Em 1994, com o fim Grupo C em Le Mans — a categoria dos protótipos, que viu vencedores como o Porsche 962C, Jaguar XJR-12 e o Mazda 787B — a Toyota decidiu concentrar-se nos carros da categoria GT1, que deveriam ser baseados em modelos de rua. No fim das contas eles conseguiram inscrever sua criação, o TS020 (mais conhecido como GT-One) como protótipo, mas o único carro de rua construído ainda está por aí, no museu da Toyota em Köln, na Alemanha. Esta é sua curiosa história.
Curiosa porque, embora o GT-One tivesse sido desenvolvido para a categoria GT1, ele tinha toda a pinta de protótipo. E, no fim das contas, foi como um protótipo Le Mans que ele competiu em 1999. Mas, em seu ano de estreia, ele foi um GT como o Mercedes-Benz CLK GTR ou o Porsche 911 GT1. Como?
Em bom português: com uma brecha no regulamento — que, sejamos honestos, também foi explorada por outras equipes. A Toyota descobriu que só precisava construir um único carro legalizado para as ruas para que pudesse homologar o GT-One para competir nas 24 Horas de Le Mans na categoria GT1. O carro não precisaria nem ser vendido — só havia uma condição: ele deveria ter um compartimento de bagagem capaz de armazenar uma valise.
A Mercedes colocou um compartimento em uma área não-utilizada debaixo da carroceria do CLK GTR para servir de “porta-mala” e passou. A Toyota foi ainda mais ousada: o único GT-One de rua feito para o propósito de homologação não tinha nenhum tipo de compartimento ou mesmo espaço dentro do cockpit para abrigar uma valise, mas a fabricante conseguiu convencer os inspetores do Automobile Club de l’Ouest (ACO), que organiza as 24 Horas de Le Mans, que o tanque de combustível do carro poderia ser interpretado como um porta-malas, já que, em tese, uma mala caberia ali.
Por incrível que pareça, a história colou, e em 1998 a Toyota colocou três GT-One para competir na categoria GT1 em Le Mans. Só um deles terminou a prova, em nono — os outros dois tiveram problemas mecânicos. Mesmo assim ele se tornou uma lenda e, no ano seguinte, competiu novamente — desta vez, como um legítimo protótipo, visto que a FIA não gostou muito das “trapaças” das equipes. Ele chegou em segundo lugar.
Mas por que a Toyota não construiu logo um carro todo dentro dos padrões estabelecidos pelo regulamento? Por que isto dá trabalho. Tanto é que aproveitando que o carro não precisaria ser comercializado, a Toyota o fez praticamente idêntico ao carro de corrida — apenas com suspensão um pouco mais alta, uma asa traseira um pouco mais baixa, catalisadores e um interior improvisado.
O motor era o mesmo V8 biturbo de três litros e 600 cv a 6.000 rpm declarados, com 66,2 mkgf de torque também a 6.000 rpm, acoplado a uma caixa manual de seis marchas. A suspensão é independente com braços sobrepostos do tipo duplo-A nos quatro cantos, e o 0 a 100 km/h é feito em 3,6 segundos, com velocidade máxima de 365 km/h. Na maior parte do tempo, porém, o carro fica a 0 km/h no museu da Toyota, ao lado de outros protótipos históricos.
O caso é que, dizem que existe outro GT-One, escondido em um museu particular da marca no Japão. A Toyota nega o fato veementemente e, de fato, um dos carros de corrida teve sua pintura e as marcas dos patrocinadores removidas para imitar o carro de rua e por isso só existe um GT-One de rua. Ao menos oficialmente.
Por outro lado, este é um daqueles mistérios que não precisam ser esclarecidos — há algo de mágico em saber que, em algum lugar do outro lado do mundo, pode existir outro carro tão fodástico quanto este.