Os kits widebody, especialmente de companhias japonesas como a Liberty Walk, a RAUH-Welt Begriff e a Rocket Bunny andam crescendo bastante em popularidade nos últimos anos. No entanto, uma parcela significativa dos entusiastas repudia estes caras.
Seu argumento é fácil de entender: kits widebody, como dissemos aqui, foram feitos para possibilitar o uso de bitolas mais largas e pneus maiores – modificação que aumenta a estabilidade direcional ao reduzir a transferência lateral de peso, o que melhora significativamente a dinâmica de m carro de corrida. Os kits widebody, contudo, vêm sendo muito utilizados simplesmente porque deixam o stance dos carros muito mais agressivo e atraente, e isto incomoda quem acha que toda modificação deve contribuir com o desempenho de um carro.
Se você nos lê, sabe que nossa opinião sobre isto é bem flexível. Pegue a Rocket Bunny, por exemplo: quem disse que seus kits widebody só podem ser usados por carros com cambagem negativa extrema, suspensão a ar e pneus stretched? Isto mesmo, ninguém!
Bryson Richards sabe disto muito bem. E, por isso, ele decidiu instalar um kit Rocket Bunny em seu Civic de track day. E, confie na gente: você vai pensar duas vezes antes de dizer que este é mais um caso de “all show, no go”.
Se você não sabe quem é Bryson Richards, talvez conheça seu trabalho: foi ele quem pintou o RWB Nashville, Porsche 911 com pintura Martini Racing modificado por Akira Nakai, do qual falamos recentemente aqui no Flatout. O civic aparece ao fundo, por volta dos 2:15 do vídeo abaixo.
A primeira coisa que salta aos olhos é a pintura, instantaneamente reconhecida por qualquer brasileiro: é uma homenagem a Ayrton Senna. Faz sentido: Senna conquistou seus três títulos mundiais de Fórmula 1 ao volante de monopostos McLaren com motor Honda, que utilizava a pintura do patrocinador Marlboro.
O ponto é que a pintura faz sentido. E o mais legal é que ela foi feita pelo próprio Richards. Ao lado do RWB Nashville, seu Honda Civic sem dúvida é um atestado da qualidade de seu trabalho. Richards é dono da Classic Livery of Atlanta, companhia de pintura automotiva, que fica em Atlanta (claro), capital do estado da Geórgia. Anteriormente conhecida como WagenWerks Atlanta, a Classic Livery é a responsável por diversos projetos de alto nível, daqueles que costumam aparecer regularmente em sites e páginas de carros modificados.
O Civic foi comprado há alguns anos. É um exemplar de quinta geração, fabricado em 1992 e equipado originalmente com o motor 1.6 D16 – que também pode ser encontrado nos Honda Civic brasileiros. É um motor mais simples que o B16, mas pode ter comando simples ou duplo no cabeçote e até sistema variável VTEC.
Dito isto, o sonho de boa parte dos hondeiros que têm um Civic mais velhinho é meter um B16 nele. E Richards fez exatamente isto: ele comprou o carro por muito pouco, pois achou que o D16 estava fundido. Não estava e, depois de ir para a pista com o carro, ele se encantou pelo comportamento dinâmico do hatch. Mais ligado nos Volkswagen, Richards decidiu que era hora de montar um Civic para acelerar no asfalto.
O motor D16 não estava fundido, mas já estava bem cansado. Adaptar um B16 no cofre de um Civic não é exatamente complicado, visto que este é o lendário motor de 1,6 litro e 160 cv (100 cv/L) utilizado pelo Civic VTI. É um dos melhores motores quatro-cilindros de todos os tempos, e muito receptivo a preparação.
No caso do carro de Richards, estamos falando de um turbocompressor Garrett GT3071R com intercooler Schmidt Fabrications e wastegate Turbosmart de 40 mm. O miolo do motor recebeu pistões reforçados Wiseco, bielas Eagle e válvulas maiores da Supertech, além de injetores de 1.200cc e corpo de borboleta de 70 mm. O módulo Hondata S300 cuida de controlar o funcionamento de tudo.
O resultado são 456 cv e 52,5 mkgf de torque. Estes são levados para as rodas dianteiras por uma caixa Ebtech com relações feitas sob medida e alavanca K-Tuned. O interior do carro é típico dos bólidos de competição, com revestimentos removidos para aliviar peso, bancos concha fixos, cintos de corrida e gaiola de proteção integral.
Mas vamos ao stance, que foi a razão para falarmos deste Civic aqui. O kit da Rocket Bunny TRA Kyoto foi desenvolvido e tem alargadores de fibra para os para-lamas (com rebites expostos, claro), aletas no para-choque dianteiro para escoamento de ar e um enorme corte no para-choque traseiro, que Richards deixou ainda maior. E, claro, há uma grande asa traseira que é totalmente funcional.
Os pneus ficam colados nos para-lamas, mas o carro não é baixo demais nem tem cambagem absurdamente negativa. Richards instalou molas e amortecedores ajustáveis Eibach, mas seu principal objetivo não foi colocar o carro “no chão”, e sim melhorar seu comportamento dinâmico. A postura agressiva de carro de corrida, complementada pelo jogo de rodas de 17×9” calçadas com pneus Nitto NT01 de medidas 275/45, é consequência.
O carro pode até ser utilizado no dia a dia, pois é completamente legalizado para as ruas, mas Richards prefere dirigi-lo em vias públicas somente quando necessário. O acerto do carro é todo voltado para track days, o motor é barulhento, a carroceria chacoalha e a pintura não é nada discreta. O kit da Rocket Bunny vira quase um detalhe.
Fotos: Bryson Richards/Super Street Online