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Formula Off Road: os jipes de 1.000 cv que sobem paredes e andam sobre a água

O automobilismo é um esporte incrível porque pode assumir diferentes formatos. Uma corrida em um circuito, um estágio de rali, um trecho de estrada demarcado, ou uma escalada nas montanhas com direito a acelerar sobre a água uma gaiola com motor V8 sobrealimentado de 1.500 cv. Não é maravilhoso? É a Formula Off Road, categoria extremamente popular nos países nórdicos que nos faz pensar: “caramba, dá mesmo para fazer isto com um veículo?”

Dá sim, e os caras fazem isto o ano todo, especialmente na Islândia, onde a modalidade foi criada. Um circuito off road é montado na encosta de uma montanha (que também pode ser um vulcão adormecido) e os competidores precisam cumpri-lo no menor tempo possível. O circuito pode ser simples, e envolver apenas um traçado montanha (ou vulcão) acima, ou pode conter alguns desafios extras, como atravessar um lago ou riacho ou passar por uma série de obstáculos como poças de lama, trechos de areia fofa e montes de pedra e terra. E se você acha que tudo é feito devagar, com calma, aproveitando todo o torque e capacidade de tração de um 4×4… bom, não é assim. Definitivamente não é assim:

Trata-se de uma das competições mais insanas e extremas que já vimos, como uma versão alucinada do Extreme Rock Crawling dos EUA – e não é exagero. Para começar, para serem capazes sair do lugar em um circuito tão intransponível, o regulamento diz que a escolha de motor e câmbio é totalmente livre, assim como a adição de turbos e/ou superchargers, assim mesmo, no plural. Basicamente, você pode construir o motor da forma que quiser, com deslocamento, potência, sobrealimentação, óxido nitroso e componentes internos que conseguir e achar melhor. Na prática, isto costuma se traduzir em motores V8 Chevrolet, com potência entre 1.000 cv e 1.500 cv por questões simples: é mais fácil prepará-los e o custo-benefício é imbatível.

É o caso do “2 Insane”, um dos mais famosos carros da Fórmula Off Road islandesa, que usa um motor Chevrolet 427 big block com compressor Whipple e intercooler para entregar “mais de 1.000 cv”. Ele foi anunciado por US$ 80.000 em janeiro de 2017.

O veículo deve ter tração 4×4 que pode ser selecionável ou não, com um diferencial autoblocante em cada eixo. A escolha do câmbio é livre, mas é costume optar por caixas automáticas de duas ou três marchas por sua robustez. Os freios podem ter qualquer tamanho e ser de qualquer fabricante, desde que acionados por pedal e capazes de travar as quatro rodas ao mesmo tempo. A suspensão pode utilizar qualquer projeto e também componentes de qualquer origem.

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Você pode montar seu veículo do zero ou fazê-lo com base em outro já existente, mas ele precisa ter uma gaiola de proteção integral com chapas de metal no teto e nas laterais. Faróis e lanternas, quando houver, devem ser reforçadas com fita adesiva para que não se estilhacem, e as janelas (quando existem) devem ser de vidro laminado ou acrílico. Isto porque, naturalmente, acidentes não são raros, e normalmente envolvem capotamentos espetaculares montanha abaixo. O piloto precisa estar bem seguro dentro da gaiola e, felizmente, não há registros de acidentes graves relacionados a questões de segurança dos carros. Normalmente o cara sai ileso, sobe no que sobrou do carro e é ovacionado como herói.

Na real, praticamente tudo é livre, desde que seja de boa qualidade e funcione perfeitamente. Acha que a gente está brincando? e veja como a maioria das regras se parecem mais com meras sugestões. É como o regulamento da Can-Am, a “categoria sem limites” do automobilismo norte-americano dos anos 1960.

Existem duas categorias na Fórmula Off Road: Modified e Unlimited. As duas são bastante parecidas, distintas apenas em dois pontos: pneus e bancos. Os veículos da Modified precisam ter dois lugares, dispostos lado a lado, e usar pneus de 33 polegadas com sulcos bastante profundos; já a Ulimited permite monopostos e que se use quaisquer pneus – desde que os mesmos sejam inflados com ar (a pressão normalmente é mínima de 4 a 7 psi) Nenhuma das categorias permite que se use correntes nos pneus para melhorar a tração.

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Há recursos especiais adotados por todos: o coletor de admissão é posicionado de forma a impedir que detritos entrem nele; a relação de direção é bastante direta, com apenas 1,2 voltas de batente a batente, e usa um sistema totalmente hidráulico, que move os terminais de direção pela pressão do fluido contido na caixa, sem conjunto convencional de cremalheira e pinhão ou setor rosca-sem-fim. É um sistema conhecido por trilheiros, que impede as rodas de dar trancos no volante ao serem forçadas por obstáculos, o que poderia resultar em fraturas nas mãos e braços dos pilotos.

Os carros são feitos para suportar dois dias de competição, que são divididos em estágios. No primeiro dia, são cinco estágios técnicos e um estágio cronometrado. No segundo dia, são três estágios técnicos, um estágio cronometrados, um estágio na água e um estágio na lama.

Nos estágios técnicos é preciso percorrer o circuito inteiro enquanto os juízes observam, e pontos são deduzidos a cada erro cometido, como passar por cima das demarcações do traçado, parar completamente ou engatar a ré. A pontuação máxima é 350. Nos estágios cronometrados, o piloto mais rápido também faz 350 pontos, e os que vierem depois perdem um ponto para cada 0,1 segundo a mais que ele no cronômetro.

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Os estágios de água e lama servem mais para entreter o público. Neles, simplesmente é preciso atravessar uma enorme poça de lama ou um lago – no segundo caso, não se conta com muito além da sorte. Os veículos pesam cerca de 1.100 kg (o peso mínimo é de 600 kg, mas raramente isto é posto em prática) e, com isto, conseguem uma relação peso-potência próxima de 1 kg/cv – o suficiente para que, ao atingir a água, eles flutuem por algumas dezenas de metros. É preciso manter o giro alto para que os pneus sigam atuando como propulsores na água. Se as rotações caem, o carro afunda.

A Formula Off Road já é tradição na Islândia há vários anos, e também é realizada em outros países nórdicos, como a Noruega e a Finlândia. No entanto, registros e informações sobre primeiras edições são escassos – tanto que os próprios organizadores da Fórmula Off Road islandesas pedem a ajuda dos fãs para contribuir com dados a respeito da história da competição.

Dica do leitor Eduardo Wojcikiewicz