a coisa mais incrivel sobre o ser humano em minha humilde opiniao e sua capacidade de adaptaçao e superaçao ja estamos ha mais de dois meses trancados em casa mas continuamos a funcionar de uma forma ou de outra; talvez um pouco mais pobres talvez desconfortavelmente mas ainda assim andando para frente de forma continua sem parar como steve mcqueen em papillon continuamos vivos e indo adiante dando uma banana para um mundo que nos puxa para tras tenta acabar com nossa força de vontade e judia da gente hey you bastards i m still here mas alguns dias sao mais dificeis que outros e o dia de hoje nem bem começou e recebemos a noticia que o jose luiz vieira o jornalista para sempre imortalizado pelas iniciais jlv ao fim de suas materias na revista motor 3 veio a falecer em sua casa em cotia na noite de ontem terça feira 19 de maio tinha 88 anos e sofreu uma parada cardiorrespiratoria em consequencia de uma insuficiencia renal sabiamos que ja ha bastante tempo sua saude nao era das melhores e juntando isso a sua idade avançada nao podemos dizer que nao era esperado uma hora ou outra provavelmente finalmente esta em paz mas nao ha como ser avassalado por um sentimento de tristeza de fim real e definitivo de uma era jose luiz vieira era um ser humano falho como todos nos tenho certeza mas para mim ele e mais que isso era um idolo insubstituivel jose luiz vieira era um dos primeiros engenheiros automobilisticos formados do brasil conseguindo seu titulo nos eua nos anos 1950 quando ainda nao existiam cursos deste tipo por aqui depois disso de volta ao brasil trabalhou na pioneira revista de automoveis do rio de janeiro o que o catapultou para uma carreira no meio jornalistico escrevendo para varias publicaçoes seu trabalho na revista status a revista masculina da editora tres faz nascer a status motor desta revista nasce a sua maior criaçao a revista motor 3 que existiu de 1980 a 1987 hoje considerada a melhor revista automobilistica do brasil depois do fim da motor 3 jlv continuou sua carreira escrevendo constantemente para praticamente toda publicaçao especializada escreveu livros se tornou talvez o mais conhecido cultuado e respeitado jornalista do meio praticamente o patrono do jornalismo especializado em nosso pais conheci o jlv por meio de sua revista em 1980 a motor 3 quando apareceu na banca era algo que nao entendi muito bem na capa um chrysler 1927 e uma revista de carro antigo mas era um moleque ainda sem barbas que como nao podia dirigir consumia tudo que aparecia no tema automovel em sua frente e sendo assim entreguei sem remorsos os 100 cruzeiros impressos na capa para o tio da banca em frente ao meu colegio e comecei a folhear ela na viagem de volta no onibus o tudo que aparecia no tema aqui e na verdade um eufemismo para revista nao existia internet em 1980 claro e apenas musica em discos e fitas cassete podiam ser comprados; video cassete ainda nao existia pelo menos nao em minha vida televisao tinhamos apenas uma em casa e com 4 canais so telefone ficava no meio da sala nao era coisa para criança e tinha um disco esburacado esquisito no meio se quisesse saber algo sobre alguma coisa so lendo mesmo e pouca coisa existia nesse campo tambem livrarias e bibliotecas nao se dedicavam ao automovel como nao fazem ate hoje nos deixando a merce de apenas duas revistas que saiam so uma vez por mes a quatro rodas e a auto esporte elas eram pouco mas era o que tinhamos entao nao posso dizer que a motor 3 me converteu logo de cara; isso veio com o tempo depois mas ao abrir a revista agora aqui do meu lado nao posso deixar de me sentir emocionado e saudoso desse tempo ja na sua primeira coluna mensal jlv dizia o mote que ainda ecoa como musica nos coraçoes da molecada dos anos 1980 curtiçao levada a serio a motor 3 mudou tudo abriu nossas cabeças para um mundo automobilistico maior la fora nos explicou que tratar esta curtiçao este amor seriamente era uma coisa normal e boa que carro e uma coisa seria mas tambem divertida alegre feliz como dizem os americanos ela literalmente explodiu nossas cucas e como nao fazer isso as revistas a que estavamos acostumados eram burocraticas com textos limitados em tamanho e escopo e poucas fotos cuidavam apenas do mercado de carros local e uma delas nem testava picapes por coloca las na categoria de caminhoes prestavam um serviço util de comparaçao e coleta de dados mas sem nenhum espirito ou emoçao ai chega a motor 3 usava um formato que depois descobri tinha muito em comum com a car&driver de david e davis uma foto basica so na capa da materia principal e abaixo dela as outras materias listadas apenas dentro da revista tinhamos uma coluna de cada um dos autores depois noticias depois os testes e reportagens ja ai as colunas inovavam gente que tinha o que dizer emitia opiniao falava o que pensava falar sobre carro como um tema amplo sociologico filosofico e nao apenas uma maquina qualquer definida tecnicamente apenas automovel e mais do que cre sua va filosofia era o recado eu adorava todas elas principalmente claro a de jlv [caption id= attachment_258647 align= aligncenter width= 713 ] assim conheciamos jlv em sua coluna [/caption] jlv era algo raro um engenheiro de verdade com uma grande afinidade com a escrita e com suas emoçoes ler jlv era entrar em suas ideias seus amores automobilisticos sua vida particular ate muitas vezes ele falava o que pensava sem ofender ou procurar polemica e com um vasto conhecimento humildemente oferecido sem reservas definitivamente nao atirava este conhecimento na cara dos outros como uma pedra como arma pessima mania muito comum entre os engenheiros uma pessoa incrivel que sempre admirei por isso e as reportagens da revista enormes sem pressa feitas com gosto e conhecimento nao somente da historia contada mas da maneira certa de se escrever jlv nos levava com ele no aviao ao hotel ao restaurante para so ai nos levar atraves dos impenetraveis portoes das fabricas la para dentro as vezes nos mostrava a fabrica antes de mostrar o carro so depois disso tudo acontecia a avaliaçao do veiculo em si e mesmo ela era diferente tecnica mas tambem mercadologica social e completa jlv nos dizia como era andar no carro como ele o fazia sentir e a gente entendia perfeitamente nos carregava consigo para um mundo bem mais legal que o nosso o que para mim um moleque sem amigos e com dificuldades sociais era uma deliciosa fuga para um mundo melhor um sonho de olhos abertos e nao apenas aqui no brasil andava de carros estrangeiros na europa e nos eua so isso ja era um grande progresso somente em carissimas revistas importadas tinhamos acesso a eles e somente aprendendo outra lingua foi com o impulso da motor 3 que me entusiasmou a aprender ingles para ler publicaçoes de outros paises era uma revista que falava de tudo que interessasse ao entusiasta carros novos mercado e testes objetivos sim mas tambem carros antigos barcos motos avioes e carros modificados jlv vivia inventando coisas diferentes que se tornavam projetos da revista chevette 2 5 e koizyztrana um chassi landau com carroceria tubular os mais famosos era um oasis de informaçao e divertimento esperado ansiosamente por todos quando atrasava a entrega era um martirio certa vez colocou um duesenberg j na capa dentro da revista 15 paginas de historia impressoes ao dirigir e fotos quinze paginas a revista claramente era feita por um leitor contumaz um entusiasta do automovel um engenheiro com profundo senso historico outra vez testando o delorean na irlanda viu a importancia historica do que fazia e publicou uma imensa reportagem sobre a fabrica com fotos maior e mais detalhada que qualquer revista estrangeira e escrita com muito mais verve habilidade e finesse um mestre em seu oficio a motor 3 foi a primeira publicaçao nacional feita por entusiastas para entusiastas como e agora o nosso flatout ele foi o primeiro cara a falar com a gente de igual para igual porque era um de nos e isso mudou tudo mas a revista acaba em 1987 nos deixando orfaos hoje sabemos o porque jlv nao quis comprometer a integridade de sua criaçao o dono da editora procurava mudar a linha editorial para aumentar ainda mais a circulaçao mas jlv nao permitiu melhor acabar do jeito que e que se corromper ou se tornar outra coisa diferente disse jlv ao dono da editora algo que muita gente nao consegue conceber mas tem todas as caracteristicas de heroismo puro nao destilado morrer gloriosamente numa bola de fogo possivel de ser vista da estratosfera enquanto persegue seus ideais e materia prima basica das lendas conheci o jlv pessoalmente exatamente dez anos atras em uma visita a coleçao de og pozzoli em cotia junto com alguns amigos foi um dia memoravel principalmente para mim e meu compadre juvenal jorge fas declarados e incondicionais do jlv mas ele claramente ja nao era o mesmo ja acometido de alguma enfermidade debilitante mesmo assim cumprimentei o emocionado e contei como tinha sido importante em minha formaçao como pessoa mas nao foi so isso lembram do chrysler lebaron 1927 da capa da motor 3 numero um pois bem o carro era de og pozzoli ainda estava la em uma das impecaveis salas da coleçao do saudoso og eu e juvenal pedimos um minuto de jlv nos alinhamos em frente do carro e registramos o momento numa foto dois moleques de 10 anos crescidos 30 anos depois de avidamente abrirem a primeira motor 3 para serem apresentados a um novo mundo o carro o objeto mistico que tornou possivel tudo isso o criador da revista e os dois leitores juntos um momento que guardo com carinho especial e triste que por causa da situaçao atual nao havera velorio esta e para mim a mais cruel das facetas da pandemia; nao podemos prestar uma homenagem mais pessoal a um grande homem mas somos gente e gente se adapta vou ter que prestar minha homenagem daqui da minha cadeira mesmo escrevendo isto o que nao e facil para mim olhando para tras vejo que hoje sem ter planejado inadvertidamente modelei minha vida a de jlv me formei engenheiro automobilistico trabalhei na industria e de uma forma o de outra passei os ultimos 20 anos escrevendo sobre carros claro que nao tao bem como ele nem muito menos fundei revista nenhuma mas nao posso deixar de pensar sobre a influencia que teve sobre mim alem da que sempre soube conscientemente mas e o que os idolos fazem; nos inspiram a tentar ser como eles gente melhor do que seriamos sem eles na verdade nao ha como negar sempre quis ser jlv o admirava como nunca mais admirei ninguem hoje sei que nunca serei como ele e vivo bem com isso me contento em ser o que sou um discipulo digitando essas linhas aqui apenas repito da melhor maneira que posso o que ele me ensinou nas 83 ediçoes mensais da revista motor 3 e por isso agradeço obrigado mestre jose luiz vieira e que o senhor em toda sua misericordia e grandeza sempre lhe chame para conversar quando quiser escolher um novo carro esporte para aterrorizar as estradas do ceu e que ele lhe permita o descanso eterno que voce certamente merece
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