Para muitos brasileiros o Volkswagen Gol é uma espécie de patrimônio nacional. Goste dele ou não, o Gol é um projeto legitimamente brasileiro, cultuado por milhares de entusiastas e, por muitos anos, foi o carro mais vendido do Brasil. Como tal, ele também possui uma grande variedade de receitas de preparação – graças à mecânica robusta e muito popular, compartilhada com diversos outros modelos da VW vendidos pelo mundo.
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É por isso que sempre ficamos intrigados ao ver um projeto feito lá fora com base no Gol, ou em alguns de seus derivados. Você deve lembrar, por exemplo, daquela Volkswagen Parati preparada para ralis; ou daquele Volkswagen Voyage (ou melhor, “Volkswagen Fox”) que chegou até mesmo acelerar em Nürburgring. Dá até certa pontinha de orgulho patriota, não dá?
Pois hoje viemos falar de outro project car internacional feito com base no VW Gol – um carro que foi montado na África do Sul, onde o Gol jamais foi comercializado. E mais: trata-se de um Gol preparado para subidas de montanha!
As informações disponíveis a respeito do carro não são muitas, mas são interessantes. Quem montou o carro foi uma preparadora sul-africana chamada Ferroli Motorsport, que fica na Cidade do Cabo, capital legislativa da África do Sul.
Os caras são especialistas em Volkswagen, pelo que se pode perceber: quando se pesquisa a respeito, o primeiro carro que aparece é um Volkswagen Citi Golf de arrancada com dois motores – um par de 1.8 16v vindos da versão GTI, cada um deles acoplado a sua própria caixa manual de cinco marchas, ambas ligadas ao mesmo trambulador. Ambos os motores são sobrealimentados por turbocompressores KKK K26/27 produzindo 1 bar de pressão, e juntos entregam quase 700 cv. É o bastante para que o Golf, que naturalmente tem tração nas quatro rodas, seja capaz de cumprir o quarto-de-milha em na casa dos 10 segundos, vá de zero a 100 km/h em 4,3 segundos e chegue até os 265 km/h de velocidade máxima.
As primeiras fotos do Gol foram postadas no perfil da Ferroli Motorsport no Instagram em março de 2017, e mostravam o monobloco já montado e reforçado por uma gaiola de proteção, com o motor já instalado. Garimpando por fóruns e páginas do Facebook, porém, é possível encontrar imagens do carro antes das modificações. Trata-se de um dos dois exemplares que a Volkswagen da África do Sul importou para o país no início dos anos 1980, possivelmente considerando a produção local. Um deles desapareceu com o tempo, mas o outro foi parar nas mãos da Ferroli Motorsports.
O Gol jamais foi vendido na África do Sul, em nenhuma geração – a exportação exigiria a conversão para a mão-inglesa, como acontece em outros países colonizados pelo Reino Unido. No entanto, os sul-africanos tiveram o Golf Mk1 em suas concessionárias entre 1978 e 2009 – a divisão sul-africana da VW decidiu que o modelo era a melhor opção como carro de entrada, promovendo atualizações estéticas periódicas ao longo de mais de três décadas. O detalhe é que o motor se manteve praticamente o mesmo por todo este tempo – um quatro-cilindros com comando no cabeçote praticamente idêntico ao “nosso” Volkswagen AP. E, assim como acontece no Brasil, não faltam receitas de preparação para o quatro-cilindros, seja usando componentes OEM ou aftermarket.
O motor, no caso deste Gol, é um EA827 de dois litros que trocou o cabeçote de 16 válvulas original por um cabeçote de 20 válvulas, como o utilizado pelo Golf GTI Mk4, com válvulas Supertech. O motor também recebeu pistões e bielas forjados, coletores de admissão e escape feitos sob medida, radiador também feito sob medida, oito injetores de 1.200cc e, para arrematar, um turbo Holset HX45. Gerenciado por duas ECUs Dicktator, o motor entrega nada menos que 740 cv e 81,6 mkgf de torque.
A força é moderada por uma caixa manual de seis marchas com embreagem Tilton de três discos. O câmbio é ligado a dois diferenciais de deslizamento limitado projetados e fabricados in-house, bem como todo o restante do sistema de transmissão (cardã, semi-eixos, etc).
A inspiração da Ferroli foi o Audi Quattro S1 que competiu no WRC durante a década de 1980 – e mudou a história da competição ao introduzir o conceito de tração integral. É por isso que o Gol recebeu uma pintura com fundo branco e detalhes em amarelo, as cores utilizadas pela Audi no WRC há três décadas. A customização incluiu para-lamas alargados adaptados, veja só, de um Ford Escort RS2000. Já a asa traseira veio diretamente de um Porsche 911 GT3 RS.
O Gol da Ferroli Motorsport também tem suspensão totalmente ajustável em altura, rigidez e ângulos de cambagem e convergência, com amortecedores Koni e braços feitos sob medida. As rodas são de 15×8 polegadas e abrigam discos de freio Alcon na dianteira e na traseira.
O interior segue a cartilha do alívio de peso: desprovido de tudo o que não seja absolutamente necessário, o ambiente é composto por uma gaiola de proteção integral, parte do painel de instrumentos original com cluster digital de competição, volante Momo e um par de bancos concha Recaro.
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Agora, apesar de ser um projeto incrível que apareceu até mesmo em publicações impressas na África do Sul, o VW Gol da Ferroli Motorsport meio que desapareceu do radar em novembro de 2017. Não encontramos outros vídeos do carro em ação, o que é uma pena, mas este projeto é mais uma evidência do potencial que tem a plataforma do primeiro Gol.
Dica do leitor Lucas Grenzel