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Ken Block, crash tests, drifts e pé no porão: como a Ford desenvolveu o novo Focus RS!

Nesta era de hot hatches com mais de 300 cv e desempenho superior ao de alguns supercarros de 15 ou 20 anos atrás, o Ford Focus RS é um dos mais comentados. A terceira geração do esportivo é a primeira a adotar um sistema de tração integral, algo importantíssimo para encarar a concorrência. Ou você acha que caras como o VW Golf R, o Mercedes-AMG A45, o Audi RS3 e o Civic Type R (ok, ele tem tração dianteira, mas é simplesmente insano) estão de brincadeira?

O Focus RS fez muito barulho quando finalmente foi revelado — afinal, estamos falando de um verdadeiro foguete. Seu motor Ecoboost turbo de 2,3 litros é basicamente o mesmo empregado no Ford Mustang. No entanto, se ele rende 310 cv no pony car, a versão usada no Focus RS entrega nada menos que 350 cv a 6.800 rpm, além de 44,9 mkgf de torque entre 2.000 e 4.500 rpm (ou 47,9 mkgf no modo overboost). Câmbio? Apenas manual, de seis marchas. Sem choro: se você prefere que um robô troque suas marchas, provavelmente o Focus RS não é para você.

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Não é para menos: o emblema RS significa que o hot hatch faz parte da linhagem Rally Sport, que começou lá nos anos 1970 com o Ford Escort de primeira geração e seguiu ao longo dos anos nos agraciando com diversos clássicos da Ford europeia — do lendário RS200 ao mais lendário ainda Escort RS Cosworth. A maioria deles foi criada para homologação nos ralis (ou ao menos com inspiração neles), tornando a opção pela tração integral algo que, para muita gente, já devia ter sido feito há muito tempo.

Acontece que a adoção de um sistema de tração nas quatro rodas foi só uma das diversas preocupações da Ford no Focus RS, obviamente. Afinal, trata-se quase de um halo car — um carro feito não apenas para ser bom na rua e na pista, mas também para atrair sua atenção para os outros modelos da marca e, especialmente para os donos das versões mais mansas do Focus acreditarem que há um pouco do RS em seus carros.

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Sendo assim, a atenção da equipe RS ao comportamento do Focus em qualquer situação foi maior do que nunca. E para mostrar o tamanho da sua dedicação ao hot hatch, a Ford decidiu produzir um documentário durante a fase de desenvolvimento do carro, e o publicou em oito partes no YouTube. A gente já estava acompanhando tudo há cerca de um mês, quando o primeiro episódio foi publicado, e agora que o último foi ao ar, chegou a hora de ver todos eles.

A verdade é que o Focus RS esteve em desenvolvimento por mais de dois anos, e muita coisa nele mudou do início ao fim do processo. No primeiro episódio, Ken Block — que participou ativamente do design e do acerto do carro — testa um dos primeiros protótipos e o elogia bastante, lembrando de seu antigo contrato com a Ford.

Uma das cláusulas dizia que ele teria um Focus RS — da geração anterior, com tração dianteira e um motor cinco-cilindros Duratec de 2,5 litros com turbo e 305 cv. Ele gostou bastante do carro enquanto esteve com ele, e disse que definitivamente o novo modelo tinha muito mais potencial.

No entanto, sendo um dos primeiros protótipos (totalmente camuflado durante os testes nas instalações “secretas” da Ford em Dearborn, Michigan), o RS testado por Block ainda tinha muito o que evoluir.

E é desta evolução que trata o documentário. Cada um dos episódios mostra uma fase do programa de desenvolvimento, e é muito bacana ver o carro tomando forma. Depois do protótipos, vemos o modelo em clay (argila) com o design quase definitivo e os crash tests realizados  — 28, no total, a fim de ter certeza de que o Focus RS seria um carro seguro o bastante para todos os mercados.

Outro aspecto interessante do documentário é a maneira como o desenvolvimento é abordado. Fica bem claro que, enquanto o visual foi definido e os aspectos de segurança, avaliados, o carro em si continuava sendo modificado e aperfeiçoado. Boa parte do trabalho de desenvolvimento do Focus RS envolveu milhares de quilômetros de testes em estradas públicas, tanto em vias urbanas quanto rodovias.

E é interessante ver que, além de uma pequena frota de Focus RS (devidamente disfarçados como carros mais comuns, para não chamar tanta atenção), a equipe da Ford também testou vários concorrentes. E não apenas concorrentes diretos, como os já citados Golf R e RS3: vê-se que o time também estava com um Lancer Evolution X, que segue a mesma receita básica (quatro cilindros turbo e tração integral) e até um BMW Série 1 (provavelmente um M135i, com seu seis-em-linha turbinado de 326 cv). A equipe não ficou satisfeita enquanto todos não tivessem considerado o Focus melhor que todos os outros carros.

E não estamos falando apenas do seu comportamento na rua, mas também em situações extremas — como em uma superfície coberta de gelo ou neve. Neste cenário, o sistema de tração integral capaz de alterar não apenas a distribuição de torque entre os eixos, mas também entre as rodas em cada eixo, faz toda a diferença.

No entanto, o que realmente chamou nossa atenção foi a honestidade como a Ford abordou as falhas que precisaram ser resolvidas antes que o Focus RS começasse a ser fabricado em Saarlouis, na Alemanha. Porque, obviamente, nenhum carro é perfeito logo no início, e o documentário deixa isto bem claro. Além de alguns problemas com os controles de tração e estabilidade, foram necessários diversos ajustes para que o motor entregasse a potência e o torque em uma curva ideal e equilibrada. Detalhe: tudo isso foi constatado pouco depois de o carro ser revelado à imprensa. A pressão sobre a equipe, portanto, aumentou exponencialmente.

Uma vez resolvido o problema, outro surgiu: na fase final do projeto — quando um exemplar de pré-produção é levado à pista para as considerações finais, o diretor de desenvolvimento de produtos Raj Nair disse que o carro estava perfeito no modo Sport e simplesmente maravilhoso no modo drift  (que, como explicamos aqui, torna as babás eletrônicas mais permissivas em relação ao destracionamento e o ângulo de guinada e permite derrapagens controladas quase como em um carro de tração traseira). No entanto, o modo normal ainda deixava muito a desejar, especialmente na sensibilidade da direção e no comportamento dos freios.

Foi dada uma segunda chance — que deveria ser a última, pois se o carro não ficasse perfeito após novos ajustes, todo o processo de produção e entrega às concessionárias seriam atrasados, e a receptividade ao Focus RS seria bastante prejudicada.

Felizmente depois de algumas modificações no projeto o Focus RS finalmente estava no jeito para começar a ser produzido após mais alguns dias de modificações no projeto.

É o tipo de coisa que nos faz ter ainda mais vontade de colocar nossas mãos em um carro, não? O que é uma pena, porque nada se fala sobre uma possível vinda do Focus RS (que começa a ser vendido no início de 2016) ao Brasil de forma oficial. De qualquer forma, agora que você já leu até aqui (sabemos que sim, você leu tudo!), pode assistir a todos os vídeos!