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Car Culture Zero a 300

Ford Falcon GTHO Phase III: carro australiano mais caro da história é um sedã de 400 cv fabricado em 1971

Até pouco tempo atrás os australianos tinham sua própria indústria automotiva, com modelos de automóveis que não foram vistos em nenhum outro lugar do mundo (exceto pela Nova Zelândia, por questões geográficas). Só na Austrália, por exemplo, existiram as Utes, e só lá a Ford e a Chevrolet tinham divisões distintas que fabricavam carros endêmicos do país, como o Holden Monaro/Commodore e o Ford Falcon, mas agora as duas marcas só importam carros fabricados nos EUA e na Europa. O que é meio triste.

A exclusividade do mercado automotivo australiano o tornava parecido com o que tínhamos no Brasil: carros desenvolvidos especialmente para o consumidor local, o que resultou em uma cultura automobilística muito peculiar da região. E alguns são verdadeiras preciosidades hoje em dia. Por exemplo, só na Austrália havia um Ford Falcon de quatro portas com visual, mecânica, nome e desempenho de muscle car: o Falcon GTHO Phase III, especial de homologação que, em pleno 1971, tinha um V8 de corrida debaixo do capô que, mesmo amansado para uso nas ruas, chegava perto dos 400 cv. Com ele, o Falcon GTHO Phase III foi, por um tempo, o sedã de rua mais veloz do planeta.

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O Ford Falcon XY era a quarta fase da segunda geração do sedã australiano, e foi vendido entre 1970 e 1972. Nesta época o Campeonato Australiano de Turismo estava em seu auge – a competição surgiu em 1960, adotando as regras do Apêndice J da FIA, em uma reação à popularidade crescente das corridas de turismo, que atraíam mais público do que as provas de monopostos e protótipos-esporte.

Só havia um problema: os carros australianos simplesmente não venciam títulos. Os quatro primeiros, de 1960 a 1963, foram conquistados pela Jaguar com os modelos MkI e MkII; em 1964 o vencedor foi o britânico Ford Cortina; e entre 1965 e 1969 o vencedor foi o Ford Mustang. Em 1970 finalmente o título foi para um australiano, o Holden Monaro GTS350, e então a Ford decidiu que precisava reagir de uma vez por todas. O resultado foi o Ford Falcon GTHO Phase III.

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Apenas 300 exemplares foram fabricados para homologação. O carro de corrida era movido por um V8 Cleveland de 5,8 litros com injeção mecânica de combustível capaz de entregar impressionantes 610 cv. Seu problema é que ele era potente demais, e o relativamente compacto Falcon simplesmente não conseguia lidar com tanta potência e, como resultado, o carro de corrida era simplesmente muito difícil de dirigir, saindo de traseira o tempo todo.

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Apesar disto, o Ford Falcon GTHO Phase III conseguiu vencer a edição da principal corrida do Australiano de Turismo, a Bathurst 500, realizada no circuito de rua de Mount Panorama, e ainda abocanhou o título de 1973, em ambos os casos com Allan Moffat ao volante.

Um Falcon GTHO Phase III correndo nos dias de hoje, a título de ilustração

O carro de rua, naturalmente, tinha o motor Cleveland amansado, entregando algo na ordem dos 390 cv, mas que por questões práticas – impostos e apólices de seguro, que ficariam altos demais em um carro com quase 400 cv – a potência declarada pela Ford em cerca de 300 cv. Vale observar que esta geração do Falcon também usou o V8 Windsor, do qual a Ford australiana importou um grande lote no fim dos anos 1960. Apesar de compartilharem deslocamentos e serem conceitualmente semelhantes, Windsor e Cleveland diferiam bastante nos detalhes (fizemos um guia detalhado aqui).

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Em relação ao Ford Falcon GT comum, o GTHO Phase III tinha outra diferença importante: o diferencial traseiro com autoblocante Detroit Locker de 9 polegadas e os freios, que usavam discos maiores na dianteira, com 286 mm, e tambores de 254 mm na traseira. O câmbio era sempre manual de quatro marchas, e as rodas eram de 15 polegadas.

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Dos cerca de 300 exemplares fabricados em 1971, especialistas acreditam que sobraram menos de 100 em boas condições – os restantes viveram intensamente nas pistas e eventualmente acabaram destruídos. O carro vendido em um leilão da Lloyd’s em Bathurst no último dia 16 de junho era um deles, e arrecadou nada menos que A$ 1.030.000 (dólares australianos), o que dá cerca de R$ 2,87 milhões em conversão direta. Com isto, o Falcon GTHO Phase III tornou-se o carro australiano mais caro já vendido na história.

O carro pertenceu ao jogador de críquete Jeff Thomson, que comprou o carro nos anos 80 por A$ 23.000 pouco antes de se aposentar. Por mais que seja um quase completo desconhecido no Brasil, o homem é uma lenda na Austrália, e aparentemente tinha bom gosto para carros.

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O carro já teve a pintura refeita e passou por uma restauração mecânica, mas o interior (incluindo todos os acabamento) é completamente original. O hodômetro marca 20.968 km e o Falcon passou as últimas décadas sob bons cuidados. Quem pagou quase R$ 3 milhões por ele também levou para casa fotos de Thomson junto do carro, todos os manuais e o histórico de manutenção. Ou seja: dificilmente o novo dono colocará muitos mais quilômetros na contagem do painel de instrumentos, o que é uma pena.