Nunca escondi de absolutamente ninguém meu gosto pelos pequenos Fiat – meu daily driver, meu cavalo de batalha, é um Mille Way 2008 e dele não vou abrir mão tão cedo. Por sorte, minha garagem acomoda dois carros, e volta e meia me pego fantasiando com um antigo para ocupar a segunda vaga. Caso acabe cedendo à tentação, é bem provável que o escolhido seja um Fiat 147. Por razões que, acredito, são óbvias.
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Como seria meu Fiat 147? Ainda não pensei muito a respeito – tenho planos mais concretos nos quais preciso me concentrar. Mas inspiração, ainda assim, não falta. Como este Fiat 127 italiano que, no lugar do quatro-cilindros debaixo do capô, agora tem um V6. Alfa Romeo. Central-traseiro. Turbo. Com 205 cv. Porca miseria!
Tenho certeza de que quase todo mundo aqui sabe do que se trata o Fiat 127: lançado e 1971, ele era a versão italiana do 147, que foi lançado no Brasil em em 1976. Conta-se que o Fiat 127 foi uma das inspirações de Giorgetto Giugiaro na hora de projetar o primeiro Golf em proporções e layout mecânico – ou seja, com motor transversal e tração dianteira, garantindo melhor aproveitamento da força do motor, comportamento dinâmico mais dócil para uso diário e aproveitamento mais eficiente do espaço interno.
Então, veio um cara chamado Claudio Leonardi e subverteu tudo: em seu Fiat 127, fabricado em 1980, ele colocou o V6 Busso de dois litros de um Alfa 164. Como não cabia no cofre, o V6 turbinado foi parar atrás dos bancos dianteiros, assim como o sistema de transmissão do Alfa, com câmbio manual de cinco marchas. Com apenas 950 kg de tanque cheio, será que ficou um foguete?
Não é difícil descobrir. Só dar o play abaixo!
(Não se engane pelo nome do canal, Game & Track – eles transmitem gameplays ao vivo, sim, mas também produzem conteúdo com carros de verdade.)
Não é preciso mais que dois minutos para ver que o Fiat 127 anda muito. Claudio é mecânico especializado em Ferrari – o que não deixa dúvidas de sua capacidade técnica – e faz parte do Club Motori di Modena – Scuderia Modena Corse, uma associação de entusiastas que organiza encontros e track days – e seu objetivo, como não poderia deixar de ser, era colocar o hatchback na pista, para brigar com gente grande.
Ao que tudo indica, o motor foi mantido quase totalmente stock. O V6 turbo de dois litros já entregava 205 cv e 30,6 kgfm de torque quando novo – e são estes os dados divulgados por Claudio. Não encontramos dados de aceleração e velocidade máxima, mas pense conosco: com este motor, o Alfa Romeo 164 chegava aos 100 km/h em oito segundos e seguia acelerando até os 237 km/h. E ele pesava pelo menos 1.300 kg. Imagine, então, o que o Fietinho consegue fazer com 350 kg a menos!
Aliás, não precisa imaginar – aqui vai outro vídeo do carro, mais longo, gravado no autódromo de Modena.
A suspensão adotou os braços do Alfa 164 na traseira, com amortecedores ajustáveis Orap, enquanto a dianteira manteve o arranjo original e também ganhou amortecedores ajustáveis, porém da King – e as bitolas foram alargadas. As rodas são de 13 polegadas, calçadas com slicks 200/54 atrás e 190/54 na frente. Atrás das rodas, estão abrigados os freios a disco do Lancia Thema Turbo, ventilados na dianteira e sólidos na traseira.
Outra atração à parte é o visual do carro. Este exemplar do 127 foi fabricado em 1980 e, com isto, já exibe o facelift aplicado pela Fiat italiana em 1977 – a frente mais baixa, com faróis embutidos na grade, e os vidros laterais traseiros do nosso 147. A pintura branca com o livery da Alitalia é um tributo ao Fiat 131 Abarth e ao 128 Abarth que competiram no WRC, e também ao Lancia Stratos.
Mas, em vez de ir pela rota que se costuma seguir com hatchbacks de motor dianteiro – para-lamas estufados e aerodinâmica que beira o excesso, como era nos especiais do Grupo B – Claudio optou por um look mais simples, quase discreto: os para-lamas foram ligeiramente alargados, um spoiler foi embutido na dianteira e os para-lamas traseiros ganharam entradas de ar relativamamente pequenas, pintadas de branco para ficarem ainda mais sutis. Olhando por fora, é quase imperceptível que o carro ganhou um V6 central-traseiro. Por dentro, há os instrumentos do Fiat Ritmo Abarth, bancos concha Recaro com revestimento azul e uma gaiola de proteção integral.
Quando ele se move, porém, não há como negar: mesmo que os radiadores de água e óleo, seus respectivos reservatórios e a bateria fiquem debaixo do capô, e uma tentativa de equilibrar as massas, o comportamento do 127 é bastante traseiro. Deve ser divertido pra cazzo.
Sendo bem franco, dificilmente chegaria a este ponto caso pegasse um Fiat 147 como project car. Dito isto, é sempre bom ter um pouco de inspiração.
Sugerido pelo leitor Arthur Episcopo