O vídeo que vamos mostrar aqui pode fazer duas coisas: te motivar a restaurar um carro antigo ou te fazer jurar que jamais embarcará em uma empreitada como esta. De um jeito ou de outro, trata-se de uma pequena obra-prima.
Os protagonistas são dois: George Karellas, youtuber, entusiasta e restaurador automotivo; e seu Range Rover 1991. A trama é simples: George pegou o carro das mãos de seu tio, que comprou o Range Rover zero-quilômetro e o utilizou quase diariamente por 25 anos. A ideia era fazer uma reforma simples e documentar tudo em formato de stop motion – dar um jeito em alguns pontos de corrosão, consertar o estofamento e deixar o utilitário com boa aparência. O suficiente para uso constante, como seu tio havia feito. George imaginava que o serviço todo levaria dois ou três meses. Mal sabia ele…
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Quanto mais fuçava, mais George percebia que a carroceria estava severamente comprometida pela corrosão – então, o que levaria dois ou três meses acabou se arrastando por quatro anos, incluindo não apenas a restauração, mas a filmagem, a edição e a pós-produção do vídeo.
O resultado é um vídeo longo, de quase 1h30 – mas, acredite: vale a pena você separar este tempo para assistir.
É claro ver o carro tomando forma, com soldas aparecendo e peças se encaixando como se fosse mágica, é algo hipnotizante, mas há muito mais para apreciar neste projeto além do stop motion em si.
Para começar, independentemente da pegada artística do vídeo, é raro que tenhamos uma oportunidade de observar o processo de recuperação de um carro antigo com tantos detalhes. George mostra cada milímetro do carro que está afetado pela corrosão, o processo de remoção das partes deterioradas e o conserto – que invariavelmente envolve cortar as partes afetadas e fabricar, do zero, as partes de metal que faltam. Absolutamente tudo é documentado.
A carroceria não foi removida do chassi, o motor não foi aberto, e nenhum componente foi substituído sem necessidade. Não foi uma restauração completa, com novos revestimentos, motor refeito, nem nada do tipo. A ideia era mesmo montar o Range Rover para uso, deixando-o funcional, confiável e com todos os acabamentos em seus devidos lugares.
Ainda assim, o carro foi desmontado para que se pudesse refazer caixas de ar, assoalho e para-lamas, além de remover quaisquer indícios de corrosão – incluindo lugares de difícil acesso, como a área na base do para-brisa, sob o capô, ou as bordas do teto solar. O interior foi removido para uma limpeza geral e para caçar quaisquer defeitos, mas todos os componentes originais foram mantidos, incluindo as marcas do tempo – que, nesse caso, podem ser exibidas como troféus.
Nos comentários do vídeo, George dá um panorama geral da história do carro. Ele conta que seu tio o comprou novo em 1991 e era um homem muito rigoroso na manutenção – o carro passou por quase todas as manutenções programadas em 25 anos (atrasando apenas duas, uma por 60 km e outra por 800 km), rodou mais de 330.000 km sem jamais ter tido o motor aberto, e estava com a mecânica em ordem. O tio de George nunca economizou na manutenção do SUV, e a recompensa veio depois.
George decidiu ajudar o tio a se livrar do Range Rover quando soube que seu destino era o ferro-velho – o que ele achava muito triste, considerando o quão bem o utilitário havia servido sua família por tanto tempo, incuindo várias viagens de balsa, tendo passado a maior parte do tempo em uma casa no litoral. Ele conta que, na época, o carro havia recebido um novo jogo de freios e novos amortecedores fazia poucos meses, bem como uma revisão mecânica geral.
O problema era mesmo a estrutura. Além do fato de ser um carro de praia, os Range Rover antigos não são exatamente famosos por sua resistência à corrosão. Por mais que a maior parte dos painéis da carroceria fosse de alumínio, a tampa do porta-malas, os para-lamas e partes como as caixas de ar e soleiras eram de aço, bem como assoalho. A corrosão era um problema comum nestes carros – e, para piorar, George explica que, embora a manutenção mecânica estivesse em dia, os funileiros que cuidavam do carro de seu tio “não estavam fazendo um trabalho adequado, sem que ele soubesse.” Em alguns momentos, é possível ver que a corrosão parece superficial – mas só parece.
Como já dissemos, a ideia inicial não era deixar o carro impecável, como novo – mas, ainda assim, foram necessários quatro anos de trabalho do início ao fim. Contudo, George ressalta que se não fosse a produção do stop motion, certamente o tempo da restauração seria cortado pela metade. Alguns procedimentos simples e rápidos, que levariam meia hora para ser feitos normalmente, se arrastavam por três ou quatro horas por causa das fotos.
Esta é a outra coisa que temos a obrigação de admirar neste projeto. A dedicação que George teve de praticar para produzir o filme é absurda. Em outro vídeo, ele conta que o stop motion foi feito em 24 quadros por segundo – ou seja, que foi preciso tirar 24 fotos para produzir cada segundo do vídeo. Calculando de forma grosseira: em 1h30 de vídeo são 5.400 segundos. Se cada segundo tem 24 quadros, foram tiradas quase 130.000 fotos.
Detalhe: cada uma destas fotos foi tratada individualmente para dar uniformidade à luz e à cor do vídeo, até mesmo por causa da mudança de iluminação – alguns segmentos que, no filme, duram apenas cinco ou dez segundos, na verdade foram realizados ao longo de alguns dias. E George fez tudo, absolutamente tudo, sozinho. O carro jamais saiu de sua garagem para ir a uma oficina.
O segundo vídeo, aliás, mostra um Lotus Esprit no qual George está fazendo a mesma coisa. Detalhe: foi postado um ano atrás (sim, só vimos agora…), e desde então não houve mais atualizações sobre o carro no canal. Mas, considerando a atenção aos detalhes que demonstra no Range Rover, certamente o Esprit vai levar ainda mais tempo para ficar pronto.
Sugestão do FlatOuter Rodrigo Leite