Pode haver algo mais irritante que os longos congestionamentos nas estradas nesta época do ano? Sim, pode: os motoristas mais espertos do mundo. Você sabe de quem estou falando: aquelas pessoas que acham que acostamento é faixa de rodagem, e que a proibição de circular por ele é meramente sugestiva.
Embora não pareça uma infração tão grave, o uso do acostamento para ultrapassar outros carros — parados ou não — é proibido por questões de segurança. Por ser um local destinado a paradas de emergência, ao transitar pelo acostamento você corre o risco de bater em um carro parado, atropelar uma pessoa que está reparando o carro ou simplesmente caminhando por ali (pois o acostamento é uma espécie de “calçada informal” das rodovias).
Na pior das hipóteses, você pode atrapalhar o serviço de socorro a acidentes e até colaborar indiretamente com a morte de alguém. Este exemplo soa extremo e exagerado, mas foi exatamente o que aconteceu nesta semana na BR-116 no Paraná.
Na quarta-feira (28), dois caminhões colidiram na BR-116, na região de São José dos Pinhais/PR, próximo ao cruzamento com a BR-376. O local é bem conhecido pelos motoristas da região ou aqueles habituados a viajar entre a região Sul e Sudeste: trata-se de um trecho do anel viário de Curitiba (Contorno Leste), que divide o fluxo da capital e do Sudeste para o oeste do estado, litoral catarinense e Rio Grande do Sul, além de receber o tráfego da região metropolitana.
Sendo um trecho de alto fluxo de veículos, um longo congestionamento logo se formou e, como em todo congestionamento, alguns carros começaram a usar o acostamento para seguir em frente. O problema é que a equipe de socorristas do SAMU ainda estava a caminho e, sem espaço entre os carros para que os motoristas no acostamento voltassem para o lugar onde deveriam estar, a ambulância precisou ficar parada até que a passagem fosse liberada. Eles gravaram um vídeo desta situação absurda:
Quando os socorristas finalmente chegaram ao acidente, o motorista de um dos caminhões havia sofrido uma parada cardiorrespiratória (PCR). Embora a probabilidade de reversão da parada varie de acordo com o caso, a medicina estima que a cada minuto passado sem socorro ela seja reduzida em 10% — o que significa que após 10 minutos sem atendimento a reversão da parada é pouco provável (embora não impossível).
Os socorristas ainda tentaram as manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP), porém não conseguiram reverter a parada cardiorrespiratória do motorista de 54 anos, que morreu no local.
À rádio Banda B o socorrista que gravou o vídeo declarou: “Hoje, no acidente grave entre dois caminhões tivemos bastante dificuldade para chegar até a ocorrência por causa de pessoas bloqueando o acostamento e dificultando a nossa passagem. No local em que condutor do caminhão veio a óbito, talvez se tivéssemos passagem livre teríamos salvo essa vida”.
Como dissemos anteriormente, trafegar pelo acostamento é uma infração gravíssima, punida com sete pontos na CNH e multa com valor multiplicado por três, ou seja, R$ 880,41. Contudo, como toda infração de trânsito no Brasil, ela precisa ser flagrada pelas autoridades competentes — seja por monitoramento remoto ou por abordagem ao infrator. Como o efetivo policial nem sempre é suficiente para atender ocorrências, tais infratores acabam impunes, prontos para repetir o erro em um próximo congestionamento.