A Ferrari acaba de lançar a 488 Challenge, seu mais novo carro de pista baseado na excelente 488 GTB. Ela tem a mesma potência da versão de rua, mas ganhou visual matador e diversas modificações em todo o resto do carro para tornar-se digna do sobrenome. A 488 Challenge é o sexto carro da linhagem.
Aliás, a série Challenge da Ferrari está prestes a completar 25 anos – vai ser em 2017. Como 2016 já está acabando, vamos aproveitar o contexto todo para relembrar os outros modelos que trouxeram a 488 Challenge até aqui. E, na boa mesmo? Fora a adição dos turbocompressores, a companhia de Maranello manteve-se bastante fiel à fórmula.
Ferrari 348 Challenge
A reputação de posers que os donos de Ferrari têm é injusta, se pensarmos bem: o Ferrari Challenge foi criado para satisfazer o desejo dos proprietários que queriam disputar corridas com seus carros com estrutura e apoio da fábrica. No início, existiam apenas os campeonatos Italiano e Europeu mas, com o passar dos anos, o Ferrari Challenge se expandiu para os Estados Unidos, o Japão e a Austrália. Atualmente, os campeonatos são organizados pela Ferrari Corse Clienti – a mesma divisão que promove eventos para reunir os donos de Ferrari de rua em autódromos o ano todo.
Agora, ainda que a primeira de todos os Ferrari Challenge tenha acontecido em 1993, o primeiro carro de corrida da família foi lançado antes, em 1992. E, diferentemente de todas as Challenge os que vieram depois, a Ferrari 348 Challenge começava sua vida como um carro de rua, que era modificado para as corridas nos finais de semana.
O motor era mantido 100% original – ou seja, um V8 de 3,4 litros com comando duplo nos cabeçotes, quatro válvulas por cilindr0, 304 cv a 7.200 rpm e 33 mkgf de torque a 4.200 rpm. O câmbio, uma caixa manual de cinco marchas com grelha, também não sofria modificações.
O mesmo não podia ser dito de, bem, todo o resto do carro. Pneus slick, freios melhores, volante de cubo rápido, nova caixa de pedais, uma bateria menor e reposicionada (para melhorar a distribuição de peso), suspensão preparada e assoalho plano eram as principais modificações. Além disso, os carros recebiam bancos e cintos de competição e uma gaiola de proteção integral.
Um detalhe era que, apesar de modificados, todos os carros ainda eram legalizados para as ruas, pois a Ferrari queria que os proprietários pudessem ir dirigindo seus carros até a pista.
Ferrari F355 Challenge
A partir de 1995, a Ferrari 348 Challenge deu lugar à F355 Challenge. Diferentemente de sua antecessora ela era modificada pelas concessionárias, que recebiam um kit da fabricante, antes de ser entregue ao dono – e já não podia mais rodar nas ruas. Por outro lado, compensava o fato de precisar de um trailer para ir até a pista com as melhorias incorporadas pela Ferrari na F355. Em especial no motor V8, que agora deslocava 3,5 litros e contava com cinco válvulas por cilindro – melhorando significativamente a admissão e, consquentemente, elevando a potência para 380 cv a 8.250 rpm e o torque para 37 mkgf de torque a 6.000 rpm.
A transmissão era manual de seis marchas (com exceção de um exemplar com transmissão semiautomática F1, com borboletas atrás do volante, criado para um cliente com deficiência física), e o interior era completamente preparado para as pistas, com direito a extintor de incêndio e botão para cortar o fornecimento de combustível (killswitch). A embreagem era de competição, bem como o sistema de escape (que não era permitido em carros de rua e rendia alguns cv a mais). As rodas de liga leve de 18 polegadas, exclusivas da F355 Challenge, abrigavam freios Brembo com discos de 14” similares aos da Ferrari F40.
Os carros ainda tinham suspensão com buchas sólidas e molas mais firmes, dutos de resfriamento para os freios e volante removível. Um detalhe interessante: motor, câmbio e suspensão eram selados com etiquetas especiais, que se rompiam e denunciavam modificações feitas sem autorização da fabricante – tudo para manter os carros no mesmo nível.
Apesar de ter sido fabricada entre 1995 e 1997, a Ferrari F355 Challenge foi utilizada na competição até o ano 2000, quando deu lugar à…
Ferrari 360MC
A Ferrari 360MC era baseada na 360 Modena de rua – “MC” significa “Modena Challenge”. Pela primeira vez os carros já vinham de fábrica com as modificações de pista, e pela primeira vez a única transmissão disponível era a caixa semiautomática F1.
O motor, como de costume, mantinha as especificações de rua – no caso, um V8 de 3,6 litros de 410 cv a 8.500 rpm (os 10 cv vinham do sistema de escape menos restritivo, ou ao menos foi o que a Ferrari disse na época) e 39,6 mkgf de torque a 4.750 rpm. De acordo com a Ferrari, era o bastante para chegar aos 100 km/h em 3,9 segundos (0,6s a menos que a versão de rua). E, graças às costumeiras modificações na suspensão, trazia uma melhora muito mais sensível em relação a sua contraparte emplacada, comparando com as Challenge anteriores.
O fato de vir de fábrica já preparada para as pistas também permitia um maior capricho na redução de peso. Assim, o carro perdia vidros elétricos (que eram substituídos por acrílico), travas elétricas, isolamento acústico, airbags, ar-condicionado e até mesmo o freio de estacionamento. O carro agora só tinha um banco, feito de fibra de carbono e aprovado pela FIA, além dos obrigatórios cintos de competição e da rollcage integral. O painel de instrumentos original dava lugar a uma tela digital monocromática, e até mesmo a suspensão ativa dava lugar a um sistema ajustável.
Ferrari 430 Challenge
Em 2006, da mesma forma que a Ferrari 360 Modena foi completamente retrabalhada para se transformar na F430, a 360MC deu lugar à F430 Challenge. Em ambos os casos, boa parte da estrutura, o para-brisas, as portas e a área envidraçada são compartilhadas entre as duas gerações, mas o visual da dianteira e da traseira é bem diferente.
A modificação mais sensível foi o motor: um V8 de 4,3 litros completamente novo, com cabeçotes de quatro válvulas por cilindros inspirados na Fórmula 1, 490 cv a 8.500 rpm e 47,4 mkgf de torque a 5.250 rpm (sendo que 80% disto já estavam disponíveis às 3.500 rpm). Era também um motor menor, e apenas 4 kg mais pesado do que o V8 de 3,6 litros anterior.
Segundo a Ferrari, a potência e o torque eram exatamente os mesmos do modelo de rua. A transmissão era igual à do carro de rua, derivada daquela usada na Fórmula 1 e fazia trocas de marcha ascendentes em apenas 150 milissegundos, mas tinha as relações das duas últimas marchas retrabalhadas exclusivamente para a F430 Challenge, bem como a relação final do diferencial – que, em vez de eletrônico como no carro de rua, era mecânico. O interior, como de costume, era completamente aliviado e trazia gaiola de proteção, bancos e cintos de competição.
Ferrari 458 Challenge
Em 2010, a Ferrari apresentou a 458 Challenge, modelo mais recente da linhagem até a chegada da 488 Challenge. Foi a última com motor naturalmente aspirado – um V8 de 4,5 litros que, novamente, trazia as mesmas especificações da versão de rua, com 578 cv a 9.000 rpm e 55 mkgf de torque a 6.000 rpm, e era equipado com um novo sistema de escape, mais leve e menos restritivo.
Na hora de aliviar o peso do carro, a Ferrari foi um passo além ao empregar painéis mais finos na carroceria, além da costumeira remoção de itens de conforto e acabamentos. Todos os vidros foram substituídos por policarbonato. A suspensão recebeu pivôs, molas mais firmes e amortecedores com mais carga, além de ficar 50 mm mais baixa.
A grande novidade, porém, eram os sistemas eletrônicos de controle de tração, freios ABS e diferencial, que tinham ajustes selecionáveis por um manettino próximo ao volante. Com isto, a Ferrari 458 Challenge era nada menos que dois segundos mais veloz na pista de testes da Ferrari em Fiorano, e apenas 0,2 segundo mais lenta que a FXX (com motor V12 e projeto baseado na Enzo).
Até hoje, muitos pilotos do Ferrari Challenge ainda utilizam a F430 na competição, ao lado da 458 Challenge. Com a chegada da 488 Challenge, isto deve mudar em breve.