Todos os anos acontece no Reino Unido o evento mais importante do circuito mundial do automobilismo histórico: o Goodwood Festival of Speed. Em uma semana de celebração, ocorre muito mais que um mero encontro de carros de competição antigos na Casa de Goodwood propriedade do aristocrata britânico Lord March.
O que se tem é uma oportunidade atemporal e única de se reunir carros de competição, pilotos e projetistas absolutamente lendários e ainda colocá-los em ação na famosa e tradicional subida da montanha em volta da propriedade. Se você está com tempo sobrando (ou procurando um pretexto para matar este tempo), não perca o livestream do que está acontecendo em Goodwood:
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Contudo, nem só de carros de competição antigos é feito o Goodwood Festival of Speed: dada a aglomeração de público com enorme poder aquisitivo e de pessoas influentes no meio, as fabricantes também adotaram o FoS como palco para lançamentos e apresentações, seja de carros conceito ou de modelos de produção. E é sobre isso que falaremos neste post.
A edição 2019 começou ontem, dia 4 de julho, e já recebeu vários deles. Neste post compilamos alguns dos lançamentos mais bacanas, importantes e relevantes que já rolaram até agora. Alguns até já apareceram em nossas páginas nesta semana mas, durante o Goodwood Festival of Speed, fizeram sua primeira aparição pública.
BAC Mono R
A britânica Briggs Automotive Company mostrou uma versão (ainda) mais extrema de seu track toy individual, o BAC Mono. Embora não pareça muito diferente do modelo anterior, ele recebeu uma nova versão do motor Ford de 2,5 litros, com 340 cv (um ganho de 35 cv) e ainda perdeu 25 kg, graças à adoção de freios de carbono-cerâmica, um novo assoalho de fibra de carbono e ao escape em titânio. São 136 cv por litro – atual recorde mundial, de acordo com a BAC, para carros com motor naturalmente aspirado e legalizados para as ruas.
Sim, os 30 felizardos que já compraram o novo BAC Mono – ele está esgotado, falando nisso – poderão sair de casa, ir até a pista, correr, e voltar dirigindo. Desde que não levem qualquer tipo de bagagem, visto que o carro só tem um porta-malas ridiculamente pequeno na dianteira. Mal cabe uma mochila.
Por outro lado, ele é capaz de ir de zero a 100 km/h em 2,5 segundos e, com apenas 555 kg chega tranquilamente aos 270 km/h. Mas quando o assunto é Bac Mono, aceleração e velocidade máxima estão longe de ser o fator mais eletrizante. É o tipo de carro que você precisa se certificar de que almoçou há pelo menos uma hora atrás antes de pensar em fazer graça nas curvas.
Mini JCW GP
O novo Mini John Cooper Works GP promete ser o mais extremo de todos. Já o vimos camuflado em alguns flagras, e a fabricante também divulgou alguns teasers, mas eles não perderiam a chance de exibi-lo diante do maior evento automotivo do Reino Unido.
Já sabemos diversos detalhes a seu respeito mas não custa reforçar: o novo JCW GP terá um motor 2.0 turbo com mais de 300 cv; aparatos aerodinâmicos bastante conceituais na carroceria, incluindo coberturas “flutuantes” nos para-lamas e uma ousada asa traseira bipartida; e uma barra estrutural no lugar do banco traseiro. Vamos ter de esperar mais para vê-lo sem disfarces, porém: a Mini só vai revelá-lo próximo do lançamento, marcado para o início de 2020.
Honda e
O hatchback elétrico retrô da Honda é o novo queridinho da marca. O Honda e é inspirado pelo primeiro Civic, por dentro e por fora, mas consegue parecer moderno e conceitual ao mesmo tempo. As proporções são clássicas e as linhas são limpas e retas, como na década de 1970; mas há detalhes como as câmeras no lugar dos retrovisores externos, ou a área em preto brilhante na dianteira – afinal, sem um motor a combustão, a necessidade de uma grade deixa de existir (ainda que as baterias precisem de refrigeração). Da mesma forma, o interior mistura design clássico nas formas e acabamentos, com itens modernos – como o painel dominado por telas.
O Honda e será movido por um motor elétrico de 110 kW (potência equivalente a 150 cv) e terá autonomia de 200 km com uma carga – conjunto que faz sentido para um compacto urbano. Mas vale lembrar: o pequenino tem tração traseira! O carro está em Goodwood para que o público possa vê-lo de perto e, se desejado, fazer uma reserva lá mesmo. As entregas começam no ano que vem.
Shelby GT500
A Ford já havia mostrado o novo Shelby GT500 antes, mas foi só há alguns dias que sua potência foi revelada: 770 cv no motor V8 supercharged de 5,5 litros. Aproveitando o fator novidade, o GT500 também foi levado para Goodwood e, como outros esportivos presentes, fez a chamada “estreia dinâmica” (um jeito chique de falar que o carro acelerou em público pela primeira vez) na subida da colina.
Vale lembrar que o Shelby GT500 está trazendo os muscle cars para o século 21 ao adotar uma transmissão de dupla embreagem e sete marchas. E também que, apesar de não constarem dados de desempenho, a Ford diz que a Ford diz que ele fará o quarto de milha abaixo dos 11 segundos, com velocidade máxima limitada em 290 km/h.
Morgan Plus Six
O visual é familiar, mas a verdade é que o Morgan Plus Six é o primeiro modelo totalmente novo da peculiar fabricante britânica em 19 anos. Ele é construído sobre uma estrutura de alumínio do tipo box-section e, segundo a Morgan tem o dobro da rigidez estrutural do antigo Morgan Aero.
Ele também é o primeiro Morgan a vir com um motor turbinado. E não é qualquer motor, mas sim o B58 da BMW, seis-em-linha que, entre outros modelos, é utilizado no Z4 e no novo Toyota Supra. No Morgan Plus Six, ele entrega 340 cv e é acoplado à onipresente caixa automática de oito marchas da ZF.
Porsche 935
Conceito retrô funcional com base no 911 GT2 RS, o Porsche 935 é uma série especial de pista limitada a 77 unidades, criada para celebrar os 70 anos da fabricante. Embora tenha sido mostrado em setembro, o esportivo retrô fez sua primeira exibição pública em alta velocidade em Goodwood. O carro que subiu a colina vestia as cores da Martini Racing, mas há outras opções de liveries clássicas disponíveis.
Mecanicamente ele não traz novidades em relação ao GT2, mas isto não é exatamente um problema: ele usa o incrível boxer biturbo de 3,8 litros, 700 cv e 76,5 kgfm de torque, acoplado à consagrada transmissão PDK de dupla embreagem.
BMW M8 Competition
Outra estreia dinâmica em Goodwood foi a do BMW M8 Competition, a aguardada versão mais potente do belo Série 8. Fora o fato de ser, enfim, o cumprimento de uma promessa feita na década de 1990, o BMW M8 Competition não traz grandes novidades: ele usa a mesma plataforma e o mesmo conjunto mecânico do M5 Competition – ou seja, um V8 biturbo de 4,4 litros e 625 cv e 76,4 kgfm de torque, acoplado a uma transmissão automática de oito marchas.
É o bastante para levar o cupê de zero a 100 km/h em 3,2 segundos – é aceleração de supercarro, porém com espaço para quatro pessoas, bagagem e muito mais conforto. A velocidade máxima é sempre limitada em 250 km/h, a não ser que opte-se pelo M Drivers Package – nesse caso, são 305 km/h.
Ford Fiesta ST Performance Edition
Esta é para nos deixar tristes: enquanto a Ford matou o Fiesta brasileiro em sua sétima geração, nossos colegas na Europa acabaram de ganhar a oitava. E, na versão esportiva ST, ele está mais interessante do que nunca: agora, seu motor 1.5 turbo de três cilindros entrega 200 cv e 29,5 kgfm de torque, moderados por uma caixa manual de seis marchas (que é a única opção).
A versão Performance Edition é exclusiva do Reino Unido, com apenas 600 unidades previstas, e vem com alguns toques especiais para nos deixar com bastante inveja: pintura laranja “Deep Orange”, rodas de 18 polegadas que são 7 kg mais leves, amortecedores ajustáveis do tipo coilover com regulagem de compressão e retorno e, como opcional, diferencial Quaife de deslizamento limitado.
McLaren GT
Entre os supercarros, um dos destaques foi o McLaren GT, o grand tourer da companhia. Maior, mais largo e mais espaçoso, ele foi feito para acomodar duas pessoas com conforto (e sua bagagem) e, ao mesmo tempo, oferecer a experiência de condução que se espera de um superesportivo feito em Woking.
Com um V8 biturbo de quatro litros, 620 cv e 64,2 kgfm de torque, acoplado a uma transmissão de dupla embreagem e sete marchas, o McLaren GT é saudado pela fabricante como o mais veloz e envolvente GT vendido no momento. E sua estreia no Brasil está confirmada para entre setembro e outubro.
De Tomaso P72
Sem dúvida um dos pontos altos dos lançamentos de Goodwood até o momento, o De Tomaso P72 é tudo o que a gente gostaria de ver em um retorno triunfal: um superesportivo impecável no design e tradicional (até certo ponto) no conjunto mecânico.
Feito por iniciativa da Apollo, fabricante do Intensa Emozione, o P72 utilizará o mesmo monocoque de fibra de carbono – e será muito parecido com o conceito, de acordo com a nova De Tomaso. O visual é inspirado pelos esportivos e protótipos da década de 1960, como o De Tomaso P70 e a Alfa Romeo 33 Stradale, e repleto de linhas suaves e harmônicas. O motor deverá ser o V12 de 6,3 litros usado pelo Intensa Emozione, derivado do motor da Ferrari F12. Isto, porém, ainda não foi confirmado.
O P72 terá transmissão manual sequencial da Hewland, bem ao estilo dos carros da Indy ou da Stock Car: três pedais, e alavanca comandada por movimentos para trás para evoluir as marchas e para a frente para reduzir. Uma ótima alternativa intermediária entre a velocidade dos paddle shifters e a experiência visceral do câmbio H. Serão feitos 72 exemplares, e a De Tomaso já está aceitando encomendas.
Mercedes-AMG A45
Dos hot hatches lançados recentemente, certamente o Mercedes-AMG A45 é um dos mais quentes. Primeiro, ele tem o motor 2.0 turbo mais potente da atualidade (e o segundo mais potente da história), com 421 cv na versão S (são 387 cv no modelo comum), moderados por uma transmissão de dupla embreagem Segundo, ele é capaz de ir de zero a 100 km/h em 3,9 segundos, com velocidade máxima de 270 km/h (250 km/h na versão normal).
A força vai para as quatro rodas através do sistema 4MATIC da Mercedes-Benz – e, a grande novidade, a presença do Drift Mode. Diferentemente do que ocorre no AMG E63, que remove a tração das rodas dianteiras por um curto período, no A45 (e no CLA45, evidentemente) o sistema é parecido com o que se via no Focus RS – duas embreagens no eixo traseiro ajudam a transferir uma quantidade maior de torque para cada uma das rodas, no momento desejado (explicamos melhor o sistema neste post). O Drift Mode será incluído de série no AMG A45/CLA45 S, e como opcional na versão normal.
Radical Rapture
Conforme noticiamos ontem, a Radical aproveitou o Goodwood Festival of Speed para mostrar seu novo modelo, o Rapture. Em tese, ele é o mais acessível de todos os modelos da Radical até agora – não em preço, mas em capacidades dinâmicas.
Na prática, ele ainda é um Radical, o que significa que ele é um track day toy peso-pena, com apenas 765 kg na balança (cortesia da construção tubular do tipo spaceframe e da carroceria de compósito) e um motor Ford Ecoboost de 2,3 litros emprestado do Mustang e do Focus RS. Com um novo turbo e coletores de admissão e escape específicos, o quatro-cilindros entrega 355 cv e 44,2 kgfm de torque. Ele é ligado a uma caixa sequencial de seis marchas da Quaife, e leva o carro de zero a 100 km/h em três segundos cravados, com máxima de 265 km/h.
Com uma relação peso-potência de apenas 2,15 kg/cv, nem precisamos dos dados de aceleração e velocidade máxima para saber o Radical Rapture é um foguete. Além disso, desempenho em linha reta não é o mote aqui, e sim o comportamento dinâmico – que, com braços triangulares sobrepostos nos quatro cantos, deve ser aterrador.
Ford GT MkII
O Ford GT já cumpriu sua missão – mostrou que, quando quer, sua fabricante ainda consegue honrar o passado e olhar para o futuro com um superesportivo avançado, visualmente impressionante e extremamente competitivo nas categorias de elite. Para encerrar seu ciclo, a Ford mostrou em Goodwood o GT MkII.
Apesar do nome, porém, não se trata de uma segunda geração, e sim de um track special criado em homenagem ao GT40 MkII que venceu as 24 Horas de Le Mans. Seu objetivo, conforme dissemos no Zero a 300 de ontem, é mostrar como seria um Ford GT de competição sem as restrições do regulamento da categoria GTE. O melhor de tudo: ele será produzido – ainda que em uma série limitada a 45 unidades, cada uma ao valor exorbitante de US$ 1,2 milhão (quase R$ 4,6 milhões em conversão direta).
Livre de qualquer amarra regulatória, o Ford GT MkII foi feito em parceria com a Multimatic, que trabalhou ao lado da Ford nas pistas. Ele tem nada menos que 700 cv em seu motor V6 biturbo de 3,5 litros (cerca de 200 cv a mais que os GT que correram em Le Mans) e diversas mudanças técnicas, como radiadores maiores com spray de água (para aumentar a eficiência do arrefecimento), uma asa traseira de dois elementos, splitter frontal e difusor traseiro maiores, e um assoalho mais baixo. Além disso, ele ganhou discos de carbono-cerâmica, bem mais leves que os discos de aço exigidos pela FIA – e eles ajudaram a reduzir o peso do carro em 90 kg.