Se há 15 anos alguém dissesse que o mercado brasileiro tem preferência por carros automáticos e que eles seriam a regra da indústria local, esse alguém certamente seria chamado de louco. Diriam que ele vive em uma bolha, que o Brasil não é os EUA, que nosso mercado é mais parecido com o europeu, onde os carros são menores e mais espartanos, que câmbio automático é caro e tudo mais.
Passados estes 15 anos, o tempo mostrou que aquele cenário que parecia improvável era apenas um prenúncio da realidade. Já faz algum tempo que os carros automáticos chegaram aos segmentos inferiores do mercado e se tornaram cada vez mais presentes. Em 2018 até mesmo o Gol recebeu uma caixa de seis marchas com conversor de torque, exatamente como a dos Jetta — quem poderia imaginar que o Gol um dia seria equipado com câmbio automático?
Algo interessante de se notar foi como as transmissões automatizadas tiveram um papel relevante nessa popularização do câmbio automático. Propostos como uma alternativa barata aos automáticos, eles foram relativamente bem-aceitos e cumpriam a tarefa de aliviar o trabalho de embrear-trocar marcha-desembrear centenas de vezes por dia no pára-e-anda das grandes cidades.
Hoje, em 2023, o câmbio manual acabou relegado aos modelos de entrada — o último resquício dos carros simplificados que eram os populares de antigamente. Com itens obrigatórios e outros equipamentos de conforto indispensáveis pelo mercado, sobrou pouco para simplificar, e o câmbio manual é parte desta pequena lista.
Isso fica mais evidente quando se compara a oferta atual de carros com transmissão manual. Em 2021 e 2022, quando as fabricantes estavam concentradas nos modelos de maior valor agregado, a oferta de carros manuais diminuiu para 15 modelos. Hoje, este número está um pouco maior e há oferta de câmbio em versões de entrada de modelos superiores como a Chevrolet Montana ou o Fiat Pulse.
Algumas fabricantes abandonaram completamente o câmbio manual. A Honda oferece apenas seu onipresente câmbio CVT no City e no HR-V — seus dois únicos modelos de grande volume atualmente. O Civic Híbrido, claro, tem uma transmissão diferente — mas ainda automática. Toyota, Ford e Nissan também abandonaram, mas só nos modelos de passeio; o câmbio manual ainda resiste nas versões de entrada das picapes.
Por um breve momento a Honda e a Toyota voltarão a ter carros de passeio com câmbio manual — e os leitores mais sagazes já sabem o porquê: a chegada do Toyota GR Corolla e do Honda Civic Type R ao Brasil. O lançamento da dupla já foi confirmado pelas fabricantes e deve acontecer em algum momento entre o fim deste semestre e o início do próximo.
Renault
Das fabricantes que ainda oferecem câmbio manual, a Renault é a que tem o maior número de opções. Além do Kwid, que é oferecido em três versões somente com câmbio manual, há ainda o Sandero, digo, o Stepway, que é oferecido com caixa manual nas versões Zen 1.0 (R$ 79.990) e Zen 1.6 (R$ 101.890); o Logan, que não tem opção de caixa automática em nenhuma de suas duas versões (Life, de R$ 89.560, ou Zen, de R$ 92.960); e a picape Oroch, que oferece manual em duas de suas três versões (Pro, de R$ 114.750 e Intense, de R$ 120.950).
O Duster também tem opção manual, mas somente na versão de entrada Intense, de R$ 110.990. O outro SUV da Renault, o Captur, é oferecido somente com CVT.
Fiat
Junto da Renault, a Fiat também oferece cinco modelos com câmbio manual. Além da linha completa do Mobi, que nunca foi pensado para ter automático ou automatizado, ela oferece o Argo 1.0 (R$ 78.590), o Argo Drive 1.0 (R$ 81.990) e o Argo Trekking 1.3 (R$ 89.990); o Cronos 1.0 (R$ 84.790), e o Cronos Drive 1.0 e 1.3 (R$ 88.890 e R$ 93.990); o Pulse Drive 1.3 (R$ 98.990); e a Strada nas versões Endurance (R$ 97.990), Freedom (R$ 103.990 cabine estendida e R$ 108.990 cabine dupla), e Volcano (R$ 110.990).
Chevrolet
A oferta da Fiat, aparentemente, é o que força a Chevrolet a manter sua atual oferta de modelos com câmbio manual — especialmente na linha Montana, que tem as versões 1.2 Turbo (R$ 116.890) e LT MT (R$ 121.990) com o câmbio manual de seis marchas.
Além dela, também há a Spin Premier (R$ 130.290), em um raro caso de versão superior com câmbio manual — as demais Spin são todas automáticas. Depois é a linha Onix que oferece o câmbio manual, mas apenas nas versões com motor 1.0 aspirado — 1.0 MT (R$ 82.490), LT MT (R$ 84.300) e Plus LT MT (R$ 88.940).
A Chevrolet ainda oferece a S10 cabine simples (R$ 252.970) e a cabine dupla LS (R$ 255.880) com o câmbio manual de seis marchas.
Volkswagen
A Volkswagen, que colocou câmbio automático até mesmo no Gol e tentou oferecer o Up com o i-Motion, hoje tem uma oferta razoavelmente ampla de modelos com câmbio manual — com motor turbo, inclusive. É o caso do Polo TSI (R$ 94.490) e do Virtus TSI (R$ 103.990).
O Polo ainda é oferecido com o câmbio manual nas versões Track (R$ 80.580) e MPI (R$ 84.490). Por último, há a velha guerreira Saveiro, oferecida com câmbio manual em todas as suas quatro versões (de R$ 93.380 a R$ 123.080).
Hyundai
A Hyundai tem apenas dois modelos com câmbio manual, o HB20 e o HB20 S, mas também os oferece combinados ao motor turbo. O HB20 Sense (R$ 79.490) é o mais barato deles, seguido pelo HB20 Comfort (R$ 82.790) e pelo HB20 Comfort TGDI (turbo, R$ 96.490).
O HB20 S, por outro lado, só tem câmbio manual com o motor aspirado – as versões Comfort (R$ 88.790) e Limited (R$ 94.290). E só isso.
Citroën e Peugeot
A dupla francesa, apesar de fazer parte da Stellantis — que oferece um monte de carros manuais na Fiat —, tem só dois carros com câmbio manual: o popular Citroën C3 e o elegante Peugeot 208.
O C3 tem câmbio manual em todas as suas versões — da Live 1.0 (R$ 72.990) à First Edition 1.0 (R$ 88.990), além da Feel 1.6 (R$ 91.990). Já o 208 oferece apenas o câmbio manual combinado ao motor 1.0 nas versões Like e Style (sem preço divulgado).
Ford, Toyota e Nissan
As três marcas ainda oferecem o câmbio manual, mas somente em suas picapes. A Ford Ranger XL cabine simples (R$ 230.490) e a cabine dupla (R$ 244.890) são as únicas duas opções manuais na Ford.
Na Toyota só a Hilux cabine simples (R$ 226.790) e a cabine dupla STD Power Pack (R$ 242.590) oferecem a transmissão manual, enquanto na Nissan a Frontier S (R$ 245.090) é a única opção manual.
Nem os esportivos?
Das marcas premium, somente algumas edições especiais da Porsche – como o 718 GT4 RS — são oferecidos com câmbio manual. Os demais modelos têm como padrão o câmbio PDK. Entre os esportivos manuais, teremos que esperar a chegada do Honda Civic Type R e do Toyota Corolla GR mesmo, ambos são oferecidos somente com caixa manual e, como já dito anteriormente, estão confirmados para o Brasil. Com isso, teremos 27 modelos com câmbio manual oferecidos no Brasil. Foi o que restou…
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