Chega. Estamos cansados de receber vídeos gravados no Leste europeu mostrando pobres Ladas em situações bizarras. Que mundo é esse em que um valente soviético sofre bullying enquanto um prateado Corolla é objeto de desejo? Está na hora de falar algumas verdades sobre os gloriosos carros de Togliatti.
Em primeiro lugar os carros soviéticos estão longe de ser perfeitos, e isso dá a eles a mais humana das características: a possibilidade de falhar, o que já conta muitos pontos em nossa escala de valores gearheads. Se você acha que automóveis têm alma, vai entender o que estamos dizendo.
Imagine-se então em um mundo dividido em dois lados, onde um desses lados tem um mercado fechado, uma economia planejada pelo Estado que visa apenas suprir as necessidades básicas de uma nação cuja proposta era a igualdade (ainda que uns fossem mais iguais que os outros). Um lugar onde não há intercâmbio de tecnologias, onde os cientistas, engenheiros e inventores não podem contar com nada nem ninguém além de si mesmos.
Os carros soviéticos são fascinantes pois são a expressão máxima da vontade de ter um carro a qualquer custo. Os Trabis, por exemplo, usam um material extremamente criativo e louco em sua carroceria, algo que só alguém com muita vontade de fazer um carro pensaria em usar.
Além disso, todo admirador de tecnologia sabe que a graça das criações soviéticas é essa: fazer a mesma coisa de um jeito diferente, criativo e simplificado. Fazer igual, mas do seu jeito. Dá pra ser mais gearhead do que isso?
Então vamos aos fatos: você já reparou que em quase todos os vídeos bizarros envolvendo Ladas eles são as vítimas, e não os autores da ação? Ainda estamos apurando os fatos, mas temos uma forte suspeita de que existe uma conspiração mundial para exterminar os Ladas do planeta.
Veja estas provas, por exemplo. Primeiro, um agente especial da Alemanha Ocidental acerta o pobre soviético:
Depois um agente do segundo escalão ataca um operário:
Às vezes o ataque é feito com outros tipos de veículos, como trens…
… e motocicletas e pilotos camicases, que por sua leveza acabam sendo mais eficientes, como neste caso onde o agente acerta dois Lada com um único ataque:
E ainda com acidentes forjados, para não levantar suspeitas…
… e até mesmo disparando mísseis!
É claro que nem todos aceitam a opressão dos sedãs pratas. Alguns membros da resistência reagem e lutam bravamente contra o inimigo. Veja só:
Os mais incautos dirão que ele era apenas um meio de transporte medíocre, algo como uma versão soviética de um sedã prata de 2012. Ledo engano. Você acha que os Ladas não servem para umhooning por aí? Pergunte ao Flavio Gomes, que tem . E se depois de uma sessão de 10 minutos de rali com um Lada você não estiver convencido, é melhor começar outro hobby. Cultivar orquídeas, por exemplo.
E por falar em Lada de corrida, eles estavam prontos para entrar no Grupo B do WRC, mas a FIA — submissa aos interesses ocidentais — decidiu suspender a categoria sabotar os avanços da Lada. Provas? Aqui estão:
Eles até ajudaram a Porsche a desenvolver novas tecnologias no começo dos anos 1980. Ou você acha que o 959 é fruto da engenharia alemã? Além disso, mais recentemente quem se aproveitou da boa vontade da Lada foi a Lotus, que certamente praticou muita engenharia reversa na época da atualização do Elise e no estágio inicial de desenvolvimento do Evora, como mostra este vídeo do Top Gear:
Agora, se você não tem muita grana e não abre mão de um carro de tração traseira, quem poderá te ajudar? Sim. Os carros colorados. Os Lada são os carros de tração traseira mais baratos que você pode comprar no Brasil. RWD para as massas, camarada!
E tem mais. Sabe aquele estilo de preparação que os japoneses chamam de JDM? Ele surgiu como CCCP-DM (ou URSS-DM em português), e foi roubado por japoneses disfarçados de chineses (que eram aliados) em um dos mais misteriosos casos de espionagem industrial da história. Com o fim da Guerra Fria e a história recontada pelos vencedores, o estilo foi transformado no JDM Style. Veja só exemplares que provam que esses elementos estéticos são 100% soviéticos:
Outro bully comum diz respeito a um suposto problema de corrosão dos Ladas. Bobagem. O que acontece é que muitas pessoas confundem o sistema superleggera Togliati com corrosão. Trata-se de um sistema descoberto pelos inovadores cientistas soviéticos que se baseia em reações físico-químicas para fazer a carroceria aliviar o próprio peso com o tempo. Performance para as massas.
Dispositivos de segurança? É claro que Togliatti não ficou atrás do resto do mundo, afinal, a neve (e certo produto típico destilado) é um problema sério. Veja este sistema soviético de controle de estabilidade…
… a deformação programada, capaz de calcular o espaço ocupado no habitáculo e fazer com que a carroceria deforme-se de modo que ela absorva a força de impacto ao mesmo tempo em que cria uma célula de sobrevivência para o(s) ocupante(s)…
… e o sistema de estacionamento automático pós-colisão, que remove o carro automaticamente para não atrapalhar o trânsito, estacionando-o em local seguro.
Há quem diga que os Ladas sejam lentos. Pobres tolos! A tecnologia empregada em sua construção foi friamente calculada para que estes carros jamais fossem multados por excesso de velocidade. Ou você já ouviu falar em “indústria da multa soviética”?
Quando preciso, o sistema é desativado, e o ítalo-soviético não deve nada para os grandes superesportivos do mundo capitalista. Nem mesmo os modernos:
Você já viu um V8 russo? Claro que não. Então adivinhem o que a polícia usa para perseguições de cinema…
E por último, saiba você que o primeiro carro do James Hunt do século 21, foi um Lada. Duvida? Então veja só isso. O cara foi campeão mundial de F1, dirige Ferraris, Maseratis e Alfas. Ele entende do assunto.