O BMW M3 E30 é uma espécie de exceção na trajetória do modelo esportivo mais importante da fabricante bávara. Por mais que alguns fãs tradicionalistas digam que um bom BMW precisa de um motor de seis cilindros em linha, o primeiro de todos os M3 utilizava um quatro-cilindros com DNA de pista – o S14, cujo desenho do cabeçote era inspirado no seis-em-linha que habitava o cofre do BMW M1. Com 2,3 litros, capacidade de girar alto e 195 cv, o motor era capaz de levar E30 de zero a 100 km/h em 6,9 segundos, com máxima de 235 km/h. Era um carro consideravelmente rápido para a época em que foi lançado, em 1985, e o fato de ser um especial de homologação para a versão que competia no DTM era praticamente uma garantia de dinâmica exemplar – que, de fato, o M3 E30 tinha. O carro de corrida passava facilmente dos 300 cv sem qualquer tipo de indução forçada, o que é outro atestado à qualidade do projeto do S14.
A verdade é que os seis-em-linha podem até ser tradição nos BMW – vide o 3.0 CSL “Batmobile”, as duas primeiras gerações do BMW M5 e o próprio M1 –, mas o M3 nunca foi exatamente um exemplo de consistência em termos de configuração mecânica: a geração E30 tinha seu quatro-cilindros; a E36 e a E46 apostaram no seis-em-linha naturalmente aspirado; a E92 trouxe um ousado V8 de quatro litros e o atual M3/M4 adotou o seis-em-linha novamente, porém sobrealimentados. Não é algo que nos incomoda. Dito isto, entendemos perfeitamente quem considera que o motor “correto” para um M3 deve ter seis cilindros em linha, e ser naturalmente aspirado. E, se este for o seu caso, você provavelmente vai gostar do último projeto apresentado pela Vilner.
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A Vilner já apareceu aqui no FlatOut outras vezes. A companhia de Sofia, na Bulgária, é especializada na customização de interiores automotivos com modificações bastante abrangentes, porém respeitando a identidade visual original do carro. Se você tem boa memória, vai lembrar que um dos nossos primeiros posts foi a respeito de um BMW 750i E38, sedã com motor V12 de 5,4 litros e 322 cv, que recebeu o tratamento da Vilner no interior – que manteve as linhas originais, mas recebeu volante, bancos console e central multimídia que, na época, eram a última palavra em design e tecnologia e foram cuidadosamente mesclados às linhas clássicas do E38.
Pois agora, quase cinco anos depois, voltamos a falar de um BMW modificado pela Vilner. Eles refizeram todo o interior, como é de costume, mas desta vez também deram um trato no conjunto mecânico, trocando o quatro-cilindros S14 pelo seis-em-linha S50B32 vindo de um M3 E36. O que a gente achou? Bem, vamos por partes – de dentro para fora.
O interior do M3 E30 foi customizado de forma bastante elegante, com bancos Sparco do tipo concha, volante com três raios de metal perfurados e revestimento de couro e um console central feito sob medida, com um recorte na base e uma placa de metal pintada de preto com a “assinatura” da Vilner. Parte da placa é perfurada e, aparentemente, sua única função é decorativa.
Diversos elementos do interior foram revestidos com tecido xadrez: parte dos bancos (que também possuem tecido cinza e couro), forrações das portas, a parte interna do teto solar, os para-sóis, a coifa do câmbio a tampa do porta-luvas e o bagagito na traseira. Talvez eles tenham exagerado na dose de tartan, mas a opinião a respeito pode variar de pessoa para pessoa, mas são indiscutíveis a qualidade do acabamento e o capricho na execução.
Os bancos receberam um detalhe bordado com as cores da divisão M da BMW nos encostos de cabeça, e são equipados com cintos de competição da Sparco com quatro pontas. Um detalhe interessante são as placas metálica na área onde ficam os pés dos ocupantes dianteiros, como nos carros de competição – com a divertida inscrição race shoes only.
A customização externa foi bastante leve, mas a opção pela cor vai agradar aos conhecedores da marca: trata-se do Imola Red II, tonalidade bastante fechada que foi oferecida pela BMW na geração atual do M3/M4, a F80. Apenas 500 carros saíram da fábrica nesta cor, embora a mesma possa ser adquirida através do programa BMW Individual pela bagatela de € 2.500 – nada menos que o equivalente a R$ 10.900 em conversão direta.
A carroceria conta com todos os componentes originais de fábrica do BMW M3 E30, exceto pelo para-choque dianteiro de fibra de carbono. As rodas são BBS RK de 18 polegadas e abrigam freios com discos perfurados. A suspensão foi retrabalhada com molas e amortecedores KW, mas a Vilner não forneceu detalhes maiores a respeito da geometria.
Para quem não se importa muito com modificações estéticas, ao abrir o capô, topa-se com o seis-cilindros S50B32. Adotado no BMW M3 E36 europeu a partir de 1996, o motor deslocava 3,2 litros em vez dos três litros da versão anterior, a S50B30. O aumento no deslocamento foi conseguido através do curso ampliado para 91 mm e o diâmetro, para 86,4 mm. Além disso, diferentemente do S50B30, o S50B32 trazia o comando variável VANOS também nas válvulas de escape, enquanto as válvulas de admissão ficaram maiores. Outras modificações foram os pistões mais leves, válvulas revestidas com grafite, coletores de admissão e escape com fluxo otimizado, um novo volante para o motor e um módulo BMW Siemens MSS50, capaz de processar 20 milhões de instruções por segundo. Como resultado, o seis-em-linha de 3,2 litros entregava 321 cv a 7.400 rpm e 37,7 mkgf de torque – números consideravelmente mais empolgantes que os 286 cv a 7.000 rpm e 32,6 mkgf de torque a 3.600 rpm do motor de três litros. A Vilner instalou também também a caixa de cinco marchas do M3 E36.
Para instalar o S50 no M3 E30 é preciso realizar algumas modificações no cofre e fazer algumas adaptações – entre elas, aproveitar os suportes de alumínio do Série 3 E36 e os suportes de borracha do Série 6 E24. Além disso, é preciso refazer a instalação de acessórios como o compressor do ar-condicionado, visto que o cofre do M3 E30 foi feito sob medida para o motor S14. Também é preciso trocar o radiador original por outro mais fino e instalar uma nova ventoinha. No mais, o aspecto da instalação é de tirar o chapéu – parece até que este M3 veio com o S50 instalado de fábrica.
Até onde já vimos os projetos da Vilner, este certamente é o que tem mais condições de agradar aos entusiastas mais old school da BMW – a ideia de um E30 com motor de seis-cilindros se aproxima muito do que se considera o Santo Graal entre os apreciadores do M3.