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Hellcat vs. ZL1: as versões mais nervosas do Challenger e do Camaro se enfrentam

Não é exagero dizer que os 700 cv são os novos 500 cv. As versões mais potentes de muitos esportivos já se aproximam dos 700 cv, e cada vez mais carros passam disso. O Dodge Challenger Hellcat é um deles: quando não sabíamos quase nada a seu respeito, ficamos surpresos com os supostos “mais de 600 cv” que ele teria, e não esperávamos que ele fosse tão potente.

Pensando bem, ainda é incrível que você possa comprar um muscle car com um V8 Hemi supercharged de 717 cv, com certificado de garantia, revisões programadas e tudo o mais. Não é um preparado, é um original de fábrica!

Mas aí, temos o Chevrolet Camaro ZL1 para nos lembrar que potência não é tudo.

Como já comentamos algumas vezes nos últimos tempos (especialmente em nossa avaliação completa), o Chevrolet Camaro de sexta geração pega o diamante bruto que era seu antecessor e finalmente o transforma no carro que ele poderia ser. Se você olhasse para um Camaro e tivesse a sorte de ele não ser amarelo, ainda veria um carro com área envidraçada minúscula, pesado, um tanto desajeitado na pista, anestesiado e macio demais.

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A sexta geração consertou estes defeitos (ainda que a visibilidade continue sendo seu ponto fraco): ficou um pouco menor, mais leve, recebeu uma suspensão mais firme e melhor calibrada e ganhou direção mais direta e câmbio mais esperto (falando do nosso SS, que agora tem câmbio automático de oito marchas).

A versão ZL1 é o supra-sumo do Camaro de sexta geração, disso não há dúvida. Versão mais radical do muscle car, ele tem tecnologia de pista, como como amortecedores magnéticos e aerodinâmica especial. Além disso, debaixo do capô ele traz o mesmo V8 LT4 usado no Corvette Z06, com seus 649 cv e 88,5 mkgf. O Camaro provavelmente jamais vai ultrapassar os 717 cv e 89,8 mkgf do Hellcat justamente por que, na linha da Chevrolet, ele fica abaixo do Corvette e a fabricante não quer que ele roube as vendas do seu Halo Car.

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Mas será que, na hora de acelerar, estes quase 68 cv de vantagem do Dodge sobre o Chevrolet fazem diferença?

Foi o que John Hennessey, da Hennessey Performance – o cara que criou o Hennessey Venom GT e ganha a vida colocando turbos e compressores em motores V8 para chegar aos 1.000 cv –, decidiu responder. Para isto, ele pegou um exemplar de cada um dos carros e os colocou para disputar uma corrida  em seu oval de testes. Qual deles leva a melhor?

Antes de responder, assista ao vídeo. Depois, vamos dar nossos comentários.

Hennessey diz que é uma corrida mas, na prática, trata-se de uma melhor de três arrancadas lançadas: os carros atingem a linha de chegada a cerca de 65 km/h e, daquele ponto em diante, aceleram para valer por cerca de 420 metros. Não é uma prova científica, medida com precisão – pois, de acordo com Hennessey, no mundo real (leia-se “nas arrancadas de semáforo”) as coisas são assim, sem cronômetros e medições milimétricas.

Pela mesma razão, ele não se acanhou em colocar um Challenger Hellcat com câmbio automático de oito marchas contra um Camaro ZL1 com transmissão manual de seis marchas. “No mundo real, você não sabe qual é o câmbio do seu oponente”, ele afirma em um dos comentários.

Nada disso invalida a comparação. Pelo contrário: nos permite fazer algumas colocações interessantes.

O Hellcat vence o Camaro, mas por muito pouco, o que significa que a vantagem de quase 70 cv do Dodge não significa tanto assim. Na verdade, no frigir dos ovos, podemos dizer quase com certeza que, não fosse pelo câmbio manual, o Camaro teria vencido esta disputa.

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Isto porque, experiência e habilidade e emoção e envolvimento e tudo o mais à parte, um câmbio automático moderno quase invariavelmente será mais rápido que um câmbio manual. Para complicar as coisas, estamos falando de um câmbio manual em um muscle car de 650 cv e quase 90 mkgf de torque. Para suportar a força, ele precisa usar componentes e mecanismos reforçados. A embreagem também é mais pesada. Ou seja: as trocas no câmbio manual do Camaro não são mais lentas apenas se comparadas ao câmbio automático de oito marchas do Hellcat, mas também se comparadas às de uma caixa manual em um carro menos potente, com motor menor.

Só que a diferença entre ambos os carros foi bem pequena, e isto se dá porque, naturalmente, o Camaro tem um projeto mais moderno. Ainda que a relação peso/potência de ambos os carros seja bem parecida (2,70 kg/cv para o Dodge, 2,71 kg/cv para o Chevrolet), o menor peso do Camaro (1.760 kg contra 1.940 kg) faz a diferença na hora de sair da imobilidade (graças ao menor momento polar de inércia) e também em alta velocidade.

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Outra questão: a aerodinâmica do Camaro é bastante superior. O carro foi pensado para ser melhor que a geração anterior, e isto incluiu uma carroceria mais compacta, com dianteira em formato de cunha, resultando em menor arrasto. No caso do Challenger, pesa o fato de ser um projeto mais antigo – lançada em 2008, a atual geração do Dodge já se aproxima dos nove anos de idade. Sua aerodinâmica, além de ultrapassada (mesmo com a recente reestilização), traz mais preocupação com a estética retrô do que com a eficiência. Uma das consequências disso é o arrasto gerado pela dianteira recuada.

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Para finalizar, voltamos à vantagem da caixa automática de oito marchas do Hellcat, que não é a mais moderna de todas mas garante que a potência extra em relação ao ZL1 seja aproveitada da melhor forma. Quando o piloto do Camaro alivia o acelerador, pisa na embreagem e depois acelera de novo, neste processo são perdidas preciosas frações de segundo.

No ano que vem, o Camaro ZL1 ganhará uma caixa automática de dez marchas, ainda mais moderna, com a qual a Chevrolet promete trocas comparáveis às de uma caixa com dupla embreagem. É algo que estamos pagando para ver (afinal, por mais veloz que seja, um câmbio automático não conta com a vantagem técnica de uma embreagem pré-engatada a cada troca ascendente), mas é fato que, com mais marchas, fica mais fácil para o motor manter-se sempre em uma faixa ótima de funcionamento, pois o giro cai pouco nas trocas.

Sendo assim, fica difícil não fazer coro com o resto do mundo e dizer que, se ambos os carros fossem automáticos, é provável que o Camaro ZL1 vencesse esta disputa.