Vivemos uma rotina cada vez mais intensa e ocupada, e está cada vez mais difícil encontrar tempo para apreciar algumas belezas da vida. E, para nós, entre as belezas da vida incluem-se estes dois vídeos feitos pelos caras do Petrolicious. Permita-se desacelerar por alguns minutos, encontre um bom par de fones de ouvido e aprecie.
Não é a primeira vez que exaltamos as produções do Petrolicious por aqui. Até os incluímos na nossa lista de melhores canais automotivos do Youtube. Os caras sempre se preocupam muito com a fotografia, a qualidade do áudio e o roteiro dos vídeos, e sua forma de contar histórias de carros através de personagens (ou de personagens através de carros) acabou inspirando outros canais a criar conteúdo neste mesmo estilo. Alguns são bacanas, outros são cópias descaradas, mas isto não vem ao caso agora.
O que importa é que, ultimamente, o nível do Petrolicious tem ficado ainda mais alto. Duas de suas produções mais recentes são provas incontestáveis disto.
O primeiro vídeo que vamos mostrar é uma pequena homenagem à Ferrari 288 GTO. Você sabe de qual delas estamos falando: aquela que nasceu como protótipo para o Grupo B da FIA, mas acabou tornando-se a precursora da Ferrari F40. Ela tinha um V8 biturbo de 2,8 litros (daí seu nome, referente ao deslocamento e à quantidade de cilindros, ainda que na prática sejam 2,85 litros) capaz de entregar 400 cv e levar a 288 GTO até os 100 km/h em cinco segundos, até os 200 km/h em 15 segundos e continuar acelerando até os 304 km/h. Aliás, ela foi o primeiro carro de rua a ultrapassar os 300 km/h.
O ronco do V8 F114, montado em posição longitudinal e sobrealimentado por dois turbos IHI, é um daqueles sons que entram pelos ouvidos, descem até a base da espinha e voltam para arrepiar os pelos da sua nuca. Dá até para fechar os olhos ou trocar a aba do navegador e curtir o vídeo mesmo assim.
No entanto, a produção cinematográfica impressiona ainda mais. Com um conceito simples – em vez de tomar um café, desça até a garagem, entre em sua 288 GTO, vire a chave e saia acelerando por aí – os caras conseguiram criar uma verdadeira obra de arte com menos de dois minutos de duração. É claro que o cenário e o carro ajudam: uma estrada sinuosa cheia de árvores em volta, em algum lugar dos EUA, invadida por um exemplar impecável de uma das melhores crias de Maranello.
O carro pertence ao colecionador David Lee, nascido em Hong Kong e naturalizado americano, conhecido como um dos maiores entusiastas de Ferrari do planeta. E é ele mesmo que apareceu ao volante do carro no vídeo. Conseguimos sentir o quanto ele aproveita cada segundo ao volante de sua máquina, exatamente como nós faríamos.
Aliás, David Lee foi quem cedeu todas as cinco Ferrari utilizadas naquele comparativo que mostramos há alguns meses, Ferrari Big 5:
No fim das contas, descobrimos que o vídeo é uma espécie de anúncio para o programa de usados certificados pela Ferrari – você compra um exemplar usado pagando um pouco mais caro por ele, mas tem garantia de procedência e manutenção autorizada. A gente não se importa em apreciar um comercial se ele for realmente bom. Além disso estamos convencidos: quando comprarmos a 288 GTO oficial do Flatout, vai ser assim.
O outro vídeo segue o formato tradicional do Petrolicious. É mais longo, com quase 10 minutos de duração. Conta a história de Hans-Michael Gerischer. Ele não é exatamente famoso no meio automotivo, mas nem todo personagem que nos inspira precisa sê-lo.
Ele tem um Porsche 930, versão turbinada da segunda geração do nine-eleven, a 964. O carro já está com Gerischer há 21 anos e, em todo este tempo, sempre foi aperfeiçoado por seu dono.
Gerischer conta que, como muitos de nós, é louco por carros desde que se entende por gente. Desde que tem idade para dirigir ele fuça em seus próprios carros, e não demorou muito para que descobrisse que sua paixão era o Porsche 911 Turbo.
Para Gerischer, o 930 traz exatamente o que ele quer em um carro: a aura, a sensação e o visual de um clássico com o desempenho e a dinâmica de algo relativamente moderno. Original, o 911 Turbo original tinha um flat-six de três litros que, graças ao turbocompressor, entregava 260 cv. Era um carro naturalmente violento, com o peso todo concentrado na traseira, e ficou ainda mais com a entrega abrupta de potência quando a turbina “enchia”.
Alguns dizem que isto é um desafio. Outros, como Gerischer, consideram esta a melhor forma de se aperfeiçoar como piloto. Tanto que, um belo dia, ele viu que suas habilidades já ultrapassavam os desafios que o carro lhe apresentava. Assim, ele decidiu melhorar o carro. E, com o carro melhor, conseguiu desenvolver-se ainda mais como piloto. E assim tem sido nas últimas duas décadas.
O vídeo não detalha as modificações feitas por Gerischer em seu 930, mas isto é só um detalhe. O que importa é que sua devoção pelo Porsche 911 de segunda geração e a experiência adquirida com seu próprio carro, que começou como daily driver e tornou-se um hobby, o levaram a abrir sua própria oficina especializada na restauração e na manutenção do 964, a Manufaktur 964, que fica em Mannheim, na Alemanha. Seu 930 modificado atua como o “carro propaganda” da oficina, e o faz da melhor forma possível: acelerando na pista sempre que é possível.
No fim das contas, os dois vídeos acabam sendo um exemplo prático do que dissemos no início deste post. Precisamos desacelerar para apreciar as coisas bonitas da vida. E, ironicamente, uma das coisas bonitas da vida é, também, acelerar.
Fotos: Petrolicious