Há três ou anos, havia uma boa quantidade de carros que já tinham décadas de vida, mas resistiam bravamente ao avanço da engenharia automotiva e continuavam em produção. Carros como o Fiat Uno (1983-2013), a VW Kombi (1949-2013) e o Lada Laika (1970-2012), todos com mais de trinta anos de existência, seguiam a mesma receita básica de quando foram lançados.
Isto é admirável, sem dúvida, mas vamos aos fatos: por mais carismáticos e eficientes no cumprimento de sua proposta que fossem, estes carros já eram bastante ultrapassados, e seu descanso foi merecido (exceto no caso do Land Rover Defender, descontinuado este ano, que para nós ainda merecia uma sobrevida).
O exemplo mais recente é o Nissan Tsuru – que nada mais é do que a segunda geração do Sentra, lançada em 1990 e também conhecida como Nissan Sunny. De acordo com o site Automotive News, deixará de ser fabricado em maio de 2017. Tsuru significa “cisne” em japonês.
Lançado no México em 1991, o Tsuru utilizava motores de 1.6 8v e 2.0 16v (muito parecido com o motor SR20 do Nissan Silvia, diga-se) e não teve alterações significativas nestes 25 anos, com exceção de algumas mudanças estéticas, ergonômicas e de acabamento. Para quem é jovem demais para lembrar direito da época em que o Fusca era o carro mais popular do México, é o Tsuru quem ocupa este posto – tanto que, poucos anos depois do lançamento, o Tsuru já era quase tão popular quanto o Besouro entre os taxistas. E, claro, a maioria deles está na ativa até hoje.
Nestes 25 anos, a Nissan vendeu nada menos que 2,4 milhões de unidades do Tsuru. O motivo para tirá-lo de linha não tem a ver com seu desempenho nas vendas, porém, e sim com as novas normas de segurança automotiva mexicanas, que deram ao Tsuru zero estrela no teste de colisão. Ele não tem airbags e nem freios ABS, e a Nissan acredita que as modificações necessárias para instalar o sistema simplesmente não compensam.
De qualquer forma, a Nissan vai lançar uma série especial comemorativa de 1.000 unidades para marcar o fim do Tsuru.
Mas ainda existem alguns carros veteranos – isto é, com vinte anos ou mais – em produção no mundo. Eles estão cada vez mais raros, mas ainda existem. Vamos dar uma olhada neles agora!
Mercedes-Benz G-Wagen
Diferentemente do Land Rover Defender, o Mercedes-Benz Geländewagen (que significa “veículo cross-country) ou simplesmente G-Wagen continua sendo produzido. Mais do que isto, vendendo muito bem.
Desenvolvido na década de 1970 para uso militar, o G-Wagen ganhou uma versão civil em 1979 e, desde então, não parou mais. Até 1990, eram utilizados apenas motores de quatro, cinco e seis cilindros em linha, a gasolina ou a diesel. Depois disso, motores V6 e V8 foram introduzidos, e foram adotados freios ABS, tração integral permanente e três diferenciais com bloqueio eletrônico. À parte de modificações estéticas e de novas versões de acabamento, o G-Wagen não mudou quase nada desde então.
Agora, a Mercedes-Benz planeja sua primeira grande atualização. Flagras do G-Wagen 2018, porém, mostram que o visual não vai mudar quase nada, e vai continuar quadrado, robusto e old-school. Por baixo da carroceria, porém, será adotado um novo sistema de suspensão e uma estrutura mais leve, com materiais mais resistentes, porém ainda baseada na original. Em time que está ganhando, afinal, não se mexe.
Lada Niva
Desde 1977, quando começou a ser produzido pela AutoVAZ, o Lada Niva não mudou quase nada. E ele nem precisa – na Rússia, seu maior mercado (em todos os sentidos), a fórmula jamais precisou de mudanças radicais para mantê-lo capaz de enfrentar as piores estradas, cobertas por neve durante boa parte do ano.
Estruturalmente, o Niva compartilha componentes com nosso adorado Laika, enquanto diversos elementos mecânicos e de acabamento vêm de outros modelos da linha Fiat, como o 127/147. O sistema de tração integral e a suspensão, porém, foram desenvolvidos pela própria AutoVAZ. Com isto, o Niva foi o primeiro utilitário produzido em massa a usar estrutura monobloco em vez de carroceria sobre chassis, suspensão dianteira independente e molas helicoidais em vez de feixes de molas — o princípio básico de quase todo SUV e crossover moderno.
São produzidas várias versões desde 1977 — entre-eixos longo, entre-eixos curto, picape, furgão —, mas a mais conhecida é a de entre-eixos curto e duas portas. No ano passado o Niva passou por modificações estéticas bem discretas e atualizações mecânicas, como a substituição do motor 1.6 carburado por um 1.7 com injeção monoponto nos anos 90 e, a partir de 2004, a adoção da injeção multiponto e… basicamente é isto. E por isso mesmo ele é incrível.
Chevrolet Nexia
A história deste cara é complicada e você talvez não o reconheça à primeira vista, mas o Chevrolet Nexia é nada menos que o nosso conhecido Kadett, vendido no Brasil entre 1989 e 1998.
No nosso post sobre o aniversário do Kadett, falamos sobre a versão sedã que não tivemos por aqui, lembra? Pois o Chevrolet Nexia (que era vendido como Daewoo Nexia até 2012) é um Kadett sedã com nova dianteira, nova traseira e novo interior, mais uma versão de 1,6 litro e 110 cv do motor GM Família 1, largamente empregado no Brasil até a aposentadoria do Classic, neste ano.
O Chevrolet Nexia é vendido no Uzbequistão desde 1996, e ganhou o visual que tem hoje em 2008. Vamos ser sinceros: não é um carro bonito, e talvez por isso a Chevrolet não tenha uma só foto do carro inteiro em seu site – apenas de detalhes isolados.
Peugeot 405
No Brasil, o Peugeot 405 é um importado cult da década de 1990. Um carro que custa pouco e entrega muito, especialmente se você tiver um ponto fraco por automóveis franceses. No Irã e no Egito, porém, ele ainda pode ser comprado zero-quilômetro como Peugeot Pars. Como no caso do Kadett, ele também recebeu uma nova dianteira e uma nova traseira, de desenho mais moderno, e continua utilizando os motores 1.6, 1.8 e 2.0 empregados pela Peugeot na década de 1990 – no Brasil, inclusive.
Quer algo ainda mais curioso: o Iran também tem o Peugeot ROA, um carro que é uma cópia exata, na carroceria e no interior, do 405 antigo, porém é feito sobre a plataforma do Paykan, carro popular iraniano lançado vendido entre 1965 e 2005. O detalhe é que ele tem tração traseira!
Toyota Comfort e Toyota Century
A Toyota pode até ser uma das fabricantes que mais investem em inovações atualmente (é só lembrar do híbrido Toyota Prius e de sua quase-vitória em Le Mans com um protótipo híbrido) mas, veja só: eles também são responsáveis por manter vivos dois dos automóveis mais tradicionais do Japão.
O Toyota Comfort é um simpático sedã quadradinho que, desde 1997, é fabricado para frotistas. A simplicidade da receita encanta: motor a diesel de dois litros na dianteira, tração traseira e apenas o mínimo para ser considerado confortável e honrar o nome. O Toyota Comfort é mais comumente utilizado como táxi e veículo de autoescola, e pode levar até seis pessoas graças ao banco dianteiro inteiriço e ao câmbio com alavanca na coluna de direção.
Existiu até mesmo uma versão esportiva! Em 2003, a Toyota fez 59 unidades do TRD Comfort GT-Z Supercharger, equipado com motor de 160 cv e câmbio manual de cinco marchas – além de um visual bem interessante.
Já o Toyota Century é o carro mais luxuoso da fabricado pela Toyota, voltado a executivos e representantes do governo — sendo, em versão limusine, o carro oficial do Imperador do Japão. A fabricante faz questão de manter o mesmo estilo desde 1967, quando a primeira geração foi lançada. A segunda e atual geração foi apresentada em 1997 e permanece a mesma até hoje.
A primeira geração do Toyota Century
O detalhe mais legal é que, enquanto a primeira geração utilizava motores V6 e V8, o Century atual é movido por um motor V12 – na verdade, o único V12 japonês feito para um carro produzido em série. Dotado de comando variável VVT-i nos cabeçotes e taxa de compressão de 10,5:1, o chamado 1GZ tem 310 cv.