Se para você Firenze e Madonna lembram mais carros-fantasia de Fórmula 1 que um município italiano ou uma cantora, então você é dos nossos: jogou bastante um dos games que mais marcaram a história dos consoles de 16 bits – o Super Monaco GP. Nada de 3D, polígonos, texturas mapeadas e afins: aqui, o negócio é roots – quem aí nunca soprou um cartucho com mal contato? Vamos lembrar como era este game?
O Super Monaco GP de Mega Drive (havia versões para Master System e Game Gear) foi lançado um ano após a versão de arcade, em 1990. Na época, não havia game de corrida doméstico que se comparasse à ele – o que talvez explique o capricho do encarte. Bem, ao menos na versão japonesa (imagem abaixo). A versão distribuída pela Tec Toy tinha os mesmos encartes genéricos de sempre.
O grande barato do Super Monaco GP, além da visão de dentro do cockpit (antes, o padrão dos games de corrida era uma visão externa, como no Enduro, de Atari) é a sua inspiração direta no mundo da Fórmula 1: a versão de Mega Drive tinha as 16 provas do campeonato de 1989, além de todas as equipes e pilotos. Sobre esta última parte, a falta de licença oficial acabou criando um desvio muito divertido, como veremos depois.
O game possui três modos: Super Monaco GP (inspirado no arcade), World Championship (falaremos dele na sequência) e Free Practice, modo no qual você pode treinar livremente nas pistas do campeonato. Em todos eles, você escolhe entre usar o câmbio automático, manual de quatro marchas ou manual de sete – as trocas são feitas no cursor do controle: para cima reduz, para baixo aumenta. Como se fosse um câmbio sequencial. Botão A freia, B acelera e C aciona o pit-stop (só no World Championship) – apenas possível no caso do carro estar danificado.
No Super Monaco GP, você disputa uma corrida de duas etapas numa pista fantasia, que mistura os traçados de Suzuka e de Mônaco. Após cada checkpoint, a posição mínima em que você tem de estar vai subindo – se estiver me uma posição inferior, você terá um tempo bem curto para tentar se encaixar. Senão, é Game Over. Veja a introdução do game e o modo Super Monaco GP no vídeo abaixo.
Aí também já podemos sacar a jogabilidade da bagaça. É tudo muito rudimentar, com realismo zero: você faz quase todas as curvas sem frear. Nas mais fechadas, não precisa nem usar o freio: jogue uma marca em cima da outra (as reduções são acompanhadas de um estranho barulho de tiro de canhão), arremesse o carro nas curvas e já era.
A única gota de realismo é o fato de você precisar tangenciar, evitando ao máximo as derrapadas (com som de raio laser de filme trash dos anos 80) para não perder velocidade. Por outro lado, em chicanes e em trechos em “S” é só deixar o carro no meio da pista. O dedo de Deus faz o seu carro passar por tudo, sem perder velocidade nem se esborrachar fora da pista.
Se você se classificar na primeira corrida, ganha o direito de disputar a segunda, com pista molhada. E se ganhar, como o peão do vídeo acima fez aos 7:09, é premiado com uma série de animações – incluindo um Nelson Piquet genérico erguendo o troféu. Mas o bicho mesmo é o modo World Championship.
Campeonato mundial: a coisa fica séria
Exclusivo das versões domésticas, o World Championship é o grande barato do Super Monaco GP. A meta é você ser bicampeão mundial. As provas são disputadas nos 16 circuitos que compuseram o campeonato de 1989 da Fórmula 1. Você começa em uma equipe mediana, inspirada na Minardi, que já permite bons resultados – mas vencer, pouco provável.
Como você melhora de equipe? Desafiando os rivais. Antes de todas as corridas, você passeia por um menu no qual você escolhe o concorrente. Se ganhar dele em duas corridas seguidas, você é convidado pela equipe concorrente – interesseiros, não? Por outro lado, se perder duas vezes, você sofre um downgrade e vai parar num time abaixo do seu. Os nomes dos pilotos e das equipes são um barato – graças à falta de licença oficial. Saque só a tabela abaixo:
Algum lunático acabou gravando todo o game no modo World Championship (vídeo abaixo), do começo ao desfecho com a conquista do bicampeonato. Caso queira assistir trechos picados, cada corrida dura entre quatro e seis minutos. É interessante para vermos como são feitas as escolhas dos rivais, os desenhos das pistas e, especialmente o que acontece após a conquista do primeiro campeonato (aos 1:23:00). Quando isso acontece, você é intimado a fazer parte da melhor equipe (Madonna) – mas, ao invés de escolher o seu rival, agora você vira alvo de um talento estreante.
É o cara do vídeo abaixo: G. Ceara, inspirado no Ayrton Senna. Muita gente passou por anos achando que era impossível de se vencer dele: você seria obrigado a perder a equipe Madonna, descer para a intermediária Bullets e remar tudo de novo para conquistar o bi. Mas, na real, há chances sim. Você precisa escolher o câmbio de quatro marchas (não me pergunte por que), usar muitas zebras e não errar de forma alguma. Por alguma razão inexplicável, depois que você ultrapassa Ceara, o desempenho do Senna genérico cai assombrosamente no mesmo instante. Graças a Deus – o mesmo que o faz passar por chicanes e por “esses” sem precisar esterçar.
Falando no brasileiro, Senna foi o tema da continuação do game, lançado somente para consoles e portáteis domésticos – nada de arcade. Mas isso é assunto pra outro dia.
Esta matéria é uma amostra do nosso conteúdo diário exclusivo para assinantes, e foi publicada sem restrições de acesso a caráter de degustação.
A sua assinatura é fundamental para continuarmos produzindo, tanto aqui no site quanto no YouTube, nas redes sociais e podcasts. Escolha seu plano abaixo e torne-se um assinante! Além das matérias exclusivas, você também ganha um convite para o grupo secreto (exclusivo do plano FlatOuter), onde poderá interagir diretamente com a equipe, ganha descontos com empresas parceiras (de lojas como a Interlakes a serviços de detailing e pastilhas TecPads), e ainda receberá convites exclusivos aos eventos para FlatOuters.