Recordes de volta em Nürburgring Nordscheife sempre são combustível para polêmica. Ainda que, na prática, alguns segundos a mais ou a menos nos 20 km do Infeno Verde não tornem um esportivo melhor ou pior, na hora de contar vantagem eles fazem diferença. É por isso que as fabricantes continuam investindo nestes recordes. A Honda, por exemplo, acaba de anunciar que o novo Civic Type R recuperou o título de carro de tração dianteira mais rápido no ‘Ring, com uma volta de 7:43,8 – mais de três segundos mais rápido que o recordista anterior, o VW Golf GTI Clubsport S, que cumpriu sua volta em 7:47 em dezembro do ano passado. Lá vem treta!
A briga entre VW e Honda anda bastante agitada nos últimos tempos, e em Nürburgring não havia como ser diferente: antes do Golf Clubsport S, o recordista entre os carros de tração dianteira no cirucuito alemão já era o Civic Type R, que havia virado 7:50 em março de 2015. O que a Honda fez foi só recuperar seu título – e, naturalmente, os caras fizeram questão de postar o vídeo do feito no YouTube, na íntegra. Você já sabe o que fazer:
Além de mais de três segundos mais rápido que o Golf GTI Clubsport S em Nürburgring, o novo Type R é sete segundos mais rápido que a geração anterior. De acordo com a Honda, o ganho de desempenho deve-se a uma série de fatores. Começando pelo motor, que é uma evolução do K20 turbo do antigo Type R, porém com fluxo do cabeçote revisado e uma nova programação na ECU. Com isto, o carro é 10 cv mais potente, chegando a 320 cv a 6.500 rpm. O torque continua nos mesmos 40,7 mkgf entre 2.500 e 4.500 rpm.
Mas não é só isto: o hot hatch também mudou algumas características fundamentais de seu projeto. Para começar, pela primeira vez o Honda Civic hatch foi desenvolvido junto com as versões sedã e cupê e, por isto, pela primeira vez ele tem o mesmo sistema de suspensão multilink das outras versões de carroceria. O Type R anterior também tinha um eixo traseiro multilink, mas o mesmo era adaptado, pois as outras versões do hatch usavam eixo de torção. Com a suspensão multilink presente no projeto desde seu nascimento, fica mais fácil para os engenheiros aproveitarem todo seu potencial na hora de realizar o acerto do carro.
Além disso, o novo Type R é maior e mais largo que o anterior, incluindo na largura dos pneus e das bitolas; tem centro de gravidade 34 mm mais baixo e, graças ao uso de metais de alta resistência e adesivos no lugar de certos pontos de solda, consegue ser 39% mais rígido que o modelo antigo sem acréscimo de peso – a balança continua marcando 1.382 kg. Quer mais? O câmbio manual de seis velocidades ganhou novo escalonamento e um sistema de sincronização de rotações nas reduções de marcha.
A Honda observa que o segredo está mesmo nas curvas. De acordo com Ryuichi Kijima, responsável pelo acerto dinâmico do Type R, o entre-eixos mais longo, os pneus mais largos e o kit aerodinâmico (que inclui até geradores de vórtice) contribuem para um aumento de até 10 km/h na velocidade do carro nas entradas de curva. Kijima cita como exemplo a Metzgesfeld, uma curva que, em média, é atacada a 150 km/h – o Type R 2017 entra nela a 160 km/h.
A Honda também deixa claro que a gaiola de proteção vista no vídeo não afeta a rigidez do carro, e que foi instalada puramente por questões de segurança – ela é flutuante e não faz contato direto com o monobloco, sendo sustentada por buchas de borracha. Contudo, apesar de estar apoiada em buchas, existe a possibilidade de redução na torção pela distribuição de forças na estrutura da gaiola. Eles também dizem que o sistema multimídia e o banco traseiro foram removidos, mas que a redução de peso é compensada pela própria gaiola.
É importante falar destes detalhes porque, com o caso do Lamborghini Huracán Performante e sua suposta fraude, a credibilidade dos tempos de Nürburgring divulgados pelas fabricantes anda em baixa. Dale Lomas, do Bridge to Gantry, acredita que uma redução de mais de seis segundos no tempo do Type R é possível com as novas características – e também não duvida que, na prática, tanto o Golf quanto o Civic tenham um pouco mais de potência do que as fabricantes declaram na ficha técnica com algum tipo de overboost temporário, prática que vem se tornando comum com os motores turbinados.
Nossa opinião? Seems legit. E é questão de tempo para que a Volkswagen revide. Vamos ficar esperando!