Quando criança eu era doido por uma mini-moto a gasolina. Está viva em minha memória a visão de duas mini-motos em uma loja de brinquedos de shopping há uns vinte anos. Aquilo me deixou encantado – era uma moto de verdade, com motor, suspensão, freios e visual esportivo, só que do meu tamanho.
Depois eu descobri que uma mini-moto podiam custar tanto quanto uma moto de tamanho normal, então meio que desisti da ideia de ter uma. O que eu não sabia na época é que algumas mini-motos acabavam se tornando populares entre os adultos. Como a Honda Monkey, lançada em 1969 e relançada no mês passado, depois de quase 50 anos.
Em 1969 a Honda ainda era uma companhia relativamente jovem, com 21 anos desde sua fundação em 1948. E fazia pouquíssimo tempo que a marca havia começado a atuar fora do Japão – foi em 1963 que as primeiras motos Honda começaram a ser vendidas nos Estados Unidos. De início o principal produto da linha era a Honda Super Cub, uma moto com motor monocilíndrico de 50 cm³ e quadro de aço prensado, o que a tornava uma espécie de híbrido entre uma motocicleta de verdade e uma scooter.
A Honda C100 Dream, sucesso no Brasil nos anos 90, era uma evolução da Super Cub original
Compacta, leve e de pilotagem descomplicada graças à adoção de um câmbio semi-automático, que dispensava a embreagem, a Super Cub tornou-se um best seller no mundo todo e um case de sucesso graças à campanha You meet the nicest people in a Honda (algo como “Você conhece as pessoas mais legais em cima de uma Honda”), que vendia as motocicletas como algo popular, para qualquer pessoa, e não apenas para gente rebelde e contraventora como a imagem que “Easy Rider” deixou no imaginário coletivo. A campanha foi um sucesso e durou doze anos, e só no primeiro ano a Honda conseguiu vender 90.000 unidades nos EUA.
Pouco antes disso, na virada dos anos 1950 para os 1960, começou a popularizar-se nos Estados Unidos a construção de mini-motos em garagens. Elas eram feitas usando tubos de metal e componentes que estavam sobrando nas oficinas, e geralmente eram feitas por entusiastas de corridas de arrancada, que as usavam para se locomover nos boxes das dragstrips. Por isto, elas eram chamadas de pit bikes.
Não demorou para que os pilotos começassem a levar as motos para casa e as utilizassem como um meio de transporte alternativo pela cidade. E, como era de se esperar, quem gostou foram as crianças e adolescentes, que começaram a tentar construí-las sozinhos. Em junho de 1967, a revista Popular Mechanics publicou um artigo com instruções para montar uma mini-moto em casa. O artigo dizia que só era preciso “um motor de cortador de grama e um vizinho com uma máquina de solda”.
A reação da indústria foi rápida, e logo surgiram kits prontos de fabricantes pequenas, com chassi, motor, rodas, pneus e freios, além de motos já prontas. Algumas delas eram fabricadas por empresas que já atuavam no ramo de produtos de força, como motores estáticos, cortadores de grama e snowmobiles. A Honda veio depois, com a Z50A.
A pequena moto tinha uma quatro tubular e desenho que lembrava uma moto urbana comum, só que menor, com rodas de 8 polegadas e um banco de tamanho normal. O motor monocilíndrico de 49 cm³ tinha comando no cabeçote e era acoplado a uma transmissão semiautomática de três marchas – geralmente a transmissão das mini-motos era mais simples, com embreagem centrífuga e apenas uma marcha. Com isto, ela era capaz de chegar a cerca de 50 km/h, embora não houvesse um velocímetro para confirmar. A Honda Z50A tinha, contudo, um farol e uma lanterna e era legalizada para uso nas ruas. Na verdade a legislação era bem mais branda naquela época – também não era preciso ter habilitação para dirigir mini-motos.
Nos primeiros anos a Z50A não tinha suspensão na traseira, apenas na dianteira. Isto não era um problema no Japão, onde a maioria das mini-motos era usada nas ruas, como meio de transporte. Mas no EUA e na Europa elas costumavam receber pneus maiores para rodar em estradas de terra e trilhas leves, uso que forçava demais a estrutura e ocasionava quebras no quadro (que era do tipo backbone, ou “espinha dorsal” como nas motos maiores da época). Diante disso, em 1972 a Honda incorporou um sistema de suspensão traseira com molas helicoidais, o que tornou a rodagem ainda mais próxima de uma moto “de verdade”.
O apelido monkey bike veio da postura assumida por um adulto ao guidão de uma mini-moto (especialmente se ele fosse rebaixado, uma modificação comum na época): curvado para a frente com os ombros abertos as pernas encolhidas, como um macaco (ou, dependendo do seu tamanho, um gorila) em cima de uma bicicleta.
Ao longo dos anos foram adicionados novos membros à família Z de mini-motos da Honda: em 1978 foi lançada a Z50-R, versão em miniatura das motos de trilha da Honda, com suspensão elevada e pneus off-road. Nos anos 80 foi a vez da ZB50, que parecia uma moto esportiva, com direito a quadro perimetral e design aerodinâmico.
Apesar de originalmente criadas para crianças, o que era reforçado nas peças publicitárias, a Honda Z tornou-se um brinquedo para adultos, que aproveitavam o preço relativamente baixo, a manutenção simples e a facilidade de condução para usá-las para lazer.
O pico de popularidade das mini-motos da Honda aconteceu nos primeiros anos da década de 1970. Depois disto, elas começaram a entrar em declínio. O foco passaram a ser as scooters e motos comuns. Os entusiastas das pequenas, porém, seguiram cuidando e modificando seus exemplares, até que recentemente a Honda decidiu colocar uma nova mini-moto no mercado: a Honda MSX 125 Grom.
Fabricada na Tailândia desde 2014 e lançada nos EUA em 2016, a Grom é uma mini-trail com motor de 125 cm³, com porte reduzido, que ficou bastante popular por seu estilo radical e pelo consumo de combustível bastante frugal – mais de 50 km/L.
Agora, em abril de 2018, a Honda lançou a Monkey. Ela usa o mesmo quadro da Grom, porém seu estilo é fiel ao da primeira Z50, ainda que ela seja um pouco maior e proporcional para um adulto. É consideravelmente menor que uma CG 125, por exemplo: enquanto a CG tem dois metros de comprimento, 74 cm de largura e 1,08 m de altura, a Monkey tem 1,7 m de comprimento, 75 mm de largura e 1,03 m de altura.
Ela usa rodas de 12 polegadas com freios a disco e ABS, tem painel digital, injeção eletrônica e 9,5 cv. Segundo a Honda, o rendimento pode chegar a 67 km/L.
De repente, outra vez me deu vontade de ter uma mini-moto.