O sonho de todo moleque que gosta de carros é construir o seu próprio — este escriba, mesmo quando não tinha a menor ideia de como um carro funcionava, passava horas rabiscando modelos inexistentes em qualquer papel que encontrasse. É provável que o senegalês Baila Ndiaye também pensasse nisso quando era moleque porque, anos depois, foi exatamente isto que ele fez: um carro com suas próprias mãos, usando sucata e componentes de outros carros e motos.
O nome do carro é Syndiély. É o nome da filha de Abdoulaye Wade, ex-presidente senegalês que já participou de diversas edições do Rali Dakar. Dá para entender a referência — Ndiaye é fã dos ralis e o carro parece perfeito para enfrentar as dunas.
Ndiaye, de 51 anos, foi um dos muitos jovens senegaleses que foram para a França depois de terminar o ensino médio. Lá, ele abriu uma loja especializada em consertos de equipamentos eletrônicos em Mulhouse, na fronteira com a Alemanha. Quinze anos depois, com a vida feita, ele voltou ao Senegal com a ideia de construir seu próprio carro.
“Quando eu tinha seis ou sete anos, não tinha nenhum brinquedo, e por isso fiz um carrinho usando fios de arame”, Ndiaye contou ao site francês . “De certa forma, eu reconstruí o carrinho da minha infância quando fiz o Syndiély.”
De fato, as proporções do carro parecem as de um brinquedo: largo, de entre-eixos curto, com rodas enormes e um único banco para o motorista. O Syndiély parece uma mistura de buggy de praia com monoposto de corrida — movido por um motor boxer de 1.000 cm³ vindo de uma moto BMW.
A estrutura tubular foi feita usando metal de sucata, assim como os painéis da “carroceria”. A suspensão veio de um Peugeot 205 — o que ajuda a entender a agilidade do bicho:
Dá para ver que Ndiaye tem bastante orgulho de sua criação – e que se diverte bastante ao volante do carro, que tem motor e tração traseiros. Mas o carro não foi feito só por diversão.
“Aqui na África, precisamos de mais máquinas para nos desenvolvermos. Isto nos deixa duas opções: ou compramos e nos afundamos em dívidas, ou nós mesmos as construímos com os materiais que já temos.
Foi isto o que eu quis fazer quando construí o Syndiély”, ele conta ao France 24. “Eu queria mostrar que a gente pode fazer o que quer usando apenas o que a gente tem. Claro que o meu carro não é perfeito, mas as pessoas agora sabem que dá para construir um carro de verdade usando quase nada.”
Ainda que não tenha conseguido registrar o carro para rodar nas ruas por causa da burocracia, Ndiaye dirige normalmente, e diz que as autoridades não se incomodam. Ele até pretende dar início à produção em série, assim que descobrir uma maneira viável de fazê-lo. Enquanto isto, seu próximo objetivo é construir um avião ultraleve — novamente, usando apenas sucata e criatividade.
Obviamente que o Syndiély não é o carro mais bonito ou veloz, mas é impossível não admirar a filosofia de “fazer o que se quer usando o que se tem”. E pode apostar que adoraríamos dar uma volta no carro de Baila Ndiaye.