Olá, amigos cabeças de gasolina! Vamos para a terceira parte dessa epopeia. Se você não leu as primeiras partes, pode ver aqui e aqui.
Bom, lá estava eu com uma moto que não ligava. E como sou pouco ansioso, antes mesmo de conseguir ligar a moto, já fui desmontando o que podia dela. Fuça daqui, fuça dali. Com um multímetro em mãos, descobri que mesmo a bateria tendo 12v, quando tentava ligar a moto (tanto na partida elétrica quanto no pedal) a voltagem da bateria caía pra 4-5v. Ou seja, estava com uma bateria ruim. Ou algum curto que sugava a corrente. Mas eu preferi acreditar que era a bateria.
Peguei uma de outra moto em casa, e voilá! Pegou de primeira!
Notem que já estava sem tanque e várias outras peças.
Feliz da vida, motor funcionando, sem barulhos e sem fumaça.
Agora, sem o peso nas costas de um motor Japonês de 40 anos que não funciona, vamos mexer no resto.
Afinal, o que eu tinha que fazer? Vamos lá:
-Desmontagem completa da moto
-Limpeza das peças que seriam reutilizadas e pintura
-Revisão e substituição de TUDO que fosse necessário (e não era pouco, isso inclui, cabos, lonas, pastilhas, rolamentos, pneus, reparos e etc)
-Corte da parte posterior do quadro (após o ponto de fixação do amortecedor, não queria mudar a ciclística da moto)
-Preparação do quadro para pintura. Isso inclui: fazer o loop da traseira, base do banco e corte dos “excessos”.
-Pintura do tanque
-Montagem com as peças novas e adaptadas
-Acerto da mecânica, carburação e etc.
Já começando a desmontar, pude notar algumas coisas. Todas as peças estavam muito feias, sujas, encardidas e oxidadas. Precisariam de um bom trato. Como disse na outra parte, parecia que tinham largado essa moto no tempo.
O caracol do velocímetro (peça que fica presa junto ao cubo, e transfere o movimento de rotação da roda dianteira para o cabo do velocímetro) estava quebrado de uma forma que não tinha conserto, e seria bem complicado de encontrar um desses. E pra minha surpresa, os dois relógios do painel, estavam travados (lembram que o dono me garantiu que funcionavam, só estavam sem o cabo? Então…). O rolamento do guidão estava podre e o fluído de freio parecia manteiga, sem exageros.
Como eu tinha uma data para ter a moto pronta, eu precisava correr. Então, eu tinha que tirar o motor do quadro, para poder leva-lo para a pintura, e assim poder começar a montar a moto novamente. Mas, antes de tirar o motor, eu tinha que cortar a traseira, e fazer o Loop (o Loop é um tubo curvado na traseira no quadro, unindo as duas pontas dele com uma curva).
Banco e Loop. Queria fazer ela mais ou menos assim
Mas pra que você precisa do motor na moto, e deixar ela montada pra isso? Vocês devem ter se perguntado. A questão é simples: o peso.
Para poder alinhar e fazer o gabarito do loop, a moto tem que estar com as rodas no chão, com o motor fazendo peso na suspensão, e o tanque para dar a linha principal do design dela. Ou seja, eu não podia ir desmontando tudo, enquanto não fizesse o loop e definisse a posição em que seria soldado no quadro.
E vocês não imaginam como é difícil arrumar alguém que consiga dobrar tubos de 1” nas medidas que eu precisava. Mas enfim, depois de MUITA procura, consegui achar um cara que fazia, e num preço ótimo. Com a peça pronta, era hora de determinar a posição que seria soldada.
Para determinar essa posição, eu deveria levar em conta a fixação do para-lama traseiro e alinhamento dele com a roda, e o alinhamento com o eixo traseiro da moto (para um visual harmonioso, o banco deveria terminar no alinhamento do eixo). E junto com tudo isso, levar em conta a linha do tanque e altura da suspensão para o pneu não pegar.
Com essa parte resolvida, eu pude tirar o motor do quadro (de novo com ajuda dos meus amigos). E assim, levar o quadro para soldar, dar acabamento e fazer a pintura.
E depois disso, o quadro ficou pronto para ser pintado.
Aí então levei o tanque numa oficina de pintura de um amigo, (valeu Rogério!) para a remoção completa da pintura para avaliar se precisaria de funilaria, e já fazer o tratamento interno anti-ferrugem do tanque.
Tanque sem pintura, e surpreendentemente, em ótimo estado. Por incrível que pareça, não precisou de funilaria pesada.
E enquanto isso, precisava cuidar de outras coisas. Compra das peças de fora, que precisariam chegar a tempo, pintura do tanque, e reformar as peças que usaria novamente. Então foi hora de correr atrás das peças que já tinha escolhido para comprar no Ebay. Isso incluía guidão, cornetas, torneira de gasolina, punhos de comando direito/esquerdo, manoplas, espelhos, suporte de farol, lanterna, piscas, escapamento, manta térmica, velas especiais, e por aí vai.
E ao mesmo tempo, correndo atrás de peças que tem no Brasil a um preço “razoável”. Tampa do motor, pneus, bateria, relação, cabos, lonas, pastilhas, caracol do velocímetro etc etc. Ainda tem muita coisa pra essas motos no brasil, mas o preço é bem salgado.
É muito legal achar peças como essa. Nova e lacrada na embalagem original.
As rodas foram reformadas pelo Hugo Oddone, um senhor argentino que fazia as rodas das motos de corrida dos anos 70. Com raios originais cromados, nips bicromatizados (ficam com um leve tom dourado) aros em preto fosco e pneus Metzeler Lasertec (originais das Triumph Bonneville). As rodas estavam prontas.
Na montagem, eu percebi que para adaptar o segundo disco de freio, era necessário uma peça que é presa ao cubo, e gira o caracol do velocímetro diferente da original da moto. E obviamente, a moto veio sem. Ou seja, eu precisaria mandar fazer em um torneiro. Algo aparentemente simples, mas como não havia peça de referência, ou imagens nos manuais, teríamos que partir do zero. Levei o cubo, o disco e o caracol (que consegui achar aqui no Brasil) no torneiro, e saí de lá com essa peça:
Já pedi para ele também furar os discos. Não para melhorar a refrigeração (essa moto nem tem desempenho para precisar disso), mas para manter as pastilhas limpas, e assim melhorar a frenagem, já que esses freios não são bons. Além disso, já providenciei um burrinho moderno e linhas de freio em Aerokip.
O painel foi totalmente reformado pelo Gabani, cara super conhecido no meio das motos antigas, e faz um trabalho de primeira.
Nesse momento, eu já tinha diversas peças prontas, que eu mesmo pintei. Apenas aguardando a montagem. Tinha também o quadro pronto. Mas ainda precisava dar um bom trato no motor, que estava bem feio e encardido antes de coloca-lo de volta no quadro. Mas também, ainda faltava chegar diversas peças de fora, o que me impedia de montar totalmente a moto.
Como a cor do tanque já estava resolvida desde antes do inicio do projeto, foi só mandar fazer o adesivo, e manda-lo para pintura. E ficou lindo!
Agora eu tinha o principal, um quadro pronto, um tanque pintado, suspensões e rodas prontas. Nesse momento, ela já começava a se parecer com uma moto novamente. Mas ainda faltava uma parte importante, os para-lamas. Eles seriam feitos a partir dos originais, cortando mesmo (nessa hora, os “zé-frisinho” choram). O dianteiro foi bem fácil de fazer. E para resolver sobre o traseiro, mais uma vez precisaria da moto com o peso do motor, para poder determinar o alinhamento do para-lama com a roda traseira. Chamei meus amigos de novo, e com o motor no lugar pude começar a pensar nisso.
Com o para-lama resolvido, foi hora de começar a reinstalar a parte elétrica
Nisso eu já estava com a moto praticamente pronta. Mas ainda tinha dois problemas sérios.
Bateria e banco.
A bateria original dessa moto é de 14ah, e de forma alguma caberia aonde eu queria colocar, que era embaixo do banco. Fui pesquisando por tamanho, e a bateria que eu teria que colocar, seria uma de 8ah. E a questão é, seria o suficiente? Quase metade da Amperagem original. Só montando e testando pra saber. Caso não fosse, essa moto tem pedal de partida. Então na rua eu não ficaria.
Já era semana do dia 10 de setembro. Eu precisava da moto pronta para o dia 27. Ainda não tinha andado com ela e estava sem a bateria, que não havia chegado devido a uma greve dos correios. E ainda tinha que mandar fazer o banco, que só conseguiria quando a bateria estivesse no lugar, e a parte elétrica fosse resolvida.
Dia 14 de setembro e nada da bateria ainda. Para adiantar, fiz um modelo (valeu faculdade!) da bateria com as medidas exatas, assim, já poderia fazer a caixa suporte para ela em metal, e organizar toda a fiação e colocar regulador de voltagem e retificador nos devidos lugares. Aí já adiantei as coisas, assim quando estivesse com a bateria em mãos, seria só colocar no lugar, sem me preocupar em resolver nenhum problema de elétrica.
Enquanto isso, troquei o óleo e filtro do motor. O filtro estava em estado deplorável.
Ainda bem que não cheguei a andar mais com a moto assim
O distribuidor dessa bateria, que é selada e de gel para poder ficar deitada, fica no sul do brasil. E não encontrava essa bateria em lugar algum em São Paulo. Mas por sorte, consegui achar uma ultima unidade com um cara aqui, e comprei. Desisti de esperar a greve dos correios. Montei e o suporte ficou perfeito!
Só faltava o banco, e isso eu combinei com o Pedrinho, lá do centro. Ele já tinha feito o banco da 450, e fez um preço camarada nesse. Combinamos o prazo. E aí era só esperar.
O evento era no sábado dia 27. Levei a moto no Pedrinho no dia 23. Ele teria que correr para deixar o banco pronto a tempo. Sim, foi tudo corrido. Tudo em cima da hora. Mas fiz o que pude. A questão da bateria, os prazos da pintura me atrasaram muito. Se não fosse isso, teria conseguido deixar ela pronta antes.
Para piorar ainda mais a situação, ao levar a moto para ele, percebi um problema. A moto estava com a carburação em péssimo estado. A agulha não vedava bem, e mesmo quando a cuba enchia, e a boia subia, a gasolina continuava entrando. O que acabava afogando a moto, mesmo com ela em movimento.
Assim, a solução para andar com ela, foi ir fechando a gasolina toda vez que sentia que ela começava a afogar e abrindo toda vez que começava a dar falta.
Eu tenho uma noção de mecânica, consigo montar e regular um carburador. Mas apenas um. Lembrem-se de que nessa moto, são 4. E que precisam estar em perfeita sincronia. Ou seja, precisaria levar para alguém fazer isso e instalar os novos kits de reparo para mim. Mas não teria tempo de fazer isso antes do evento. E fora isso, ainda tinha também a embreagem extremamente dura para resolver.
Mas teria que ir ao evento assim mesmo.
Para definir o formato final do banco, dei uma passada no Pedrinho, e resolvemos.
Antes de encapar o banco
Mas se tudo deu certo,e ficou pronta a tempo, fica para a próxima parte.
Até lá, abraços!
Por Guilherme Marchetti, Project Cars #337