade e precisão do M3 que, vindo da Europa, tinha um seis-em-linha de três litros e 286 cv, sendo capaz de chegar aos 100 km/h em 5,4 segundos com máxima de 250 km/h.
Sendo assim, não é difícil encontrar um E36 à venda no Brasil — difícil é achar um exemplar bem conservado por um preço justo. Isto se dá porque, como costuma acontecer com os primeiros importados que desembarcaram, a desvalorização acentuada tornou os Bimmers da época bastante acessíveis, mas não fez o mesmo com as peças e com a mão obra na oficina. Ou seja: o que mais se vê são carros que podem até estar apresentáveis por fora, mas tiveram a manutenção bastante negligenciada — é prejuízo na certa.
E, acredite ou não, lá fora a situação é parecida, tanto nos EUA quanto na Europa. E é por isso que os gringos devem estar tão impressionados quanto a gente por este BMW 320i 1995 que está à venda na Holanda e tem apenas 410 km marcados no hodômetro. Você tem noção do que é ver um BMW E36 tão novo quanto na época em que este vídeo do Top Gear antigo (não, não é o Clarkson) passava na TV?
Assista e corra o risco de ficar sofrendo de nostalgia noventista pelo resto do dia
O 320i da geração E36 com motor seis-em-linha jamais foi vendido no Brasil. Ele era a versão mais simples equipada com motor de seis cilindros em linha — no caso, o M52B20, com bloco de alumínio e comando duplo variável VANOS, capaz de entregar 150 cv a 5.900 rpm e 19,3 mkgf de torque. Pode não impressionar pelos números hoje em dia, mas na época, um motor de dois litros e quase 150 cv era algo bem interessante. Até hoje, na verdade — e ainda tem a suavidade inerente aos seis-em-linha alemães.
Claro que, com câmbio automático de cinco marchas, o 320i holandês não é bem um foguete: são 10,4 segundos para chegar aos 100 km/h, com máxima de 214 km/h. Ainda assim, no entanto, é muito bacana ver um BMW de 21 anos em estado de novo.
E não há melhor descrição, de verdade. A carroceria está impecável; os pneus, zerados; o interior ainda deve ter cheiro de carro novo e o kit de ferramentas no porta-malas ainda está envolto por plástico transparente. Não conseguimos achar uma imperfeição sequer. Só se vê um E36 novo assim em fotos de divulgação!
É claro que, como quase todo carro usado “zero quilômetro”, este BMW tem um preço bem puxado, mesmo para os padrões europeus: € 45.950, o que dá pouco mais de R$ 204 mil em conversão direta.
É bastante dinheiro, sim — tanto que, mesmo daqui a nove anos, se porventura ainda estiver à venda, provavelmente o carro não será um negócio tão vantajoso a ponto de importá-lo. Por outro lado, um colecionador abastado que tiver uma afinidade especial pela BMW adoraria ter algo assim em seu acervo. De qualquer forma, mesmo que não seja nenhum M3, a gente acha que este carro merece ser dirigido. Não é para isto que eles são feitos?
Como isto não vai ser possível, fique com as fotos desta verdadeira cápsula do tempo. E dê o play no vídeo acima — uma ode instrumental a outro BMW icônico dos anos 1990, o 850CSi, para criar o clima. O autor desta pérola é Myrone, o guitarrista que compôs a trilha sonora do delicioso game de corrida retrô Drift Stage.