o automovel como o homem existe a imagem e semelhança de seu criador os bugatti de ettore eram claramente obras de arte moveis produzidas sem consideraçao alguma aos custos e apenas a gloria maxima a beleza absoluta a velocidade impar eram objetivos uma imagem automobilistica da pessoa chamada bugatti do outro lado do espectro o ford modelo t era ascetico funcional duravel confiavel e justo em preço um henry ford sobre rodas e tal coisa acontece mesmo quando nao ha um so criador mesmo quando nao ha um lutz ou piech superpoderoso para definir seu produto os carros continuam criaçoes humanas mas entao fruto de conflito sim conflito porque o tal do trabalho em equipe teoricamente um nirvana de consensos alegres e desprovido de pendengas so funciona bem de verdade se ha atrito ninguem gosta de conflito claro particularmente evito eles a todo custo as vezes em detrimento de meu proprio interesse mas sei tambem que nao ha progresso sem conflito somente empurrando as fronteiras do aceitavel para todos os envolvidos e que se consegue chegar realmente no melhor compromisso possivel somente com gente chata e crica que empurra pede coisa dificil insiste briga nao desiste e que algum progresso e feito nao ha omelete sem ovo quebrado se me permitem abusar de um cliche para la de gasto um exemplo claro e o nosso icone dos anos 1990 desta semana o calibra um carro obviamente cheio de contradiçoes e imperfeiçoes um conflito humano tornado real em metal plastico e vidro cheio de toques maravilhosos de genialidade ao mesmo tempo que deixa claro suas origens mundanas e de segunda linha neste carro pode se ver claramente as personalidades fortes e as fracas das equipes de engenharia que o fizeram bem como o manto empresarial da general motors uma empresa que entao abandonava sua tradiçao de engenharia superior para entrar num abismo corporativo de culto ao mediocre consenso insosso talvez por isso e um carro de contornos quase humanos imperfeito num momento genial em outro um espelho para nos mesmos a perfeiçao tecnica afinal de contas nunca nos deixa realmente satisfeitos com automoveis nao somos robos e por isso tratamos perfeiçao com admiraçao apenas amor paixao a real conexao com algum automovel e reservada para quem e imperfeitamente perfeito para cada um de nos individualmente algo que nos faz lembrar que como individuos tambem nao sabemos fazer tudo perfeitamente bem de onde veio durante os anos 1970 as engenharias das subsidiarias europeias da general motors ainda operaram com grande independencia como ja contamos aqui quando começam os anos 1980 tambem começa a consolidaçao das duas marcas era na verdade parte de um movimento maior do gigante americano que queria acabar com trabalho duplicado e varios modelos diferentes para mercados parecidos parecia idiota por exemplo existir um vauxhall firenza e um opel manta dois carros totalmente diferentes que seriam substituidos pelo calibra [caption id= attachment_258341 align= aligncenter width= 999 ] erhard schnell e o primeiro sketch que começou tudo [/caption] parece um movimento obvio da empresa por que motores 4 cilindros opel e vauxhall diferentes e com o mesmo tamanho nos eua tambem buick oldsmobile cadillac e pontiac chevrolet se juntavam primeiro passo para fazer uma so engenharia e uma so prateleira de componentes para todos mas o estranho dessa historia e que ao contrario de fazer uma empresa mundial mais forte acaba por diminui la a gm e uma sombra do passado e fora do mercado europeu claro que nao so por isso mas uma coincidencia assim nao pode ser a toa mas voltando ao fim dos anos 1980 a engenharia da vauxhall começava processo de esvaziamento o plano futuro era que toda engenharia da europa se concentrasse na opel e para tanto ate wayne cherry sai da vauxhall para a opel em russelsheim para se tornar o chefe do design na europa e nao somente na vauxhall [caption id= attachment_258342 align= aligncenter width= 999 ] o primeiro mock up de estilo[/caption] a opel vinha de uma serie de sucessos desde o inicio dos anos 1970 tinha mudado a sua imagem para uma de uma empresa progressista e de alta tecnologia era tambem uma marca querida dos entusiastas com carros de espirito esportivo e traçao traseira nos anos 1980 com a progressiva mudança para motor transversal dianteiro e traçao dianteira este vies esportivo sumiria isto porque a opel uma das ultimas marcas europeias a abandonar o motor dianteiro e a traçao traseira nao conseguiu fazer isso muito bem de cara muito tempo foi necessario para que chegasse a fazer carros de traçao dianteira realmente bem mas a empresa estava ainda em expansao e investindo forte em tecnologia lançou em 1979 o motor familia ii que substituiria de uma vez os antigos opel ohv e cid e o slant four da vauxhall e teria vida longa uma versao menor chamada familia 1 aparece depois e ainda e usada muito modificada nos nossos onix joy hoje [caption id= attachment_258343 align= aligncenter width= 999 ] o mock up final[/caption] originalmente a nova direçao da gm nao pretendia substituir o opel manta e o vauxhall firenza o mercado de cupes deste tipo parecia se esvair com o fim iminente do ford capri e do renault fuego o calibra so nasce pela insistencia de wayne cherry e seu design por ocasiao de uma visita do presidente mundial da empresa cherry pede propostas de cupes baseados no novo opel vectra ao estudio de desenho de exterior liderado por erhard schnell uma pessoa historicamente perfeita para isso schnell foi o designer do famoso opel gt de 1968 o desenho original considerava reduçao de entre eixos para fazer um 2+2 nao foi aprovado imediatamente; cupes deste formato nao estavam nos planos da liderança da empresa entao apenas mais estudos foram permitidos um começo algo alem do nada o calibra e um daqueles carros que acontecem nao por estrategia empresarial ou planos detalhados de mercado nao e algo que e empurrado lentamente passo a passo por anos por um grupo de pessoas entusiasmadas com a ideia e que nao a deixam morrer vale dizer aqui que o design da opel diferente da norma hoje seguia tradiçao alema de entao estava subordinado ao diretor de engenharia de carroceria parece um detalhe besta mas faz toda diferença na maioria das vezes e um impedimento a liberdade do design mas neste caso foi um raro caso de alinhamento de objetivos isto porque a opel se dedicava entao de corpo e alma ao aperfeiçoamento tecnico da aerodinamica dos carros de rua o kadett e de 1985 no brasil 1989 era um passo claro nessa direçao em 1986 lançou o omega o mesmo que veio para o brasil em 1992 um exemplo claro disso obviamente criado com arrasto aerodinamico baixissimo como objetivo o cx de 0 28 era incrivel noticia de manchete o engenheiro chefe deste esforço na opel era o diretor de carroceria hans joachim emmelmann [caption id= attachment_258345 align= aligncenter width= 999 ] dois carros de erhard schnell opel gt e calibra[/caption] o projeto do calibra finalmente e aprovado com o uso da plataforma e mecanica do vectra sem nenhuma alteraçao para reduçao de custo e para tentar segurar a invasao de cupes japoneses na europa emmelmann e schnell aproveitam a chance para criar algo que estavam pensando em fazer a algum tempo o menor cx da historia da industria o que se segue e um longo desenvolvimento nao so de forma basica mas de detalhes e componentes separados talvez nunca mais visto em carros de produçao para as ruas cinco tuneis de vento foram usados em dois continentes durante 3 anos para aperfeiçoar a forma do carro muito se descobriu a influencia de altura de tampa de porta malas de saias laterais de altura de spoiler dianteiro ao solo tudo e medido e computado novos softwares para calcular o comportamento numericamente sao desenvolvidos nao conheço nenhuma vez em que engenheiros influiram tanto no desenho do carro de rua em tempos modernos o resultado nao falha a admirar porque ainda assim mesmo com tanta influencia tecnica ainda assim e lindo o carro diminui bastante a area de sua seçao transversal do meio para tras algo necessario para baixo arraste mas nao parece um peixe fugido do aquario como tantos carros conceito e uma obra coesa de designers e engenheiros trabalhando para um objetivo comum arte e tecnica se juntando num resultado incrivel [caption id= attachment_258354 align= aligncenter width= 964 ] alguns dos estudos aerodinamicos a influencia de tudo foi medida [/caption] quao incrivel como tem a base do vectra inalterada e grande e quatro adultos podem viajar tranquilamente ali inclusive com um porta malas gigante acessivel por uma enorme tampa traseira um cupe de desenho avançado diferente moderno mas ainda assim um carro pratico versatil que pode levar uma familia pequena para as ferias ainda assim atinge em seu lançamento o seu objetivo inicial o menor arrasto da industria com cx de 0 26 e uma area frontal reduzida de 1 81 m2 chassi e motor se a carroceria e o projeto aerodinamico eram um sucesso e um avanço sem precedentes o motor e cambio nao ficavam atras a mais barata versao europeia receberia o 2 0 8v do vectra um motor decente mas brilhava realmente na versao seguinte o famoso c20xe o motor familia ii com o cabeçote dohc e 16 valvulas desenvolvido pela cosworth para a opel um delicioso potente e elastico motor de 150 cv a 6000 rpm e 19 6 kgfm a 4600rpm que hoje e nada menos que uma lenda esta e a versao que recebemos aqui com logotipo chevrolet o nome calibra e usado em todos os mercados mas a marca variava recebeu logotipos vauxhall opel holden e chevrolet na europa o carro evoluiria para uma versao 16v 4x4 permanente com suspensao multilink traseira e depois com a versao turbo do dois litros dohc e 204 cv houve tambem uma versao de traçao dianteira e o v6 dohc opel uma pequena joia de 2 5 litros e 170 cv depois que deixou de ser vendido aqui na europa ganha outro quatro em linha dohc agora o ecotec mais manso desenvolvido com a lotus o consenso parece ser que a melhor versao e a turbo 4x4 o v6 e otimo em si mas faz uma frente mais pesada em um carro que ja sofre com distribuiçao de peso frentuda 60/40% mesmo com 4 cilindros a vasta maioria dos carros e todos aqui no brasil eram simplesmente um vectra gsi por baixo inalterado com traçao dianteira e o quatro em linha cosworth de 150 cv o que causava o maior paradoxo aqui apesar de toda cara de cupe veloz e dos motores fortes seu chassi ainda era o de um seda opel de traçao dianteira dos anos 80 uma boa base para um seda familiar seguro mas nada esportiva [caption id= attachment_258348 align= aligncenter width= 999 ] detalhes da versao 4x4[/caption] a imprensa europeia foi implacavel muito subesterço direçao vaga e imprecisa baixos limites em curvas o forte motor cosworth fazia miseria com uma suspensao dianteira acostumada a pouco torque dificil de manter reto em aceleraçoes fortes um cordeiro em pele de lobo era a mensagem que vinha obviamente la a versao turbo 4x4 resolvia o problema de traçao e dava desempenho quase de supercarro ao cupe mas as reclamaçoes de um chassi mal desenvolvido para direçao esportiva permaneciam disse a autocar do 16v e um pouco como o super homem ao contrario por baixo de uma roupa sofisticada que deixa os musculos a mostra ha um coletinho de la e ceroulas nao e que o calibra seja fraco seu motor de dois litros e 16 valvulas ronca bravo e tem uma patada forte como a de uma mula 0 96 km/h em 8 1 segundos e 220 km/h mas o desempenho nao e o principal ponto de venda ser bonito e com espaço de sobra e o tema aqui o carro porem era cheio de detalhes interessantes a area envidraçada era grande dando otima visibilidade para todo lado rara em cupes as portas nao tinham molduras de vidro um detalhe para ajudar a planejada versao conversivel que acabou nao acontecendo para evitar concorrencia com o saab 900 um caro de uma empresa recem comprada pela gm e um sucesso de vendas encontrando compradores regularmente por muito tempo e deixando todo mundo bobo ate hoje pelo fato de que nao houve substituto quase 240 mil carros foram vendidos pouco mais de 1500 deles aqui no brasil um carro imperfeito mas inesquecivel para contar a minha experiencia com o calibra temos que voltar ate 1993 nesta epoca eu dirigia apenas opalas e chevettes e portanto tinha carinho especial para com nossos chevrolet baseados em opel minha mae tinha um monza comprado novo em 1991 um carro que nao gostava muito mas ainda assim pode se dizer que era um fa da marca estudava e morava em sao paulo meus pais ainda morando em niteroi no rj de ferias na casa de meus pais um amigo de meu pai me pergunta se nao me importaria de levar o novo carro dele para sao paulo visto que estava de mudança para la com a familia e sua mulher nao dirigia sera que macaco quer banana foi o que meu pai disse a ele no telefone no dia seguinte peguei o carro para deixar em casa ate o dia de minha volta lindo verde escuro metalico longo comprido baixo tinha pouco mais de 1000 km rodados aquele calibra verde mas eu ja era um moleque cinico aquela altura um vectra que e um monza com um terninho bonitinho era esse tal de calibra bom mesmo era o omega tres litros manual do meu pai meu chevette com rodas aro 14 e escapamento aberto pelo preço do calibra melhor seria um omega 2 0 a alcool traçao dianteira bleargh mas pelo menos nao voltaria para casa de onibus grande progresso dois dias depois acabavam minhas ferias e acordei eu as seis da manha de um domingo cheio de neblina baixa para tomar um cafe quente com minha mae jogar minha mala no vasto porta malas do cupe colocar minhas fitas cassete no console e sair para sao paulo ao sair de casa lentamente o motor ronronando tranquilo ar condicionado mantendo temperatura agradavel sem muito esforço o banco com laterais pronunciadas me mantendo no lugar a posiçao de dirigir me pareceu sensacional a pega do volante de couro e o teto baixo eram especialmente interessantes e luz mesmo naquele dia relativamente escuro dava para enxergar em volta na boa desci a longa descida de minha casa ate a avenida la embaixo perdido em pensamentos numa tranquilidade completa so possivel ao inicio de uma viagem assim sabia que nao era um carro esporte o calibra mas dali ate o inicio da via dutra dirigi com vontade no transito fraco de uma manha de domingo cruzei niteroi a ponte e o rio em velocidades simplesmente impublicaveis inacreditaveis olhando com os olhos de 2020 o motor gritava forte bravo e com uma força que nunca mais vi em um quatro cilindros sem turbo elastico a baixas rotaçoes e com um urro entusiasmante depois dos 4500 rpm aquilo movia o carro com uma facilidade e alegria que me deixou decididamente empolgado o carro se movia facil como que sem esforço ou barulho aerodinamico os pedais tinham baixo esforço de atuaçao e eram lineares ao extremo e o cambio tinha acionamento gostoso instintivo uma delicia atravessando um rio de janeiro ainda dormindo a velocidades hoje impossiveis eu definitivamente e silenciosamente ali mesmo na hora firmei um vinculo indivisivel com o chevrolet calibra we got along famously sim a direçao era vaga e sem vida mas ate ali ate o inicio da serra ja longe da cidade uma delicia de carro o som tocava minha fita preferida de eric clapton a todo volume o carro cortava o transito e a dutra feito um foguete sem som verde escuro e eu era quase que totalmente feliz minha felicidade diminuiu um pouco na serra tudo bem que a serra das araras subindo e bem mais tranquila que descendo as curvas sao de raio longo e tudo e menos truncado meu chevette brilhava na serra principalmente na descida o calibra nao ainda bem que so subi com ele; talvez a magica desaparecesse na mais dificil descida era um problema de aderencia baixa mesmo somado a um subesterço que aparecia logo sempre o comportamento era seguro sem sustos mas nada divertido a suspensao dianteira nao e precisa como hoje na maioria dos carros voce sentia movimentos pequenos indesejaveis a todo momento dirigindo forte ali com do dos pneus e vendo que o carro estaria mais feliz mais devagar baixei a velocidade abri o teto solar e me senti muito melhor acabada a serra voltei a andar bem rapido mesmo de uma forma impossivel hoje em dia algo que parecia natural ali uma mistura de completa tranquilidade do carro a alta velocidade o pouquissimo movimento na estrada e uma total ausencia de radares ou policiais ah que saudade de 1993 a viagem foi tao tranquila gostosa confortavel e rapida que nao parei nem uma vez nem para abastecer cheguei em sao paulo em apenas quatro horas de viagem e totalmente revigorado um carro que te faz sentir tao bem que e tao versatil e ao mesmo tempo belo confortavel e veloz desse jeito pode ser julgado mal por nao ser tambem bom na direçao esportiva claro que nao ninguem quer imitar colin mcrae todo santo dia cansa e faz mal a cutis ao tirar o pe chegando na marginal ouvindo o motor urrar de leve sua desaceleraçao em quinta desejei que sao paulo fosse mais longe na verdade desejei que a estrada nao acabasse nunca e que aquele calibra verde e eu continuassemos juntos para todo o sempre cruzando o horizonte sem nunca chegar ao fim como nos longos acordes finais de layla hoje mesmo quase 30 anos depois ainda me sinto exatamente igual
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