Você já deve conhecer a galera do Roadkill: o programa no YouTube produzido pela Motor Trend é um dos mais legais da Internet. David Freiburger e Mike Finnegan, a dupla de apresentadores, são doentes por muscle cars, hot rods e metal americano (não estamos falando do Metallica ou do Megadeth) em geral. Eles são famosos por seu Dodge Charger 1968 rat rod, que já está com eles há alguns anos.
E por que estamos falando disso só agora? Simplesmente porque, recentemente, o Charger dos caras — que se chama General Mayhem — ganhou um coração novo. E não é qualquer coração, e sim um certo V8 de 6,1 litros com supercharger e 717 cv. Sim, é exatamente o que você está pensando (e provavelmente leu no título ali em cima): um Hellcat!
De acordo com os caras, eles foram os primeiros a realizar este engine swap que, vamos combinar, é o sonho não apenas de todo fã de Dodge, mas também de todo entusiasta dos muscle cars. Seria o restomod perfeito: um clássico do calibre do Charger 68, todo restaurado, com um dos motores mais fodásticos produzidos atualmente. Só tem um detalhe: isto não é um restomod. O Charger não foi restaurado. E, se você se surpreendeu com isto, é porque não conhece o Roadkill.
Os caras pegam o espírito do do-it-yourself e elevam à potência máxima. Tudo é feito como dá, com o que eles têm à mão. O negócio não é deixar o carro bonito, e sim fazê-lo rodar — não importa se algumas gambiarras soluções técnicas alternativas precisarem ser feitas.
No caso do Charger (que já teve três ou quatro motores diferentes nos últimos anos e sempre andou no limite), o desafio era colocar um motor moderno, fabricado em 2015, em um carro de 47 anos de idade. O motor foi fornecido pela própria Dodge, que recentemente começou a patrocinar o programa. Aproveitando-se da nova situação, os caras decidiram colocar em prática o plano de serem os primeiros a colocar um V8 Hellcat em um muscle car antigo — algo que, no ano passado, já havia sido comentado com o presidente da Dodge, Tim Kuniskis.
Eles conseguiram o motor, que veio com um carro completo em volta dele — um dos protótipos do Charger Hellcat que, depois de cumprir sua missão, seria enviado para o triturador. O carro foi “salvo”, mas acabou todo desmontado para fornecer o motor e o câmbio automático ZF 8HP, de oito marchas, para o Charger 1968. Até mesmo faróis e lanternas vieram do sedã.
Mas como fazer um motor moderno, repleto módulos eletrônicos, funcionar em um carro de quase cinco décadas atrás? A resposta: transplantando não apenas o conjunto mecânico, mas todo o sistema elétrico e eletrônico do Charger 2015 para o Charger 1968 — incluindo cluster de instrumentos, volante e console central com tela multimídia.
Foi preciso transplantar a grande maioria dos módulos — não apenas do motor e da transmissão, mas também da suspensão, dos freios ABS, sensor de velocidade das rodas, airbags, suspensão ajustável e outros recursos presentes no Charger 2015, porém ausentes em seu ancestral dos anos 60. Mas por quê? Simplesmente porque a remoção de um deles impede que o carro seja ligado com a ECU original — como o sensor dos freios ABS.
Outros acabam comprometendo funções importantes do carro: o sensor de velocidade das rodas, por exemplo, não impede que o carro funcione caso seja removido. Sem ele, porém, o velocímetro não funciona, bem como o controle de tração. Além disso, uma luz no painel fica acesa o tempo todo. Com o transplante completo do sistema eletrônico, é possível guiar o Charger 1968 quase exatamente como um Hellcat 2015 — incluindo até mesmo os modos da transmissão, que podem ser selecionados pela tela sensível ao toque. Outros componentes do Charger Hellcat 2015, como o tanque de combustível e a caixa de pedais, também foram aproveitados.
Fora tudo isso, também foi necessário adaptar o cofre do motor para receber o Hemi 6.1: a travessa dianteira foi refeita, os coxins originais foram substituídos por peças sólidas e novos coletores de escape foram feitos sob medida, aproveitando peças de um Chrysler 300C equipado com um Hemi 5.7. O compressor do ar-condicionado foi descartado, e o túnel de transmissão recebeu alguns cortes para acomodar a nova carcaça do câmbio.
No mais, o visual do carro não mudou por fora — ele continua sendo aquele Dodge Charger 1968 bastante detonado que, há alguns anos, os caras do Roadkill receberam em troca de um par de cabeçotes (sério). O desempenho, contudo, é matador: o carro é capaz de cumprir o quarto-de-milha em 10,9 segundos a 201,5 km/h. Para se ter uma ideia, um Charger Hellcat 2015 completamente original, com câmbio automático, faz o mesmo em 11,5 segundos a 195 km/h.
O mais incrível de tudo isto é que o carro ficou pronto em apenas três semanas — bem a tempo de disputar uma arrancada no oitavo-de-milha (201 metros) no último dia 12 de agosto. A arrancada foi patrocinada pela própria Dodge — que cedeu o motor para os caras do Roadkill e também para seus adversários: a “dupla do barulho” da Gas Monkey. Richard Rawlings, o barbudo Aaron Kaufman e sua equipe montaram o poderoso V8 em um Dart 1967, bem mais leve que o Charger.
É claro que eles toparam. Não há tantos detalhes a respeito do carro deles — apenas que o Dodge Dart 1967 bege teve o peso aliviado e recebeu uma transmissão Powerglide, muito popular em carros de arrancada por sua robustez e simplicidade, além de receber uma nova polia do supercharger e ter sido convertido para queimar etanol. Resultado: mais de 800 cv nas rodas. O Charger, por sua vez, recebeu um kit de óxido nitroso e era o mais pesado, com quase 1.600 kg.
No fim das contas, o Dodge Dart levou a disputa, mesmo com o tempo de reação mais lento de Aaron Kaufman. Freiburger, do Roadkill, foi melhor ao volante, mas o carro mais pesado e a potência extra do rival fizeram a diferença.
De um jeito ou de outro temos certeza de que a multidão que se reuniu para assistir à disputa sairia plenamente satisfeita qualquer que fosse o resultado. E adoraríamos, sem dúvida, ver uma revanche — que provavelmente vai acontecer.