Não é novidade para ninguém que, se você for bom o suficiente em Gran Turismo (e fizer mais algumas coisinhas), a Polyphony Digital, a Sony e a Nissan podem te colocar ao volante de um carro de corrida de verdade e ainda te pagar para isto — é a GT Academy, programa de formação de pilotos que pode ser definida como uma rota alternativa ao primeiro escalão do automobilismo. Quando você era moleque e virava o Playstation de cabeça para baixo para fazer o CD pegar, provavelmente não imaginava que isto seria possível.
É bem difícil não cair na nostalgia ao falar de Gran Turismo, mas a verdade é que há anos a franquia é muito mais do que um catálogo de esportivos japoneses para petrolheads em formação. Depois que Gran Turismo 5, lançado em 2010, introduziu as corridas online (algo que já estava sendo prometido desde Gran Turismo 4, de 2005), não demorou para que os fãs do game se tornassem uma grande comunidade — que tomou proporção mundial com a chegada da PlayStation Network em 2006.
Não surpreende, então, que este aspecto seja largamente explorado no próximo lançamento da franquia, Gran Turismo Sport — que, como noticiamos aqui, chegará às lojas no próximo dia 16 de novembro. Ainda tem chão pela frente, mas já sabemos muita coisa interessante a respeito do novo GT.
Primeiro: Gran Turismo Sport não é Gran Turismo 7. Parece óbvio agora mas, na época do anúncio oficial, em outubro de 2015, a Sony precisou esclarecer esta confusão. Dito isto, GT Sport será o primeiro título da franquia no PS4. E isto significa que seus gráficos estão mais bonitos do que nunca. O trailer abaixo, divulgado durante o evento de lançamento do game, que aconteceu em Londres, Reino Unido, no último dia 19 de maio, dá uma boa ideia disso. O visual é mesmo deslumbrante.
Isto se deve, obviamente, à capacidade de processamento superior do PS4. No entanto, não espere uma revolução: vistos de fora, carros estão um pouco mais realistas, mas as verdadeiras mudanças estão na modelagem dos cenários e do interior dos automóveis. Serão 137 carros no total e todos terão vista do interior — no vídeo abaixo, que também traz a apresentação do game na íntegra, é possível ver reflexos e sombras no painel do Bugatti Vision Gran Turismo. É bem bonito.
Os desenvolvedores garantem que outra característica importante em um game de corrida também recebeu atenção: o ronco dos carros. Se antes o som de todos carros era bem artificial, agora os caras garantem que tudo está mais realista. Quem ouviu diz que, de fato, os roncos estão melhores, mas eles foram um problema por tanto tempo (dando origem a uma infinidade de piadas e memes, inclusive) que é difícil tirar a impressão de que boa parte dos carros têm um aspirador de pó no lugar do motor.
Em termos de jogabilidade, nada de novo no front. Desde os anos 1990, Gran Turismo se vende como “the real driving simulator”, mas não é novidade que isto é uma jogada de marketing: se você quer um simulador de verdade, vai jogar rFactor, iRacing, Assetto Corsa ou Project Cars. São games que permitem uma amplitude de ajustes no carro muito maior (tem até pressão dos pneus, algo ausente em Gran Turismo), utilizando unidades de medida do mundo real (a cambagem das rodas é exibida em graus, por exemplo, e não em números inteiros), e ainda são imbatíveis neste quesito.
A física de Gran Turismo sempre foi a de um arcade, mais amigável a jogadores casuais, porém com uma dose extra de realismo, e isto deverá se repetir com GT Sport. Durante o evento em Londres, os presentes puderam uma versão ainda em desenvolvimento do game — alguns dizem que a dinâmica dos carros está mais afiada e próxima da realidade (é mais fácil perder a traseira em uma curva, por exemplo), mas ainda falta bastante para que se possa dizer que o jogo virou um simulador. Dito isto, este comentário se repete a cada novo título da franquia — a verdade é que provavelmente Gran Turismo jamais deixará de ser um “semi-simulador”.
Isto nos leva a outro aspecto importante do game: Gran Turismo Sport é um game completo e tem um propósito muito interessante (falaremos disso mais adiante) mas, do ponto de vista técnico, serve mais como um aperitivo para GT7. Mais ou menos como os Gran Turismo Prologue de antigamente — porém, de acordo com a Polyphony, oferecendo uma experiência muito mais completa. Há até alguns modos interessantes estreando: o “Scapes”, que ter permite tirar fotos de até dois carros em mais de 1.000 cenários diferentes, e um editor de pinturas de corrida.
Assim, é bem provável que a revolução de verdade aconteça com Gran Turismo 7 — nesse, esperamos ver gráficos ainda melhores e roncos bons de verdade. Por outro lado, GT Sport tem outro foco, que é justamente sua enorme comunidade. Dá para dizer, na verdade, que este é o principal mote do game.
Isto porque a maior novidade está nos campeonatos online sancionados pela FIA. Ainda não há muitos detalhes a respeito deles, mas sabe-se que serão dois: a Nations Cup, na qual você representará seu país em corridas na rede, e a Manufacturer Cup, na qual você fará a mesma coisa, porém representando a sua fabricante favorita. A questão é que estes campeonatos serão sancionados pela FIA, e tratados como competições sérias de automobilismo.
Ainda não há detalhes concretos a respeito da parceria entre a Sony, a Polyphony e a FIA, mas já se sabe que o progresso nos campeonatos poderá render uma licença de pilotagem de verdade. A diferença é que, pelo que se sabe até agora, o game não coletará apenas dados do desempenho dos gamers, mas também de sua reputação como pilotos — se você é do tipo que faz pilotagem suja, pode esquecer. É como já acontece desde 2008 na GT Academy, feita em parceria com a Nissan europeia, que colocou jogadores de Gran Turismo na equipe da Nissan para as 24 Horas de Le Mans e já funciona desde 2008.
É claro que um simulador, por mais sofisticado que seja (o que não é o caso de Gran Turismo), jamais será capaz de reproduzir aspectos importantes do automobilismo do mundo real — a ação dos elementos e das leis da física, mesmo em um cockpit com movimentos, é algo que só pode ser experimentado ao acelerar um bólido de verdade —, mas gostamos da iniciativa, sem dúvida — no fim das contas, GT Sport poderá ser mesmo uma rota alternativa para o ingresso no automobilismo. E a um custo mais baixo — um volante com force feedback, que é o mínimo necessário para jogar competitivamente, é bem mais barato que um carro de corrida que precisa de manutenção e consertos a cada sessão de treinos ou corrida.