Jorge Azcoitia é um gearhead como você e eu. Ele gosta de carros que a maioria das pessoas “normais” diria que é só um carro velho, prefere passar horas vagas fuçando no carro do que em um bar ou uma balada e quase todo o seu tempo na Internet é dedicado a ler, assistir e discutir sobre carros. Só que ele tem sorte, pois conseguiu comprar o carro dos seus sonhos nos EUA, levá-lo para sua casa na Espanha e, desde então, aproveitou cada minuto com ele — e ainda virou menos de nove minutos em Nürburgring Nordschleife.
Não estamos falando de um piloto profissional, mas de alguém dedicado, que pratica sua técnica sempre que pode e, acima de tudo, vive intensamente cada minuto atrás do volante. Jorge se mudou para os EUA há cerca de cinco anos a trabalho, e decidiu que compraria um carro bacana. Primeiro, ele havia pensado em um Mustang clássico dos anos 60, mas logo descobriu que eles eram mais caros do que pensava. Sendo assim, Jorge mudou o foco da sua busca para carros mais baratos, como o Mazda Miata, o BMW M3 E36 e o Audi Quattro.
Não demorou para que ele se desse conta de que na Califórnia, onde morava, também existiam muitos Toyota AE86 bem conservados a um preço bacana. Jorge, que, como muitos de nós, já conhecia muito bem a fama do carro graças a Initial D (mas não apenas ao mangá/anime), também decidiu incluir o clássico japonês de Takumi Fujiwara nas buscas.
Depois de procurar por alguns meses, ele finalmente encontrou o carro perfeito: íntegro, relativamente bem cuidado, com todos os equipamentos originais funcionando, a um preço bacana e levemente preparado (com comandos mais agressivos, escape menos restritivo, rodas mais largas e suspensão mais firme). Então, ele fez o que todos nós faríamos: comprou o carro, trocou as peças ruins — sem reclamar, pois sabia que um carro de mais de 25 anos de idade tem dessas coisas — e foi correr com ele.
Reconhece esta curva? Sim, é o Corkscrew (“Saca-rolha”), em Laguna Seca!
Os adesivos no teto, do lado de dentro, mostram os circuitos nos quais o carro já esteve — começando por Willow Springs e toda as suas variações na Califórnia e vários outros circuitos pela região, sempre aperfeiçoando sua técnica e aprendendo os macetes do carro, além de usar a experiência para melhorar relações de marcha e acertos na geometria da suspensão.
O visto americano de Jorge expirou no fim de 2013, e ele precisou voltar para a Espanha. Mas ele não voltaria sem seu carro – e, por sorte, a burocracia para importar um carro para lá não é, nem de longe, complicada como aqui. Em onze semanas o carro estava em sua casa em Madrid — e, sem nem trocar pneus, ele levou o carro para o Circuito de Jarama.
O próximo passo foi economizar para uma viagem até Nürburgring Nordschleife — na qual mataria dois coelhos com uma cajadada só: correr no Inferno Verde e tentar virar menos de nove minutos, sendo que esta última ideia veio depois que ele assistiu àquele vídeo com um Citroën AX a diesel de 52 cv dando uma volta no circuito em menos de dez minutos. “Se ele consegue em menos de dez, eu consigo em menos de nove.”
Depois de passar por Spa Francorchamps (que, segundo ele, “é logo ali”), Jorge chegou ao Nürburgring e viu que o circuito estava lotado. Ele tinha direito a nove voltas, e levou seis para conseguir seu objetivo — sem nem parar para deixar o motor esfriar. Todas as voltas foram postadas em seu canal no YouTube, e a volta “perfeita” (na qual ele virou exatamente 8:59,0) está no vídeo abaixo:
Ele diz que o segredo é entender as limitações do carro. Apesar de ser famoso entre os drifters, segundo Jorge o AE86 tem uma leve tendência a sair de frente nas entradas de curva — é nas saídas que a traseira começa a escapar, e o desafio é sair carregando a maior velocidade possível. É disso que ele gosta em seu Trueno: ele te desafia constantemente e te força a melhorar.
Não é um carro muito rápido, mas isto também não importa — tanto que, um amigo de Jorge nos EUA andou no carro em Willow Springs, e deixou que ele andasse em seu 911 GT3. Ambos se divertiram muito, e no final o amigo disse: “seu carro não anda nada… mas eu quero um!” É o tipo de coisa que um AE86 faz com você…
[ Fotos: Jorge Azcoitia/Motoring con Brio]