Confirmado em novembro passado, o Grande Prêmio do Vietnã será parte da temporada 2020 da Fórmula 1. O país será o mais novo destino “exótico” da categoria, depois de Rússia, Cingapura, Bahrein, Abu Dhabi, Azerbaijão, China e Malásia. Felizmente, desta vez nenhum circuito tradicional foi riscado do calendário para dar lugar ao GP do Vietnã: ele será o 22º GP do calendário, substituindo o GP da Malásia, que deixou de ser realizado em 2017.
A inclusão de um país sem nenhuma tradição no automobilismo — ou mesmo em automóveis, visto que o transporte individual no Vietnã é feito majoritariamente por motos — também causa apreensão nos fãs: será que vem por aí mais um dos maçantes, profiláticos e inócuos Tilkódromos? Ou há uma pequena possibilidade de que ele seja divertido e interessante também pelo traçado, e não apenas pelo exotismo tropical-oriental? É justamente o que vamos analisar neste post.
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Os primeiros boatos de que o país asiático receberia a Fórmula 1 começaram a surgir em 2016, quando Bernie Ecclestone ainda comandava o circo. Na época, porém, Ecclestone vetou pessoalmente a possibilidade, alegando que já havia corridas suficientes na Ásia – na ocasião, faziam parte do calendário os Grandes Prêmios do Japão, da China, de Cingapura e da Malásia.
Depois da compra da Fórmula 1 pelo grupo Liberty Media – e da extinção do GP da Malásia, que teve sua derradeira edição em 2017 – o panorama começou a mudar. Nos meses seguintes, os rumores começaram a tomar mais força, especialmente depois que o diretor da Fórmula 1, Charlie Whiting, falecido em março, visitou a capital vietnamita para avaliar a locação.
As obras para a construção do circuito começaram logo após a confirmação e seguem aceleradas: a corrida ainda não tem data marcada, mas sabe-se que, por questão de logística, a prova vai acontecer no mês de abril – perto do Grande Prêmio da China. A inauguração do circuito deverá acontecer nas semanas que antecederão a corrida.
O Circuito de Rua de Hanoi (Hanoi Street Circuit), como vem sendo chamado por enquanto, foi desenhado por Hermann Tilke – o projetista responsável por todos os circuitos adicionados ao calendário da Fórmula 1 desde 1999. Em duas décadas de contribuição na F1, Tilke não construiu a melhor das reputações entre os fãs do automobilismo, e os chamados “Tilkódromos” são vistos, geralmente, como traçados insossos e pouco inspirados.
Não demorou muito para que a Fórmula 1 divulgasse as primeiras imagens do traçado, entre fotos e vídeos. Munidos da apresentação oficial, decidimos analisar rapidamente o Circuito de Rua de Hanoi. O que podemos esperar?
Para começar, um esclarecimento: embora seja tratado como um circuito de rua, apenas parte do traçado é localizado em vias públicas de Hanoi – o restante será um complexo permanente, construído especificamente para a Fórmula 1. Aí está inclusa a reta dos boxes e a estrutura da pit lane, que tem o projeto inspirado na arquitetura clássica vietnamita. Na prática, a divisão entre trechos de rua e trechos permanentes é de 50:50.
O traçado tem 5.565 metros de extensão e é dividido em duas seções básicas, com 22 curvas e três longas retas. A reta dos boxes é a terceira mais longa, com 650 metros, seguida da reta oposta, com 800 metros. A reta principal é a mais longa, com 1,5 km de extensão – nela, espera-se que os carros atinjam até 335 km/h antes da curva.
Aliás, boa parte dos pontos de ultrapassagem do traçado consiste justamente em um trecho reto seguido de uma curva de baixa velocidade – um recurso eficaz, de fato, porém bastante óbvio, e usado em excesso nos últimos projetos de Tilke. As ultrapassagens ficam fáceis demais, quase forçadas, especialmente com o uso do sistema de redução de arrasto (DRS).
O miolo do circuito, onde está concentrada a maior parte das curvas, possui diversas ideias interessantes, com um trecho de “esses” e uma rotatória onde ficam as arquibancadas. No entanto, estas curvas estão todas em sequências, posicionadas de forma excessivamente condensada, em sequência – o que acaba reduzindo as oportunidades para ultrapassagens mais ousadas, enquanto os pilotos são obrigados a negociar com as curvas.
O vídeo acima foi divulgado por Herman Tilke, e mostra uma volta onboard no circuito de Hanoi em um simulador virtual. É a melhor maneira de visualizar o traçado que se tem até agora – e também escancara outra questão preocupante a respeito do circuito: aparentemente há pouca variação topográfica, e um circuito plano demais acaba ficando automaticamente mais previsível e menos desafiador. A geometria do terreno urbano não colabora para isto.
Mas nem tudo são críticas. Repare no trecho que compreende as curvas que vão de 6 a 9 (na parte inferior do mapa abaixo, ligando as duas retas mais longas). A longa curva aberta lembra bastante a curva sul do lendário circuito de Avus, e deverá ser uma das seções mais interessantes do traçado.
Falando nisso, há curvas do Circuito de Hanoi foram assumidamente inspiradas em outros traçados. As curvas 1 e 2, por exemplo, imitam as duas primeiras curvas do circuito de Nürburgring:
Já as curvas 12 a 15, no miolo do circuito, foram inspiradas em Mônaco – mais precisamente, da primeira curva até a subida para a Massenet:
As curvas 16 a 19, por sua vez, são evidentemente inspiradas pelos icônicos Esses de Suzuka:
Um detalhe interessante é que a reta dos boxes, localizada neste trecho, corta duas curvas – a última e a primeira (22 e 1). De acordo com Herman Tilke, a ideia é estimular as equipes a variar a estratégia das paradas. É possível que, em vez de fazer uma única parada, os pilotos parem mais vezes e aproveitem a passagem pela pit lane (que é mais curta que de custume) para ganhar algumas frações de segundo nas voltas. É um dos aspectos mais criativos do traçado… o que, honestamente, não soa muito animador.
É claro que, antes de ver um carro de Fórmula 1 de verdade acelerando no Circuito de Hanoi, é difícil saber exatamente como ficará o espetáculo. Por enquanto, só podemos especular. O que você achou?