Parece que esse negócio de colocar vários esportivos e supercarros lendários juntos na pista está virando moda: primeiro, foram os caras do clube Supercar Driver, com sua disputa tripla entre LaFerrari, McLaren P1 e Porsche 918 Spyder. Depois, o youtuber Salomondrin fez o mesmo, mas adicionou o Bugatti Veyron e o Pagani Huayra ao bolo.
Agora, ele está de volta com outro comparativo quíntuplo que vai fazer certos leitores delirarem — especialmente os apreciadores das deusas italianas: nada menos que cinco Ferrari se reúnem no circuito de Thermal Club, na Califórnia, a fim de mostrar a todos como foi a evolução dos supercarros do cavallino rampante. Alguém duvida que será épico?
Pois é, nem a gente. Afinal, por mais que existam outros supercarros lendários, velozes e bonitos como as Ferrari, há algo de mágico em ver tantas montarias mecânicas italianas reunidas. Ainda mais se tratando de todos os topo-de-linha que a companhia fez nos últimos 30 anos, começando pela 288 GTO, passando pela F40, a F50 e a Enzo e terminando, claro, na LaFerrari.
Neste primeiro vídeo, Salomondrin (que vem se mostrando um ótimo apresentador, diga-se) nos conta que o foco do comparativo será a evolução — a força da natureza que privilegia os seres vivos melhor adaptados ao ecossistema que habitam e os seleciona para continuar perpetuando a espécie, passando a seus descendentes as características que os fizeram sobreviver.
É claro que, por mais que a gente goste de embutir personalidades a automóveis e compará-los a mulheres ou animais, carros não são seres vivos e não existe uma “seleção natural”. A evolução, no caso dos automóveis (e aqui, especificamente, da Ferrari), tem a ver com a capacidade de se reinventar e, muitas vezes, abandonar uma fórmula que está funcionando para apostar em uma inovação que pode redefinir o futuro — ou, ao menos, fazer com que determinado carro continue sendo a referência em seu segmento.
Pensando desta forma, faz sentido ver uma sequência de cinco supercarros italianos que foram sendo lançados em três décadas: os flagships da Ferrari são um exemplo perfeito de evolução automotiva, e isto fica bem claro quando percebemos as semelhanças e diferenças entre 288 GTO, F40, F50, Enzo e LaFerrari.
A verdade é que, como foi feito com o Hyper 5, este comparativo (espertamente chamado de “Ferrari’s Big 5”) será dividido em três partes. Nesta primeira, Salomon decidiu apresentar os três mais antigos: 288 GTO, F40 e F50. A escolha faz sentido: depois da F50, começou a era moderna, representada pela Enzo e pela toda-poderosa LaFerrari. Além disso, a evolução entre as três é bastante evidente.
Primeiro, temos a clássica 288 GTO. Ela é a escolha óbvia, não apenas por sua idade: além de ter sido o primeiro flagship da marca ao empregar o layout de motor central-traseiro, sua origem está em um lugar improvável para uma Ferrari — os ralis. Ela a foi criada originalmente para homologar a versão de competição que seria usada no Grupo B do WRC mas, como sabemos, ela acabou não competindo.
“Este vídeo de novo?” Sim, este vídeo de novo. Dá o play logo!
Na real, isto só a torna um carro ainda mais especial (uma Ferrari no Grupo B, cara!). Porque, de qualquer forma, estamos falando de um superesportivo que, em 1984, tinha um V8 de 2,85 litros (2.855 cm³) com dois turbos, 405 cv e 50,6 mkgf de torque. Era o bastante para chegar aos 100 km/h em cinco segundos e a velocidade máxima era de 306 km/h. Detalhe: a 288 GTO foi o primeiro carro produzido em série a ultrapassar os 300 km/h, e também a primeira Ferrari produzida em série com motor turbinado. Ah, e só fizeram 272 delas.
Mais do que isto, ela também foi a primeira a empregar fibra de carbono e kevlar em sua construção, no capô e no teto — curiosamente, na mesma época em que Horacio Pagani tentou convencer a Lamborghini a usar fibra de carbono e, bem, não conseguiu.
A Ferrari, por outro lado, passou a investir pesado na fibra de carbono. Em 1987, veio a F40, sucessora da 288 GTO que, em essência, era uma versão aperfeiçoada dela: fibra de carbono e Kevlar por todo canto, uma versão maior e ainda mais potente do V8 encontrado na GTO.
Agora com 2,9 litros (2,936 cm³), o motor entrega 485 cv e 58,8 mkgf de torque, e é capaz de levar o supercarro até os 100 km/h em 3,9 segundos, com máxima de 323 km/h. Com isto, além de ter sido o primeiro carro do planeta a ultrapassar os 320 km/h, a F40 tornou-se o carro produzido em série mais veloz do mundo até a chegada de um certo monstro britânico chamado McLaren F1.
Aliás, falando em F1, foi justamente da Fórmula 1 que veio a inspiração para a sucessora da F40, lançada em 1995. A Ferrari F50, como já comentamos antes, pode ser considerada a renegada da família. Ela tinha proporções e características de estilo semelhantes às da F40, mas trocava as linhas retas por formas mais arredondadas (tendência na década de 1990) e o motor V8 turbinado por um V12 naturalmente aspirado com influência direta da maior categoria do automobilismo.
Com 4,7 litros, o primeiro V12 empregado em uma Ferrari de motor central-traseiro entregava 520 cv a 8.000 rpm e 47,9 mkgf de torque, sendo capaz de levá-la até os 100 km/h em 3,7 segundos com máxima de 312 km/h. A velocidade máxima menor que a da F40 é fonte de boa parte de suas críticas, mas a gente acha que de forma alguma serve como argumento para dizer que a F50 é pior que a F40.
Isto porque a F50 foi a primeira Ferrari a usar um monocoque de fibra de carbono e suspensão do tipo pushrod, exatamente como nos carros de F1. O acabamento interno é melhor, ela é mais rara que a F40 (349 unidades produzidas contra 1.311 da F40) e, para finalizar, ela foi a última da linhagem com câmbio manual e desprovida de assistências eletrônicas. Ela é, em essência, a última Ferrari da velha escola.
Por outro lado, ela também pode ser considerada um “elo perdido” entre as duas gerações de supercarros da Ferrari. Alguns de seus elementos, como o motor V12 e a construção inspirada na Fórmula 1, apareceram na Enzo — que, ao lado da LaFerrari, será apresentada na próxima parte do comparativo.
Dito isto, Salomondrin não deu pistas de como serão os episódios seguintes. Estamos ansiosos para descobrir!