Em 1967, um americano chamado Don Yenko provou à Chevrolet que eles estavam errados em não oferecer o motor V8 big block 427 no Camaro — o então recém-lançado muscle car da Chevrolet só recebia os motores menores para não canibalizar vendas do Corvette, mas o sucesso do Camaro Yenko/SC fez com que, dois anos depois, a própria Chevrolet decidisse criar sua versão original de fábrica. É uma bela história (que você pode ler aqui), mas saiba que o Camaro não foi o único Chevrolet no qual Don Yenko colocou as mãos — em 1969 ele decidiu dar seu tratamento especial ao Chevelle.
Foram feitos apenas 99 unidades do Chevelle Yenko/SC, das quais cerca de 35 sobreviveram até hoje. Os outros foram usados “até acabar” nas mãos de pilotos de arrancada. Não vemos problema nisso — era exatamente esta a finalidade que Don Yenko imaginava, afinal. E também era o que a Chevrolet queria — na época, a Ford estava dominando o circuito nacional de arrancada com suas variedades do Mustang e a Chrysler não ficava atrás com o Dodge Charger e o Playmouth Roadrunner, só para citar alguns. A Chevrolet tinha o Camaro, claro, mas quem é que se contentaria com um único representante nas pistas?
Mesmo o mais nervoso dos Chevelle de primeira geração, o Malibu SS, tinha visual bem comportado
O Chevelle, produzido desde 1963, era o cupê de médio porte da Chevrolet na época — maior que o Nova e menor que o Impala. O lançamento da segunda geração coincidiu com a chegada do Camaro, em 1967, e trouxe linhas mais sinuosas, perfil “garrafa de Coca-Cola” (como boa parte dos cupês americanos da época) e uma nova identidade visual. Havia uma boa variedade de motores, dos seis-em-linha de 3,8 e 4,1 litros (não muito diferentes dos que equiparam nosso Opala) ao V8 396 (6,5 litros) de até 375 cv brutos no Chevelle SS.
A coisas andavam bem rápido naquela época (pun intended), e as fabricantes americanas tinham o costume de atualizar o visual e as especificações de seus modelos anualmente ou, no máximo, a cada dois anos. Assim, em 1968 o novo Chevelle já recebeu sua primeira reestilização, com dianteira, traseira e interior remodelados.
A maior novidade, porém, veio no ano seguinte: o departamento de produtos da Chevrolet decidiu que era necessária uma versão ainda mais potente do que o SS, feita especialmente para pilotos de arrancada — afinal, como sempre lembramos, o lema da época era win on Sunday, sell on Monday. Na prática, um carro que chegava na frente de todos os outros nos 402 metros costumava ser a primeira opção dos entusiastas no piso da concessionária.
O sistema de encomendas especiais da Chevrolet, o Central Office Production Orders ou simplesmente “COPO”, foi acionado em 1969. A ideia era oferecer às concessionárias de toda a América do Norte uma versão do Chevelle capaz de rodar nas ruas, mas pronta para encarar as dragstrips com modificações mínimas.
Há certa discordância a respeito da origem da encomenda. A versão mais aceita diz que foi o departamento de produto da Chevrolet quem acionou o COPO, sob a ordem nº 9562, para encomendar algo entre 350 e 375 Chevelle equipados com o V8 L72, de 427 pol³ que, alimentado por um carburador quádruplo, entregava 430 cv brutos — motor que já equipava o Corvette Sting Ray desde 1966.
Contudo, há quem diga que isto não aconteceu, e que a ideia partiu de Don Yenko, inspirado pelo sucesso do Camaro Yenko, e que a Chevrolet só decidiu fazer o mesmo depois que Yenko encomendou 99 exemplares do Chevelle SS para instalar, em sua concessionária/preparadora, os novos motores.
Qualquer que seja a verdade, o fato é que em 1969 surgiu o Chevelle Yenko/SC, que além do novo motor trazia um câmbio manual de quatro marchas com relações mais próximas e a icônica bola branca na alavanca, que era fornecida pela Hurst, diferencial com relação final de 4,10:1, faixas decorativas nas laterais e no capô, inscrições “Yenko/SC” e “sYc” (que significavam a mesma coisa: Yenko Super Car) na carroceria e nos bancos e um novo sistema de escape. As faixas eram opcionais, bem como um teto de vinil e a direção com assistência hidráulica. Ao todo, 55 carros foram equipados com a caixa manual, enquanto o restante recebeu a caixa automática de três marchas TH400, também opcional.
O Chevelle jamais recebeu o mesmo reconhecimento que o Camaro feito por Don Yenko, talvez por não ter causado a mesma revolução na Chevrolet. Contudo, sendo absurdamente raro, é também um carro muito cultuado pela galera mais entendida. E é por isso que um exemplar à venda — como carro verde que ilustra esta matéria — é algo digno de nota.
Oferecido pela Mecum Auctions, este Chevelle verde com interior preto será leiloado em Harrisburg, na Pensilvânia, durante um evento que acontecerá entre os dias 30 de julho e 1º de agosto. O carro acompanha a nota fiscal original, emitida pela concessionária de Don Yenko à Sra. Josephine Gresko que, no dia 24 de junho de 1964 (exatamente 51 anos e cinco dias atrás) trocou seu Chevrolet Impala 1964 pelo carro das fotos.
Além dos itens já citados, Josephine encomendou seu Chevelle com rodas modelo Rally e pneus Goodyear Polyglas F70-15 — ambos oferecidos por um pacote adicional chamado COPO Sports Car Conversion, código 9737, que também incluía uma barra estabilizadora dianteira maior. Além disso, ela pediu o carro com banco dianteiro inteiriço, normalmente encontrado em carros com câmbio automático. O toque pessoal de Yenko ficou por conta de um conta-giros Stewart-Warner no painel.
Tudo isto torna este Chevelle Yenko ainda mais colecionável, sem falar no fato de que teve apenas dois donos. O segundo e atual proprietário comprou o carro em 1976 (quer dizer, seus pais compraram, porque ele era jovem demais para assinar a papelada) e está com ele até hoje, tendo realizado uma restauração completa e 100% fiel em 2013.
A Mecum não dá uma estimativa sobre o valor mas, como referência, em janeiro a agência Barrett-Jackson leiloou um exemplar que foi arrematado por US$ 275 mil, ou cerca de R$ 863 mil em conversão direta. Para efeito de comparação, em setembro de 2014 um legítimo Camaro Yenko — seu irmão mais famoso — foi anunciado no eBay por US$ 235.500, ou cerca de R$ 740 mil.