Grupo B: tão perigoso que foi banido pela FIA, mas tão incrível que seu fim jamais foi superado pelos fãs de rali no mundo todo — mesmo os que ainda nem tinham nascido em 1986, último ano da categoria.
“Uma luz que brilha com o dobro da intensidade, mas dura metade do tempo” foi como o dono deste Lancia 037 Stradale definiu o carro de rali que marcou a estreia da Lancia no Grupo B. Pudera: ele ficou espremido entre dois clássicos absolutos da companhia italiana: O Stratos e o Delta S4 — este, uma evolução do 037. Mas os dois anos em que competiu no WRC foram suficientes para que ele deixasse sua marca na história como um dos especiais de homologação mais espetaculares já feitos.
O 037 foi desenvolvido, principalmente, pela Abarth, que em 1981 havia se tornado finalmente parte da famiglia Fiat-Lancia depois de três décadas modificando e preparando carros do grupo para competições. A equipe fundada por Carlo Abarth em 1949 foi responsável pela maior parte do processo de design do carro, com o resto ficando a cargo do estúdio Pininfarina. O resultado: em 1982, pouco mais de 200 (fala-se em 220) Lancia 037 Stradale estavam prontos, e o modelo de competição pode ser homolocado. Mas como eles eram?
Assim:
Phil Toledano, o dono deste 037 vermelho, contou ao Petrolicious que sua característica favorita no carro é sua funcionalidade. “Este carro foi projetado com um propósito, e eu adoro coisas que foram projetadas para um propósito específico, como uma ferramenta — só que esta é uma ferramenta veloz e que te deixa assustado para c*****o“.
O 037 foi a resposta da Lancia para o Audi Quattro e, embora não tivesse tração integral, ele era movido por um motor de quatro cilindros em linha e dois litros (o famoso motor projetado por Aurelio Lampredi, e que leva seu sobrenome) que, sobrealimentado por um compressor mecânico, era capaz de entregar até 350 cv, que precisavam empurrar 980 kg.
O conjunto estreou em 1982 e, se naquele ano problemas no câmbio ao longo de toda a temporada impediram que ele alcançasse resultados expressivos, no ano seguinte a Lancia deu trabalho à Audi e ficou com o título no campeonato de construtores (o de pilotos ficou com o finlandês veterano da Audi, Hannu Mikkola).
Nos carros de rua, o motor entrega menos potência — 205 cv, mas ainda move o carro com bastante desenvoltura. E, apesar de receber bancos mais confortáveis e acabamentos no interior, o 037 Stradale ainda é um carro de corrida na sua essência: desconfortável, barulhento… e absolutamente divertido de dirigir. Na verdade, “revigorante” é a palavra usada por Phil, que ainda é dono de um Lancia Stratos Stradale e um BMW M1.
“Eu acredito que o Grupo B ainda tem algo de romântico. E você se senta em um carro como esse, projetado para vencer corridas… e ele te faz se sentir diferente”. A propósito, se o carro de rua já acelera tão bem e ronca tão bonito, como será o carro de competição? Bem…
O último ano do 037 foi 1983 — e ele foi o último carro de tração traseira a conquistar um título na categoria. No seguinte, ele deu espaço ao Delta S4 — que, apesar do nome, tinha mais de 037 do que de Delta, e foi o carro de rali mais extremo da Lancia, dotado de um motor 1.8 que combinava um turbo e um supercharger para entregar algo próximo de 600 cv — e ele tinha tração integral. Mas não foi o suficiente para que a Lancia garantisse o título no último ano do Grupo B. O caneco acabou ficando com a Peugeot e seu 205 T16.