No começo da década de 1970, como você deve saber, o mercado automotivo norte-americano estava prestes a entrar em depressão. Mas as fabricantes ainda não sabiam disto – e o ano de 1970 é encarado por muitos como auge do deslocamento e da potência dos muscle e pony cars. As fabricantes apostavam alto em edições especiais com acabamento exclusivo e maior cavalaria. Nem parecia que dali a três anos, em outubro de 1973, a Crise do Petróleo se abateria sobre o mercado e colocaria um fim no reinado do American muscle.
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Animada pela força que os esportivos tinham naquele momento, a Plymouth lançou em 1970 o programa Rapid Transit System – um vasto catálogo de peças de preparação, itens de personalização e acessórios para seus muscle cars, acompanhados de manuais de instruções para quem quisesse modificar o carro por conta própria. Era mais ou menos como a ideia do Scat Pack que a Dodge apresentou em 1968, e até hoje é utilizado no Challenger.
Mesmo que os muscle cars estivessem começando a dar sinais de cansaço, a Plymouth decidiu investir pesado na ideia, montando até mesmo uma caravana itinerante, a Rapid Transit System Caravan, para divulgar o programa, com a presença de carros modificados com alguns dos acessórios disponíveis. Entre estes carros estava um curioso Plymouth Road Runner com jeito de Hot Wheels, apropriadamente batizado Road Runner Rapid Transit.
O carro foi feito com base na segunda geração do Road Runner, lançada em 1971. A plataforma ainda era a mesma B-Body usada pelo modelo anterior (e também pelo Dodge Charger), mas a carroceria era totalmente diferente, com formas mais arredondadas e um estilo denominado “Fuselage” pela Chrysler – as bordas superiores e inferiores da carroceria eram curvadas, com uma transição suave entre o topo das portas e o teto, e entre as soleiras das portas e o assoalho. Lembrava mesmo a fuselagem de um avião.
O carro começou sua vida como um Plymouth Road Runner comum, equipado com um V8 383 (6,3 litros) com carburador de corpo quádruplo, taxa de compressão de 8,7:1 e 300 cv, acoplado a uma caixa automática Torqueflite de três marchas. Pelo que indicam registros da Plymouth, o conjunto mecânico do carro jamais foi modificado – e o mesmo vale para o lado de dentro, que mantém a linha esporte-fino original do Road Runner.
Tudo é compensado, porém, pela carroceria, que foi totalmente retrabalhada pelo customizador da Chrysler, Chuck Miller usando fibra de vidro. A dianteira remodelada perdia o para-choque cromado circundando a grade e era mais longa, com a face inclinada. Os faróis duplos eram cobertos por capas de acrílico texturizado, e o capô tinha entradas de ar que tomavam quase todo o seu comprimento.
Em cada um dos para-lamas havia luzes auxiliares com o formato (e as cores) do rosto do Papa-Léguas, o que rendeu ao Road Runner a alcunha de chicken car – literalmente “o carro da galinha” em inglês. Repare também nas rodas, que receberam calotas planas, pintadas de cinza escuro.
A traseira também foi totalmente refeita, recebendo uma nova tampa do porta-malas com spoiler integrado e, assim como na dianteira, trocando os para-choques por um painel liso. Nele ficavam embutidas as lanternas tricolores, protegidas sob lentes translúcidas.
A carroceira foi pintada em duas cores, laranja e branco, ambas perolizadas, em um esquema que lembra o carro de Starsky & Hutch.
O Plymouth Road Runner Rapid Transit era o mais popular dos conceitos da caravana, que atravessou os EUA de leste a oeste, passando por mais de 100 concessionárias pelo caminho. E, acredite, ele nunca foi restaurado: depois que a turnê acabou, o carro participou de alguns eventos antes de ser devolvido a Chuck Miller, que o manteve guardado em uma garagem por décadas – com apenas 1.300 milhas (o equivalente a quase 2.100 km) marcadas no hodômetro.
No fim da década de 1990, o carro foi vendido ao colecionador americano Steven Juliano, que morreu em setembro de 2018. No próximo mês de maio, parte de sua coleção será leiloada em Indianápolis pela Mecum Auctions. O Road Runner Rapid Transit será um dos destaques – segundo a Mecum, ele era um dos itens favoritos de Juliano. O valor estimado de arremate não foi divulgado.