A Bentley lançou na noite de ontem a terceira geração do Continental GT, seu grand tourer mais adorado. Fomos pegos de surpresa, e gostamos do que vimos: mudanças bem acertadas em termos de visual, materiais de acabamento e recursos tecnológicos. Se você nunca sentiu sequer curiosidade em saber como é andar em um Bentley, talvez o novo Continental GT seja o cara capaz de mudar esta história.
A primeira geração do Continental GT, lançada em 2003 (e desenhada por um brasileiro, o projetista Raul Pires) era um carro muito bonito e harmônico, com faróis no tamanho certo, rodas não muito grandes e proporções bem resolvidas. Ao longo de treze anos (!) de atualizações, porém – carros de alto luxo, como os Bentley, Rolls-Royce e Maybach, têm um ciclo de vida mais longo – incluindo uma reestilização mais subtancial em 2011, deixaram o Continental GT mais bruto, com para-choques de supercarro, rodas que pareciam ter 35 polegadas de diâmetro e faróis com proporção esquisita. Era um carro meio forçado.
Em cima, o Continental GT original, de 2003 e, embaixo, o modelo mais recente. O antigo tinha proporções mais harmônicas e agradáveis
Agora, tudo mudou. Lembra do belíssimo conceito EXP 10 Speed Six da Bentley? Aquele cupê verde maravilhoso com um dos interiores mais fodásticos já colocados em um carro? Pois bem, ele foi a inspiração para o novo Continental GT. Demais, não?
Conseguimos enxergar traços do conceito por todo canto: os faróis, as lanteiras, a silhueta e a linha de cintura deixam bem claro de onde vieram as linhas do novo Continental GT. A harmonia nas proporções está de volta, porém de acordo com a estética automotiva atual.
É claro que as linhas do conceito não foram 100% traduzidas para o carro de produção, mas a influência fica clara no formato dos faróis, que agora trazem uma diferença maior entre as unidades maiores e as menores; e das lanternas, que assumiram o formato de elipse que se repete nas saídas de escape. A Bentley deu atenção especial aos faróis e lanternas, que trazem em seu interior texturas de cristal trabalhado que refletem a luz como diamantes e dão um efeito tridimensional às peças quando acesas.
Modificações estruturais também alteraram as proporções do carro. O motor W12 (vamos falar mais dele a seguir) foi deslocado para mais perto do centro do carro, o que melhorou a distribuição de peso e permitiu um capô mais alongado e um eixo dianteiro mais avançado, aumentando o entre-eixos e reduzindo o balanço dianteiro.
As formas mais musculosas do Continental GT foram obtidas através do método Super Formed, que consiste em trabalhar com o alumínio a uma temperatura de 500°C e, de acordo com a Bentley, permite formas mais sofisticadas e resulta em uma chapa mais leve. A fabricante diz que o novo Continental GT foi o primeiro carro da marca a usar esta técnica em toda a lateral do veículo – até então, apenas os para-lamas eram feitos assim.
Por dentro também rolaram boas mudanças. Uma das críticas recorrentes ao Continental GT dizia respeito ao design do interior, que era conservador e datado, sem acompanhar o visual do lado de fora. Agora, isto mudou. Embora não seja tão radical quanto no conceito EXP, o lado de dentro do Continental GT não decepciona nem um pouco. Sério.
Pela primeira vez a Bentley oferece a opção de camadas de madeira duplas no interior do Continental GT, que teve o design totalmente reformulado. Agora, o painel é 100% digital, e a central multimídia tem a maior tela já usada em um Bentley, com 12,3 polegadas e alta definição. Esta tela é dividida em três janelas, que podem mostrar as funções favoritas do motorista – por exemplo, navegação por GPS, player de música e contatos telefônicos.
Só que esta tela não fica exposta o tempo todo. Ela faz parte do Rotating Display, recurso inaugurado no novo Continental GT que consiste em um prisma de três lados que gira para revelar a tela, três mostradores analógicos (um termômetro, uma bússola e um cronômetro) ou um painel de madeira para tornar tudo mais discreto.
Aliás, é natural que passemos mais tempo analisando os detalhes internos do Bentley. Novos serrilhados nos botões de comando, em formato de almofada em vez de diamantes, tornam-nos mais macios ao toque. Insertos de bronze se fazem presentes entre os comandos do painel. Os bancos ajustáveis em nada menos que vinte posições diferentes trazem um novo padrão de costura em diamantes duplos (“diamond-in-diamond”, segundo a Bentley), sendo que cada diamante é formado por exatamente 712 pontos de bordado alinhados milimetricamente.
São três os sistemas de som disponíveis: o “básico”, com dez alto-falantes e 650 Watts; um Bang & Olufsen de 1.500 Watts e 16 alto-falantes, e um Naim de 18 alto-falantes e 2.200 Watts que traz oito modos de som e subwoofers passivos nos bancos. Em todo caso, o vidro laminado dianteiro usado no novo Continental GT ajuda a reduzir os ruídos externos em nove decibéis quando comparado ao modelo antigo.
O interior pode ser customizado com 15 diferentes tipos de carpete, oito madeiras diferentes e 15 revestimentos. Por fora, há 17 cores diferentes no catálogo fixo. De qualquer forma, as opções de cor e acabamento disponíveis pelo programa de personalização Bentley Mulliner são virtualmente infinitas – incluindo, claro, a possibilidade de criar uma cor sob medida para combinar com qualquer objeto no mundo todo.
Agora finalmente podemos falar sobre o carro em si. A Bentley construiu o novo Continental GT sobre uma plataforma de alumínio desenvolvida em parceria com a Porsche (bendito seja o guarda-chuva corporativo), que divide parte de seu design e dos componentes com o Panamera. No entanto, a Bentley garante que a platforma é 82% inédita.
O carro é 85 kg mais leve que a geração anterior, tem um porta-malas maior e peso melhor distribuído. Com dois passageiros e bagagem (para a Bentley, a maneira típica como um grand tourer é ocupado), são 53% do peso na dianteira e 47% na traseira. Antes eram 56% na dianteira e 44% na traseira. Sim, são só 3% de diferença, mas de acordo com a Bentley, é uma diferença importante.
Aliás, a fabricante se mostrou bastante preocupada em garantir um comportamento dinâmico mais adaptável aos diferentes tipos de motorista. As barras estabilizadoras contam com um sistema de geometria variável que alteram a resistência à rolagem de acordo com o modo de direção escolhido, priorizando conforto ou comportamento dinâmico.
O motor segue sendo o W12 se seis litros com dois turbos usado pelo Continental GT anterior, agora com 635 cv e 91,8 mkgf de torque. O motor tem sistema de desativação dos cilindros e funciona com apenas metade deles quando em uso tranquilo, a fim de economizar combustível.
Outra mudança foi o sistema de transmissão: sai a caixa automática Tiptronic de oito marchas e entra uma caixa de dupla embreagem e também oito marchas. Dependendo do modo de direção escolhido, as trocas podem ser mais lentas e suaves ou mais velozes e agressivas. O sistema de tração nas quatro rodas agora tem distribuição de torque continuamente variável em vez do 40:60 empregado anteriormente. Na maioria do tempo, a tração é totalmente traseira.
O novo Bentley Continental GT fará sua primeira aparição pública no Salão de Frankfurt, que acontece em setembro.