Você nunca achou um pouco estranho o fato de a Ferrari Berlinetta Boxer não ter um motor boxer? Sim, porque ela tem cilindros opostos, mas seu virabrequim tem apenas seis moentes, o que significa que ele não é um boxer-12, mas um flat-12 — um V12 com 180 graus de separação entre as bancadas de cilindros.
“Licença poética”, dirão alguns. Pode ser. Ou, quem sabe, a necessidade de encontrar um significado para disfarçar a verdadeira origem da sigla: Brigitte Bardot.
Essa história tem todos os elementos daquelas lendas que são repetidas exaustivamente, como a Citroën que “oferecia um carro novo a quem conseguisse capotar um de seus carros”, ou “os Mercedes são prateados porque rasparam o alumínio para reduzir o peso dos carros”.
Mas há um fato que comprova essa relação entre o BB da Ferrari e a atriz francesa que enlouquecia nossos pais: foi o próprio criador do carro, Leonardo Fioravanti, quem revelou o verdadeiro significado da sigla. Isso aconteceu em agosto de 2018, quando .
Segundo o jornal, a história começou ainda durante o desenvolvimento do carro. Depois do sucesso do Dino 246 GT, Enzo Ferrari se convenceu de que seus clientes não se matariam com um carro de rua com motor central-traseiro e deu sinal verde para produzir um novo supercarro com motor central-traseiro — especialmente porque a Lamborghini havia sido bem-sucedida com o Miura.
O primeiro passo foi o conceito P6 Berlinetta, desenvolvido pela Pininfarina e apresentado no Salão de Turim de 1968 com um V12 de três litros e 400 cv. Foi ele o ponto de partida para o desenvolvimento do novo modelo da Ferrari, liderado por Leonardo Fioravanti na Pininfarina.
Segundo Fioravanti contou ao jornal italiano, quando o primeiro modelo em tamanho real ficou pronto, ele e seus parceiros na Ferrari, Angelo Bellei e Sergio Scaglietti, ficaram loucos pelo carro. “Eu e meus contatos em Maranello ficamos apaixonados por aquela Ferrari. Era a primeira com motor central-traseiro da história do Cavallino. Ela era linda para nós”, disse ao Repubblica Motori.
“Internamente, somente entre nós, a batizamos de Brigitte Bardot, ou BB. Mas depois, à medida em que o desenvolvimento avançava, os outros departamentos envolvidos já estavam chamando o carro de BB. No fim era tão natural chamá-la de BB que o nome pegou. Quando os protótipos recebem um codinome, esse nome geralmente continua usado nas reuniões e no material de desenvolvimento”, completou.
Em outra ocasião, durante uma entrevista à revista britânica The Road Rat em outubro de 2018, ele contou que a equipe havia recentemente assistido a um filme com a atriz francesa no qual “ela era muito jovem e não muito coberta” e, quando ele e seus colegas viram o carro, o acharam “muito bom, muito bonito, muito curvilíneo”. “É claro que todos pensamos em Brigitte Bardot. E dali em diante passamos a chamar o carro somente de BB”, disse.
No fim o nome ficou, mas como ele passou de Brigitte Bardot para Berlinetta Boxer? Fioravanti também explicou ao jornal italiano: “Foi uma solução encontrada em Maranello, mas há duas ‘forçadas de barra’ nela. A primeira é a palavra Berlinetta, normalmente usada para se referir a carros com um motor dianteiro, com carroceria semelhante ao de um sedã (berlina, em italiano). A segunda é Boxer: a BB tecnicamente não tem um boxer, mas um V12 com 180graus entre as bancadas. A diferença está no virabrequim”, disse.
No Salão de Turim de 1971, a 365 GT/4 BB foi apresentada seguindo a nomenclatura da época: 365, indicando o deslocamento de cada cilindro em centímetros cúbicos, GT significando Gran Turismo, e 4 indicando o número de comandos de válvulas (duplo em cada cabeçote), enquanto BB ficou como Berlinetta Boxer.
Portanto, se você também se sentia incomodado de chamar um flat-12 de boxer, agora ao menos há um significado muito mais interessante.
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