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Car Culture

Gol G2 em Nürburgring: falamos com o dono do carro – veja a história completa!

É bem provável que ao acessar as redes sociais na manhã desta segunda-feira (13) você tenha topado com uma sequência de fotos de um brasileiríssimo Volkswagen Gol no Karussell de Nürburgring Nordschleife. WTF? Como assim, um Gol em Nürburgring? Como ele foi parar lá?

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Bem, esta é uma pergunta que fizemos pela primeira vez há dois anos, três meses e dois dias e que só foi respondida há algumas horas, depois de uma boa conversa que tive com seu atual proprietário, o brasileiro Renato Hinkelmann, que mora em Colônia, na Alemanha.

O carro é o mesmo Gol CL que estava a venda em uma loja de usados da Alemanha em janeiro de 2017. Sua história começou em 1998, quando foi importado por uma empresa de auto peças que pretendia usá-lo para testes de desenvolvimento de componentes. Contudo, quando chegou à Alemanha, a Volkswagen já tinha modificado a linha Gol e o carro acabou nunca utilizado para testes e ficou guardado até 2000, quando foi vendido a um alemão.

O problema é que, por ter sido importado para testes, o carro não tinha a documentação necessária para licenciamento na Alemanha. Assim, o segundo proprietário o vendeu a outro alemão, que tentou levantar a documentação e informações detalhadas sobre o carro com funcionários da Volkswagen na Alemanha. Apesar do esforço, ele não conseguiu licenciar o carro e o passou adiante. Em 2015 o carro chegou às mãos de Stephan Krupp, da Autohaus Krupp, uma loja especializada em clássicos localizada em Bergheim, a cerca de 30 km de Colônia.

Nessa mesma época, Renato havia acabado de comprar seus primeiros clássicos: um Fiat 500 e uma Kombi Standard 1974 com pouco mais de 28.000 km rodados, que arrematou no Brasil e levou para a Alemanha por conta própria.

Renato contou que no início de 2017 soube do Gol a venda e decidiu conhecê-lo, sem a pretensão de comprar o carro. Frequentando a loja ele soube que o carro não tinha documentação para licenciamento (diferentemente do que dizia o anúncio na época) e que Stephan já estava de saco cheio do carro ocupando espaço na loja. O homem estava prestes a desmontar o carro e vender seus componentes separadamente. Apesar do Gol jamais ter sido vendido na Europa, o motor 1.6 foi usado no Passat, no Golf e no Polo (com o nome EA827) e poderia ter algum valor, bem como outros componentes mecânicos semelhantes.

A história ficou ecoando na cabeça de Renato: um Gol CL que atravessou meio mundo, rodou 1.800 km, e ficou guardado por quase 20 anos não merecia acabar escrapeado, vendido como sucata na Alemanha. Ele merecia um final melhor. Além disso, um Gol na Alemanha era uma chance de ter um carro antigo diferenciado, afinal, o custo de compra e importação de um Gol é mais alto que seu valor de mercado. Não é um carro que será importado como as Kombi, SP2 e Karmann-Ghia TC.

Renato então decidiu arrematar o Gol, mas Stephan fez uma proposta irrecusável pela Kombi e incluiu o Gol como parte do pagamento. E foi assim que o Gol brasileiro foi comprado por um brasileiro na Alemanha quase 20 anos depois de chegar ao país.

O carro foi rodando até a casa de Renato em Colônia porque Stephan instalou no carro suas placas de concessionário — semelhantes às placas verdes brasileiras. Sem estas placas, sem a documentação e sem poder licenciar o Gol, Renato teve que deixar o carro parado na garagem enquanto reunia a documentação necessária e os equipamentos exigidos pela legislação alemã.

Em 1998 a lei exigia luz de neblina traseira em todos os carros vendidos no país. Ainda que o Gol CL não fosse oferecido com luzes de neblina nem mesmo como opcionais, Renato precisou instalar o equipamento no carro. Ele comprou no Brasil o chicote original, o interruptor para luzes de neblina e o conjunto dianteiro além da luz traseira.

Além do conjunto, ele também comprou em uma de suas visitas ao Brasil o jogo completo de correias, tensores e polias, que ainda eram originais. Na hora da manutenção uma situação inusitada: além das correias, Renato também notou uma pequena fissura no para-brisa, próximo à coluna A. Ao colocar o carro no elevador, a pequena fissura virou uma rachadura de 30 cm. O carro jamais seria aprovado pelos inspetores alemães. Como encontrar um para-brisa de Gol na Alemanha?

Renato chegou a orçar a importação do para-brisa com um amigo exportador de clássicos, mas acabou não precisando do serviço: ao procurar despretensiosamente um para-brisa numa concessionária local, ele encontrou não apenas o para-brisa original para seu Gol CL, mas também o para-brisa com a antena embutida e o para-brisa com a faixa degradê. Por que a loja tinha três para-brisas de Gol? Renato até hoje não sabe. Como eu disse durante nossa conversa, foi um sinal de que o carro tinha mesmo que ser dele.

Com o passar do tempo Renato fez outras duas alterações. A primeira foi a substituição das rodas originais pelas desejadas rodas Westwood, vendidas aqui apenas no Gol GTI 16v e, por isso muito raras. Na Europa elas eram opcionais no Passat B4 e nunca comoveram os entusiastas, razão pela qual elas são razoavelmente baratas na Alemanha. A outra foi a instalação de um rádio original do Golf Mk3, que não é muito distante dos Volksline que equipavam os modelos brasileiros dos anos 1990.

O carro foi aprovado na vistoria do “Detran da Alemanha”, mas para licenciá-lo Renato ainda precisava de uma certidão negativa de débitos do carro no Brasil. Foi preciso emitir os documentos, fazer a tradução juramentada e o apostilamento de todos eles. Em janeiro de 2018, exatamente duas décadas depois de sair da linha de produção, o Gol CL Mi foi emplacado pela primeira vez — por um brasileiro na Alemanha. Parece até que ele estava esperando.

Desde que emplacou o carro, Renato já dobrou sua quilometragem e agora o odômetro aponta pouco mais de 3.900 km. O caminho até Nürburgring neste último domingo (12) adicionou mais algumas centenas de quilômetros, visto que o circuito fica a cerca de 90 km de Colônia. Renato já havia conversado com alguns fotógrafos e apresentado o carro por fotos a eles, para que clicassem o Gol nos melhores trechos da pista.

Nas Touristenfahrten, além dos entusiastas amontoados nos arredores da pista, também há dezenas de fotógrafos que clicam os carros para vender as imagens aos proprietários interessados em uma lembrança de sua visita ao Nördschleife.

Nem precisaria ter avisado: a presença daquele exótico Volkswagen chamou a atenção de todos os fotógrafos e as fotos se espalharam rapidamente pelas redes sociais. Renato comprou as fotos e as postou em seu Instagram logo que chegou em casa. Quando acordou, seu carro já havia se tornado o principal assunto entre os entusiastas da Volkswagen.

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Agora, depois de colocar o primeiro Gol em Nürburgring Nordschleife, Renato já planejou uma viagem de pouco mais de 2.200 km com o carro. Ele e a família sairão de Colônia, irão até Liubliana, na Eslovênia, na volta farão uma parada em Reifnitz, na Áustria, para participar da edição deste ano do Wörthersee Treffen. Algo nos diz que ainda veremos muitas imagens do #7×2, nome que Renato deu ao seu Gol brasileiro na Alemanha.

Depois da compra do Gol, Renato acabou vendendo o Fiat 500 e comprou um Fusca 1300L 1978 no Brasil e dois BMW na Alemanha: um 316i E36 sedã 1997, já com o motor M43, e um 325i Cabriolet E93. Preciso dizer qual é o daily driver do cara? Dica: o E93 já foi embora.

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