A barreira dos 1.000 cv já foi ultrapassada por uma Ferrari produzida em série: a Ferrari FXX K, versão de pista da LaFerrari apresentada em 2014, tinha um V12 de 6,3 litros que, com a ajuda de um motor elétrico, entregava 1.036 cv. Claro, não se pode rodar nas ruas com a FXX K, mas se você se importa com isto e não imagina como alguém pode gastar € 2,5 milhões (mais ou menos R$ 9,4 milhões, em conversão direta) em um carro que só pode ser usado em um autódromo… é porque não pode comprar uma. E nem nós podemos.
É loucura quando se para para pensar. Se você tiver dinheiro (e for bem relacionado com a Ferrari, porque os caras são seletivos), pode ter um carro de mais de 1.000 cv, com projeto mais avançado que 90% dos outros carros que existem no mundo, e ainda leva “de brinde” dois anos de suporte de equipe para participar de eventos com outros donos de Ferrari da série XX – que inclui a FXX original, baseada na Ferrari Enzo; e a 599XX, versão modificada da 599 GTB Fiorano e a única XX com motor dianteiro.
Depois de ser flagrada durante alguns testes feitos em setembro, quando estava toda camuflada, a Ferrari FXX K Evoluzione foi revelada oficialmente neste fim de semana. A gente não ficou exatamente surpreso – as outras Ferrari XX também ganharam uma versão Evo tempos depois de serem lançadas, com melhorias mecânicas e aerodinâmicas para torná-las ainda mais velozes.
No caso da FXX K Evo, porém, a potência é exatamente a mesma. O que não é nem de longe algo ruim: ainda estamos falando 1.050 cv, divididos entre um V12 naturalmente aspirado de 860 cv e um motor elétrico de 190 cv – que fica ligado o tempo todo, e não só para economizar combustível.
O que mudou foi o visual do carro. E não estamos falando da cor branca que substituiu o vermelho nas fotos de divulgação, mas sim de modificações funcionais nos componentes aerodinâmicos.
Se você tem boa memória, lembra que um dos trunfos da LaFerrari é seu sistema de aerodinâmica ativa, que permite escolher entre mais downforce e menos arrasto aerodinâmico. Em alta velocidade, por exemplo, a asa traseira se abaixa, assim como os flaps no difusor traseiro e no difusor dianteiro. Além disso, uma aba no assoalho se posiciona para ajudar a direcionar o fluxo de ar e, com resultado, o carro vence a resistência do ar com mais facilidade (pois existe menos arrasto aerodinâmico) e, consequentemente, consegue atingir velocidades mais elevadas. Na época, a Ferrari disse que a LaFerrari (não adianta, as frases com estes dois nomes ficam esquisitas) era 20 km/h mais rápida do que a Enzo no fim da reta do seu circuito de testes em Fiorano.
Em cima, a FXX K. Embaixo, a FXX K Evo. O mesmo cenário virtual…
A FXX K aperfeiçoou ainda mais o sistema, trocando a asa traseira original por uma peça dupla. Quando o carro está no modo de “baixo arrasto” (com o aerofólio traseiro recolhido), elas direcionam o fluxo de ar para longe; já no modo de dowforce otimizado elas complementam a função do aerofólio, que é acionado eletronicamente. Neste modo, o downforce chega a 540 kg quando o carro está a 200 km/h. Além disso, modificou-se o desenho das tomadas de ar na dianteira e dos difusores, que assumiram formas mais agressivas do que seria possível caso fosse um carro legalizado para as ruas – o difusor dianteiro é 30 mm mais baixo, para se ter ideia.
No caso da FXX K Evo, a aerodinâmica foi retrabalhada para gerar 30% mais downforce que a FXX K e impressionantes 75% a mais que a LaFerrari original. Ou seja: a 200 km/h, a downforce chega a 640 kg. Na velocidade máxima do hipercarro (que ainda não foi divulgada), a força que pressiona o carro contra o solo chega a 830 kg.
Você vai notar que já não existe a asa traseira dupla, e sim uma peça redesenhada com duas lâminas horizontais e uma “barbatana”. A asa agora é fixa (o que reduz peso) e o que se move é apenas o spoiler ativo, que teve seus parâmetros eletrônicos reprogramados. Além disso, a FXX K Evo tem um par de entradas de com quatro canards na dianteira e um arranjo de vortex generators no assoalho posterior (geradores de vórtice, que ajudam a mitigar turbulências no fluxo de ar – leia mais sobre eles aqui). Segundo a Ferrari, estes são responsáveis por aumentar em 10% e 30% a downforce sob aceleração, respectivamente.
A Ferrari também realizou algumas mudanças sutis no acerto da suspensão e, do lado de dentro, instalou um novo volante e uma nova tela de 6,5 polegadas com telemetria – você sabe, um sistema que mostra tempos de volta e dados de desempenho do carro em tempo real, às vezes até com um mapinha do circuito em GPS, como nos games de corrida.
Só há duas maneiras de obter uma Ferrari FXX K Evo: levando sua FXX K para Maranello para que a Ferrari possa atualizá-la, ou sendo um cara muito bem visto pelos italianos para ter o direito de comprar uma das poucas que serão fabricadas em uma série limitada. A Ferrari não falou em valores ou quantidades, mas uma coisa é certa: é bem possível que quase todos os carros já estejam reservados. Quem compra uma destas costuma ser cliente fiel e já ter outras Ferrari na garagem.