Enquanto brada-se por aí que a tecnologia híbrida é o futuro do automóvel, vemos os superesportivos híbridos — como a “Santíssima Trindade” formada por Porsche 918 Spyder, McLaren P1 e LaFerrari — mostrarem que… bem, talvez seja mesmo. Não odiamos os híbridos (especialmente quando eles têm quase 1.000 cv e chegam aos 100 km/h em menos de três segundos), mas isto não significa que, de tempos em tempos, fiquemos temerosos pelo futuro dos carros movidos puramente a combustão.
Mas a gente sabe que não há o que temer, pois sempre existirão aqueles que não trocarão faíscas e explosões por nada neste mundo, e sempre farão questão de manter a tradição. Caras como o pessoal da Gabura Racing Technologies, companhia alemã especializada em componentes de competição. Seu mais recente projeto promete: eles vão colocar um motor V8 no BMW i8, o esportivo híbrido da marca bávara.
Lançado na Europa em junho de 2014, o BMW i8 é baseado no conceito Vision Efficient Dynamics, apresentado no Salão de Genebra de 2009. Visualmente, ele carrega boa parte da estética futurista do conceito (o que é admirável) e, assim como ele, usa um motor de três cilindros em posição central-traseira. No entanto, se o motor do conceito era movido a diesel e auxiliado por dois motores elétricos, a versão de produção tem um motor a gasolina e apenas um motor elétrico.
Levando em conta a natureza do conjunto, os números impressionam. Com apenas 1,5 litro de deslocamento e um turbocompressor, o três-cilindros — que, depois do i8, foi empregado em modelos da Mini e da BMW — entrega impressionantes (para seu tamanho) 231 cv a 5.800 rpm e 32,6 mkgf de torque a 3.700 rpm. O motor elétrico, por sua vez, contribui com mais 131 cv e 25,5 mkgf de torque desde o início das rotações.
Faça as contas: são 362 cv e 58,1 mkgf (já reparou que, sempre que um texto diz “faça as contas”, você acaba não precisando fazer as contas?). Se você for um cara flexível e não um daqueles que acham que potência é tudo (sabemos que não é), dá para considerar o i8 um supercarro — especialmente sabendo que ele vai até os 100 km/h em 4,4 segundos, com máxima limitada eletronicamente a 250 km/h. São números mais do que respeitáveis, disso não há dúvida.
O BMW i8 também é capaz de rodar apenas com o motor elétrico. Nesse caso, a velocidade máxima é de 120 km/h. De qualquer forma, esta informação é irrelevante para os caras da Gabura Racing Technologies.
Como já dissemos, apesar do nome meio japonês, a Gabura é alemã. E eles são bons — ou devem ser, visto que é preciso ter colhões para embarcar em um projeto tão radical quanto este.
A companhia anunciou a nova empreitada no mês passado com um vídeo no YouTube (acima) e uma publicação no Facebook mostrando a chegada de um BMW i8 novinho em folha em sua oficina. Dá até um pouco de pena do esportivo híbrido sabendo que logo, logo ele vai entrar na faca. Mas é por uma boa razão.
De acordo com a Gabura, a ideia é “virar o conceito do i8 pelo avesso” — começando pelo nome, GRT V8i (o “i” vem por último, entendeu?). Mas isto também quer dizer que o motor agora será instalado sob o capô dianteiro, onde antes ficava o motor elétrico. Como assim? Olha só a foto abaixo:
O projeto ainda é bem recente, e foi exibido durante o Professional MotorSport World Expo em Köln, na Alemanha. O V8 biturbo de 4,4 litros do M6, que desenvolve 567 cv a 6.000 rpm e 69,1 mkgf de torque, definitivamente não foi feito para ser enfiado no “cofre” do i8 — repare como seu topo parece estar acima da base do para-brisa.
A decisão lógica, para nós, seria colocá-lo atrás dos bancos e fazer do i8 uma espécie de BMW M1 moderno (algo que, aliás, seria absurdamente incrível). De qualquer forma, para equilibrar a distribuição de massas no carro, a Gabura decidiu colocar lá atrás uma de suas transmissões feitas sob medida — ao que tudo indica, uma caixa sequencial de seis marchas com diferencial integrado.
Os primeiros relatos, que circularam há poucos dias, disseram se tratar de um motor preparado pela Alpina (você sabe, a segunda maior fabricante de BMW do planeta), mas na verdade a preparação foi realizada pela própria Gabura.
Os caras deram ao motor um coletor de admissão com corpos de borboleta individuais, sistema de arrefecimento otimizado e lubrificação por cárter seco — além de outros segredos não revelados que deram ao V8 cerca de 200 cv extras. Ou seja: estamos diante de um futuro BMW i8 com pelo menos 767 cv. A Gabura diz que seu objetivo é extrair 800 cv de início, “aumentando este número em um futuro próximo”. Os caras são doentes.
Por fim, a Gabura revelou em sua página que o carro não terá tração integral, e sim traseira — e que, por isso, pneus traseiros mais largos e, consequentemente, algumas modificações na carroceria (leia-se: aumentar a largura) deverão ser realizadas. Além disso, eles já deixaram claro que os sistemas de suspensão e freios serão devidamente atualizados. Sweet!
De qualquer forma, isto é tudo o que sabemos. As fotos dão alguma ideia do estágio atual do projeto, que ainda está no início, mas as expectativas são altas para os próximos meses.