A sigla GTS não foi criada no Brasil nem pela Volkswagen. Nem mesmo os Volkswagen GTS foram criados no Brasil — o Sirocco GTS, o primeiro carro da marca com estas três letras, foi lançado em 1982, um ano antes do nosso Passat GTS.
Mas foi no Brasil onde os GTS tiveram a carreira mais longa e próspera, durando 11 anos bem intensos e vividos, nos quais os dois modelos brasileiros foram alçados ao status de ícones. Mas aí, em 1994, a Volkswagen trocou a geração do Gol e deixou o GTS para trás. A sigla só voltaria a ser usada em 2015 com o Scirocco na Europa, depois com o Lamando na China e, finalmente com o Polo e o Virtus no Brasil.
Agora… o fato de não haver um Gol com o nome GTS na segunda geração do modelo, não significa que não houve um Gol GTS de fato na segunda metade dos anos 1990. E aqui eu peço licença para fazer uma observação pessoal.
Em 1995 quando a Volkswagen lançou a nova geração do Gol, o GTI veio com o mesmo motor AP2000 de oito válvulas e injeção eletrônica multiponto do antecessor. Mas logo no ano-modelo seguinte, lançado no fim de 1995, a Volkswagen trouxe o Gol GTI 16v, que tinha uma outra derivação do EA827, com comando duplo no cabeçote e bloco mais alto, que permitia bielas mais longas e melhorava a inadequada relação r/l do AP2000.
Só que a vinda do Gol GTI 16 válvulas não causou o fim do Gol GTI 8 válvulas — foi uma segmentação semelhante ao que a Volkswagen já fazia com o Golf GTI na Europa desde os anos 1980, incluindo o Golf GTI Mk3, que conviveu com o Gol GTI no Brasil naquela época. Ele só veio com o motor de oito válvulas, mas na Europa era possível comprá-lo com o mesmo motor do Gol GTI 16v.
Sendo assim, como nos anos 1980, a Volkswagen oferecia um Gol esportivo de entrada e um Gol esportivo mais avançado, no topo da linha. Então o Gol GTI 8v poderia (e talvez deveria) ser o sucessor de fato do GTS, enquanto o GTI 16v era o sucessor de fato do GTi original.
O Gol TSi
Só que não foi assim que aconteceu. Em 1996 a Volkswagen lançou o sucessor do GTS, o Gol TSi. Hoje a sigla é ligada aos motores turbo (que o Gol quase teve, mas essa história fica para depois), mas na época ela foi a opção da Volkswagen para o Gol esportivo com motor 1.8 injetado. Em vez de chamá-lo GTSi — que é uma baita sigla bonita, convenhamos; repita “Gol GTSi” — ela tirou o G e deixou só o TS. Como era injetado, a sigla ficou TSi.
Para fazer o GTS da nova geração, a Volkswagen usou como base o Gol GLi 1.8 alimentado por uma injeção FIC (Ford) monoponto de 90,5 cv e combinado a um câmbio de relações curtas semelhante ao PV. O volante era o mesmo de três raios do GTI, e os bancos eram Recaro, mas de um modelo mais largo e comportado do que os usados nos GTI.
As rodas também eram menores, de 14 polegadas vindas da Parati GLS. Os faróis tinham refletores duplos, como na Parati GLS e no Gol GTi, mas não tinha faróis de neblina. Na traseira, um spoiler com efeito de prolongamento do teto e era esse o pacote do Gol TSi. E que reforça a ideia de que o GTI 8v é que foi o sucessor de fato do GTS. Afinal, o Gol TSi era um GLi pronto para a academia. Para o primeiro dia na academia.
Em 1997, com o fim da Autolatina, a Volkswagen trocou a injeção do Gol TSi. Saiu a FIC monoponto para entrar a Magneti Marelli multiponto. A potência foi aos 99 cv e, ainda que ele ficasse mais parecido com o GTS com esse número no CRLV, ele ainda era um GLi esportivado.
Isso só mudou no Salão do Automóvel de 1996, quando a Volkswagen anunciou o Gol TSi 2.0, também com a injeção multiponto da Marelli, agora com 112,5 cv. Só que… ele continuava idêntico a um modelo comportado da Volkswagen, agora não mais o GL, mas o GLS, que também tinha motor 2.0 de 112,5 cv. Ao menos o GLS era oferecido apenas com quatro portas, o que dava uma certa exclusividade ao Gol TSi — além, claro, do volante esportivo e dos bancos Recaro.
Isso, claro, até você olhar para o lado na concessionária e ver o GTI 8v daquele ano, que tinha uma versão de 121 cv do motor 2.0. Era um tempo diferente. A Volkswagen oferecia, portanto, o Gol GTI 8v, o Gol GTI 16v, a Parati GTI 16v, o Gol TSi 1.8, o Gol TSi 2.0 e o Golf GTI 2.0 8v. E até 1996 havia o Pointer GTi 2.0 — foi seu fim, aliás, que permitiu à Volkswagen vender o Gol TSi 2.0.
A Saveiro TSi
A Volkswagen ainda esticou a receita do Gol TSi a mais um modelo: a picape Saveiro. Sim, uma picape compacta esportiva. Um utilitário esportivo de verdade. Ela apareceu durante 1998 como modelo 1999. A Saveiro, caso você não lembre (ou não saiba), era novidade em 1998.
A primeira geração da picape foi até 1997 e, para manter o fortalecimento de sua imagem como uma picape jovem — algo que começou em 1993 com a Saveiro Sunset e continuou com a Summer a partir de 1995 — a Volkswagen decidiu fazer uma Saveiro TSi. E ela nem passou pela fase de ter um motor 1.8. Foi direto para o motor 2.0 Mi de 112,5 cv.
O pacote de equipamentos era básico, sem ar-condicionado de série, nem bancos Recaro (que também eram opcionais). Mas ela já tinha rodas de 15 polegadas do Gol GTI 1999, enquanto o Gol TSi usava as rodas do GTI 1998. Ela também tinha um quadro de instrumentos convencional, compartilhado com as versões mais simples, embora equipado com conta-giros. Não tinha ajuste da coluna de direção, mas podia ser equipada com airbag simples ou duplo, além de ter luzes de neblina de série.
Infelizmente, tanto ela quanto o Gol TSi 2.0 duraram pouco. Em 1999 a linha Gol foi reestilizada e, na mudança, o GTI 8V e os modelos TSi deixaram de ser produzidos. A Volkswagen continuou apenas com a Parati e o Gol GTI em suas versões de 16 válvulas e começou a priorizar o Golf como seu principal modelo esportivo no Brasil. Foi o fim de uma era.
Foto de abertura: Willian Perin/André Dalcin – GT40.com.br / Colaborou com esta matéria: Luciano Gonzalez