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Garage Rock: quando a Gibson transformou o Corvette em guitarras

Na semana passada a Gibson Guitar Corporation protocolou junto ao governo dos EUA eu pedido de falência. Isto significa que a Gibson, diante da incapacidade de pagar seus compromissos financeiros, registrou oficialmente esta incapacidade e a partir de agora será gerida por um comitê responsável pela administração de sua receita visando o pagamento dos credores. Isso não significa necessariamente que a marca irá desaparecer — até porque a linha de guitarras e demais instrumentos musicais permanecerá intocada, e apenas uma de suas divisões (dedicada a aparelhos de áudio profissional) será liquidada para honrar os compromissos.

O pedido de falência da Gibson, contudo, é um sinal desta era de mudanças significativas que começou em meados dos anos 1990 e deverá se estender por mais uma ou duas décadas. Entre as mudanças, temos o menor interesse dos jovens por guitarras, que, somado ao barateamento do custo de produção destes instrumentos na China — onde a própria Gibson fabrica a linha Epiphone —, afetou as vendas da marca americana. E também entre as mudanças temos o papel dos carros na sociedade contemporânea: como discos e guitarras foram trocados por arquivos digitais e softwares baratos, os carros também se tornarão um serviço ou um gadget?

Essa é uma resposta que exige reflexão e pesquisa, e por isso deixaremos esse papo para outra hora. Eu puxei o assunto da Gibson porque houve uma época em que as guitarras dividiam o imaginário dos garotos com os carros, e nessa época a Gibson fez a combinação perfeita para estes garotos: juntou a Les Paul com o Chevrolet Corvette, dois ícones americanos que tão bem representaram a rebeldia juvenil dos anos 1950, 1960, 1970, 1980 e 1990. E isso aconteceu duas vezes.

 

Gibson Les Paul ’60 Corvette

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A primeira vez que a Gibson decidiu se juntar à GM para fazer uma guitarra com o tema automobilístico foi em 1995, quando foi lançada a Les Paul ’60 Corvette. A guitarra era oferecida em cinco combinações de cores que replicavam a paleta da GM para o Corvette naquele ano, e o tampo de maple tinha esculpido o detalhe lateral que seguia o respiro do cofre do motor do Corvette 1960.

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A decoração continuava na tampa da cavidade da chave seletora, no verso da guitarra. Em vez de plástico, a tampa é feita de latão cromado, e tem gravado em baixo relevo o emblema do capô do Corvette. A tampa do tensor do braço também é feita do mesmo material e traz o número 1960, e a capa cromada dos captadores traz a inscrição “283” e “fuel injection”, e knobs são do tipo “top hat”.

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A escala (de ébano, como toda LP Custom) trocava as marcações em bloco pela palavra Corvette em fonte retrô, feita de madrepérola, e o headstock trazia as lendárias bandeirinhas do Corvette entre as duas fileiras de tarraxas Grover. As combinações de cores eram preto e branco (Tuxedo), verde e branco (Cascade Green), branco e azul (Horizon Blue), branco e vermelho, e vermelho e preto.

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Foram feitas apenas 200 guitarras destas, uma delas pertenceu a Saul Hudson, mais conhecido como Slash. Ela era preta e vermelha como o Corvette de sua coleção, embora o Vette fosse um modelo Sting Ray 1966. Ela foi vendida em 2011 por US$ 14.080.

Infelizmente estas guitarras começaram a ser falsificadas na China há alguns anos — o que rendeu o jocoso apelido “Chibson”. As verdadeiras Gibson Les Paul ’60 Corvette têm, além de todas estas características citadas acima, o número de série VIN5XXX (sendo XXX o número da guitarra na série de 200), o case preto com interior de veludo preto e o badge original do Corvette afixado na tampa. Além disso, toda Gibson Custom Shop desse tipo tem um certificado de autenticidade emitido pela Gibson.

 

Gibson SG 1963 Sting Ray Corvette

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Ainda em 1995 a Gibson lançou a segunda série de guitarras Corvette, já como modelo 1996: uma SG (que também é uma Les Paul, embora ninguém lembre disso) com o topo inspirado no Corvette Sting Ray 1963, o lendário modelo com a janela traseira bipartida.

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Esta série é ainda mais rara: incialmente a produção prevista era de 150 guitarras, mas somente 40 foram feitas. Batizada SG 1963 Sting Ray Corvette, a guitarra tinha a inscrição Sting Ray em madrepérola incrustrada na escala e as bandeiras do Corvette no headstock. O corpo tinha esculpido a saliência em V como a traseira do Sting Ray, e duas plaquetas de metal que servem como escudo (protetor das palhetadas) fazem o papel das janelas bipartidas.

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O captador era um só, um mini-humbucker junto ao braço, e sua capa cromada imitava a tampa de válvulas do V8. Logo abaixo da ponte wraparound havia o emblema do Corvette. No verso, a tampa da cavidade dos controles de volume e tonalidade trazia o código da cor da guitarra segundo o catálogo da GM e o código do corpo da guitarra segundo o catálogo da Gibson, uma referência ao código da carroceria do carro (que também se chama “body” em inglês).

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Das 40 guitarras, 11 foram pintadas de preto Tuxedo, 11 de vermelho Riverside, 13 de prata Sebring, e 5 de branco Ermine, todas cores originais do catálogo GM. O case é de couro marrom com interior de veludo vermelho e traz o badge original do Corvette afixado na tampa.

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Caso interesse, o VIN destas guitarras é  308CS0XX, sendo XX o número da guitarra dentro da série de 40.

 

Gibson Les Paul 50th Anniversary Corvette

A terceira série de guitarras Corvette foi lançada pela Gibson em 2003, quando o Vette completou 50 anos. Batizada Gibson Les Paul 50th Anniversary Corvette, ela não era tão ornamentada como suas antecessoras, mas também era uma obra de arte com seis cordas.

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Desta vez o modelo escolhido foi a Les Paul Standard DC (double cutaway), que ganhou o respiro lateral do Corvette C5 esculpido no topo. A ponte tune-o-matic teve sua stopbar (a peça onde as cordas são presas) substituídas por um sistema “string-thru-body” (as cordas são inseridas pelo verso da guitarra e atravessam o corpo) que usa a forma do respiro do Vette como cordal. Coisa fina. O braço novamente tinha o nome do Vette escrito em madrepérola na escala e o corpo da guitarra ainda tinha um badge de 50 anos na parte superior.

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Foram feitas apenas 50 unidades desta Les Paul Corvette, todas pintadas de vermelho “Anniversary Red”, como a série especial do Corvette “50th Anniversary” — o proprietário mais famoso de um exemplar é Billy Gibbons do ZZ Top. O case também é inspirado na edição de 50 anos do Vette, feito do mesmo couro acizentado usado nos bancos do carro.