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História

A incrível história do Ghost Car, o Camaro 79 que virou herói de guerra

Nestes tempos que, de acordo com os especialistas em geopolítica do Twitter, antecedem a Terceira Guerra Mundial, é fácil ficar meio apreensivo. Mas também é fácil lembrar que, apesar de ser um fenômeno triste, a guerra também é complexa e – por que não? – fascinante. E cheia de grandes histórias. Como a deste Chevrolet Camaro de segunda geração que se tornou um veterano na Guerra da Bósnia, conflito travado entre abril de 1992 e dezembro de 1995.

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A Guerra da Bósnia é considerada parte da desintegração da Iugoslávia, que por sua vez resultou na independência de Sérvia, Montenegro, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia e Eslovênia. Como qualquer outro conflito internacional, a Guerra da Bósnia foi sangrenta, violenta, e levou a população dos países envolvidos – Sérvia, Croácia e a própria Bósnia – à pobreza e ao sofrimento.

E foi aí que entrou na história o oficial dinamarquês Helge Meyer. Embora não tenha participado diretamente do conflito, pouco antes Guerra da Bósnia ele servia na base aérea de Rhein-Main, perto de Frankfurt, na Alemanha. Ele se aposentou antes do conflito, mas decidiu agir por conta própria, ainda que com a ajuda da Força Aérea dos Estados Unidos… e de seu Chevrolet Camaro 1979.

A história de Meyer ficou famosa anos depois. Em entrevistas e depoimentos, ele disse que sentiu uma urgência quase religiosa de fazer alguma coisa em relação às mazelas do povo bósnio. Então, ele pegou seu Camaro e procurou os americanos para lhe ajudar a transformá-lo em um tipo diferente de máquina de guerra que parecia ter saído direto de Mad Max.

Pouco depois de o conflito principal terminar, a situação da Bósnia ainda era preocupante, com ruas e bairros periféricos ocupados pelos militares e centenas de milhares de pessoas que precisavam de alimentos, medicamentos e outros itens básicos para seguir a vida.

Meyer era um ex-atirador de elite da unidade de operações especiais Jaeger Corps – algo parecido com a Delta Force dos Estados Unidos – e era muito respeitado. E ele queria ajudar. Então, quando procurou novamente a base de Rhein-Main, ele foi prontamente atendido, obtendo ajuda para equipar seu Camaro.

O carro, que originalmente era amerelo, recebeu uma pintura preto-fosco que tornava mais difícil sua detecção por equipamentos de visão em infravermelho. O vigia traseiro foi trocado por uma chapa de metal blindada, e a dianteira foi equipada com um protetor de metal. Além disso, foi instalada outra chapa de metal na dianteira para proteger o carro de minas terrestres.

O motor também recebeu modificações. O V8 small block de 5,7 litros, originalmente com parcos 185 cv, teve o fluxo retrabalhado e ganhou um kit de nitro – o que elevou a potência para algo entre 300 cv e 440 cv, dependendo da fonte consultada. Honestamente, mesmo que não fosse tudo isto, o carro continuaria sendo matador.

 

Um Camaro de segunda geração não é o primeiro carro que imaginamos para usar em uma missão humanitária de um homem só, mas o carro de Meyer cumpriu bem seu trabalho. Ele tinha as portas revestidas com Kevlar para resistir a tiros, extintores de incêndio e dois estepes. E, mesmo com tudo isto, ainda havia capacidade para levar até 400 kg de suprimentos. E também era dotado de equipamentos de comunicação para que os militares em campo o ajudassem a definir suas rotas desviando das tropas inimigas. E ele nunca usou uma arma – segundo o próprio Meyer, suas únicas armas eram seu carro, um maço de cigarros e uma Bíblia.

Não havia hora ou momento certo para uma missão – de dia ou de noite, muitas vezes sendo perseguido pela polícia e pelo exército, e até mesmo levando alguns tiros, o Camaro passou meses ajudando Meyer a levar suprimentos ao povo da Bósnia. A cada entrega, mais de 400 kg de comida, remédios, roupas e até mesmo brinquedos eram transportados.

Além disso, seu visual cinematográfico o tornou uma espécie de celebridade entre o povo que era ajudado pelo ex-soldado dinamarquês, como mostram as fotos com crianças se amontoando ao redor do cupê. E ele nunca foi pego – o que rendeu ao Camaro o apelido Ghost car.

O mais incrível nisto tudo é que tanto Meyer quanto seu carro sobreviveram. E não é só isto: quando a situação finalmente melhorou, o veterano voltou para casa e levou consigo o Camaro – que habita sua garagem até hoje, ainda todo equipado, mas agora pintado de laranja. Ele não precisa mais se esconder dos radares.

Nem todo herói usa capa. Alguns usam muscle cars.